1. Acabou de sair o ensaio antropológico-literário do escritor Alberto Mussa: uma leitura imperdível! Há um elo inesperado entre este livro e o trabalho de @RCasara acerca dos impasses do Estado pós-democrático.
(Siga o fio.)
2. Na primeira página, Mussa esclarece a importância do estudo dos mitos que narram o “roubo do fogo”: não apenas são numerosos e se espalham por todos os continentes, como também, e sobretudo, relatam o surgimento da própria humanidade, na passagem decisiva do “cru ao cozido”.
3. Eis o dado mais fascinante: quase não há mitos do “fogo vendido” e a razão é a maior crítica ao mundo atual: o fogo roubado é sempre dado, compartilhado: dádiva, portanto! Não se pode colocar um preço no que nos faz humanos: doar ao outro o bem mais precioso: cultura, vida.
4. Se a dádiva do fogo nos tornou potencialmente humanos, sua realização plena supôs que o tabu do incesto levasse à exogamia nas relações de parentesco. Mais uma vez, a abertura ao outro é o elemento diferencial que permitiu ao homo sapiens dar um salto qualitativo inédito.
5. Oswald de Andrade intuiu essa relação na frase-programa do “Manifesto Antropófago”: “Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago”.
Claro, oposto é lema do homo bolsonarus (Renato Lessa): “Só me interessa o que é meu. Lei do homo. Bolsonarus”.
6. Porém,
no final do ensaio, o paradoxo se anuncia: só há dádiva se houver exclusão prévia — no dado do possuidor inicial do fogo roubado. Paradoxo que convoca a teoria mimética, de René Girard, como lembrado por @BarrosOctavio .
(Em breve, um fio girardiano?)
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