1. Vamos homenagear a obra de Paulo Freire neste domingo? A melhor forma de celebrar um autor é ler o que escreveu. Que tal começar por um artigo de umas 20 páginas, no qual Freire sintetizou sua visão do mundo e apresentou com clareza cristalina seu método de alfabetização?
2. “Alfabetização de adultos e conscientização”: texto ideal para quem ainda não leu nada de Paulo Freire. Repare na singeleza do título: Freire desenvolveu um método para alfabetizar adultos. “Culpar” sua obra pelos pela crise da educação básica é pura desonestidade intelectual.
3. Na visão do mundo freiriana, a vocação do ser humano é ser sujeito de sua própria vida e também da história; afinal, “gente é pra brilhar, não pra morrer de fome”. Mais: nunca estamos completos; somos, pois, seres-estudantes por definição. E o mundo também sempre muda. Visão
dinâmica que define o seu método de alfabetização.
4. O período desenvolvimentista de JK havia esclarecido o gargalo maior da sociedade brasileira: na década de 1950 aproximadamente 50% do povo não sabiam ler! Transição alguma seria possível nesse cenário desolador. O que fazer?
5. Alfabetizar o povo. Como? Tradicionalmente, por meio de códigos de memória? Nunca! O ser humano-sujeito habita um tempo e um lugar determinados: ele é situado e não uma ilha, isolada dos demais. Assim, em idade adulta, o sujeito pode ainda não ser alfabetizado, mas isso não
significa que não tenha um saber respeitável, acumulado em sua vida.
6. A alfabetização também é um compartilhar de saberes. No ensino se transmite a tecnologia do alfabeto; no processo, adultos ensinam ao mestre suas experiências. Rua de mão dupla: como tudo que é bom na vida.
7. Eis o sentido forte do método de alfabetização com base em “palavras geradoras”: palavras derivadas do dia a dia dos adultos. O educador explora a palavra para iniciar o processo de aprendizagem. Ela é escolhida com base em “ideologia”? Óbvio que não! Freire foi muito claro.
8. A palavra geradora é selecionada por sua riqueza fonética, o que favorece a combinação de sílabas para formar palavras: arte combinatória de fonemas, assim como se constrói uma casa tijolo por tijolo, um sobre o outro. Mas a linguagem não é mesmo a morada do ser?
9. Um texto
apenas bastaria para que o “bolsonarismo bolsonarista” e o “bolsonarismo brasileiro” deixassem de odiar o pensador brasileiro mais citado no mundo. Por que tanto ódio? Havia (e há) uma razão eleitoral profunda. Vale um novo fio?
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