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Dec 14, 2021, 43 tweets

Chegamos ao terceiro e último fio sobre a história da #aids!

Neste falaremos sobre a resistência do vírus aos tratamentos antirretrovirais.

Sigam o fio: 🧶

No Brasil, o controle epidemiológico e a vigilância genômica (registro e acompanhamento de novas mutações que vão surgindo com o tempo) da Aids são feitos pelo Ministério da Saúde.

A Vigilância Epidemiológica tem por objetivo observar e analisar de forma permanente, a situação epidemiológica das IST (doenças sexualmente transmissíveis), Aids, hepatites virais e coinfecções; e articular ações destinadas à promoção, prevenção e recuperação da saúde.

No país, a notificação compulsória da Aids e da sífilis congênita teve início em 1986. Mais tarde, a infecção pelo HIV em gestantes, parturientes ou puérperas e crianças expostas ao risco de transmissão vertical do HIV passou a ser de notificação compulsória em 2000.

Em 2010, a sífilis adquirida foi incluída na Lista de Notificação Compulsória (LNC). Em 2014, a infecção pelo HIV passou a integrar a LNC e a Síndrome do Corrimento Uretral Masculino foi incluída lista nacional de doenças e agravos a serem monitorados (aids.gov.br/pt-br/gestores…).

A avaliação da prevalência de multirresistência no Brasil passa por centros que realizam a genotipagem das cepas, como o da Fiocruz, que atende a 80% dos pacientes do Rio de Janeiro. A genotipagem mostra as mutações principais do vírus e indica que drogas não são indicadas.

Já foram realizadas, pelo menos, 15 mil genotipagens, desde que o serviço iniciou. A epidemia de Aids está concentrada na Região Sudeste, principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro.

Os pacientes nestas cidades estão em tratamento há mais tempo, então é natural que haja mais indivíduos resistentes nestes locais. Existe um sistema de monitoramento e vigilância destes indivíduos, que representam 5% do universo dos pacientes em terapia.

O exame de genotipagem (determinação da sequência genética de cada mutação dos pacientes com HIV), é utilizado para detecção de mutações genômicas do HIV-1 associadas à resistência aos antirretrovirais, possibilitando uma reorientação do esquema terapêutico.

Além disso, através do exame é possível estimar a prevalência de mutações e sua associação com o estadiamento clínico, e obter dados epidemiológicos a respeito de resistência transmitida (aids.gov.br/pt-br/profissi…)

O Grupo Fleury foi o pioneiro na introdução desse exame no país e possui o maior banco de dados de mutações do HIV-1 em pacientes brasileiros. O teste detecta todos os genótipos já descritos do vírus e tem alta sensibilidade fleury.com.br/medico/exames/…

Uma característica relevante desse teste é sua capacidade em analisar adequadamente os genótipos menos frequentes, presente em cerca de 10% dos pacientes brasileiros infectados, além de genótipos recombinantes.

Esse aspecto é crítico, pois alguns laboratórios internacionais têm seus testes dirigidos apenas aos genótipos mais comuns em cada região (fleury.com.br/medico/artigos…)

A base de dados de Stanford é utilizada nas interpretações desse teste, sendo bastante robusta e acurada, contendo mais de 216.000 pessoas e quase 5 mil referências com tratamentos utilizados de acordo com o genótipo e/ou genótipo-fenótipo de pacientes (hivdb.stanford.edu).

As mutações presentes nesse banco incluem proteases, enzimas transcriptase reversa e sequências de vírus HIV-1 e HIV-2, com o perfil das mutações e esquemas de tratamentos mais adequados.

O Ministério da Saúde passou a oferecer o serviço de genotipagem aos pacientes com HIV e falha terapêutica aos antirretrovirais no país a partir de 2001, através do SISGENO - Sistema de Controle de Exames de Genotipagem (sisgeno.aids.gov.br)

Com a genotipagem é possível entender melhor qual esquema terapêutico pode ser mais benéfico em cada caso. O software de Interpretação Brasileira de Genotipagem (algoritmo.aids.gov.br) que auxilia na interpretação das mutações associadas à resistência aos antirretrovirais.

O teste de genotipagem deve sempre ser interpretado em conjunto com os dados clínicos e história prévia do uso de antirretrovirais e a amostra de sangue deve ser coletada na vigência do esquema terapêutico que está sendo avaliado.

Não existe cura para a Aids, mas uma adesão estrita aos regimes antirretrovirais (ARVs) pode retardar significativamente o progresso da doença, bem como prevenir infecções secundárias e complicações.

No entanto, nos últimos anos, a OMS tem alertado sobre o aumento da resistência das pessoas que vivem com HIV a essas drogas de controle da doença disponíveis no mercado.

O vírus HIV, por possuir RNA como material genético, se replica em poucos segundos, o que facilita a ocorrência de erros. Desses erros são geradas mutações, que podem oferecer resistência às drogas utilizadas para conter a infecção.

Os vírus com essas mutações apresentam vantagem, pois se multiplicam rapidamente, sem sofrer com a ação do medicamento. Então, no momento em que surge uma forma resistente do vírus, ela geralmente se torna preponderante.

A resistência às drogas anti-HIV é fruto da habilidade do HIV em adquirir mutações que lhe permitem se reproduzir na presença de drogas antirretrovirais. As consequências da resistência a drogas incluem ineficácia do tratamento, transmissão de HIV resistente, +

+ bem como um aumento direto e indireto nos custos dos pacientes aos sistemas de saúde, devido a necessidade de tratamentos mais caros, complexos e tóxicos.

Outro fator importante é a adesão do paciente ao tratamento antirretroviral . Quando há uma falha na regularidade e no horário de tomar os medicamentos, a pressão da droga sobre o vírus é reduzida, facilitando o surgimento de mutações de resistência.

Até o final de 2020, a estimativa da OMS é que 27,5 milhões de pessoas tenham recebido as terapias antirretrovirais no mundo todo. A resistência às drogas anti-HIV pode comprometer a efetividade delas na redução da incidência de HIV e na morbimortalidade associada ao HIV

O Relatório 2017 de Resistência a Medicamentos para HIV, da OMS, mostra que em 6 dos 11 países inspecionados ​​na África, Ásia e América Latina mais de 10% das pessoas que iniciaram a terapia antirretroviral apresentaram uma cepa de HIV resistente a alguns dos medicamentos

Uma vez que o limite de 10% foi atingido, a OMS recomenda que esses países revisem urgentemente seus programas de tratamento de HIV
(who.int/news-room/fact…).

Desde 2019, a OMS recomenda o uso do dolutegravir como tratamento preferencial de primeira e segunda linha para todos os grupos populacionais. É mais eficaz, mais fácil de administrar e tem menos efeitos colaterais do que outras drogas atualmente em uso.

O dolutegravir também está associado a um menor desenvolvimento de resistência pelo vírus, apoiando assim sua durabilidade e eficácia em longo prazo.

Desde que as pesquisas foram implementadas, muitos mais países iniciaram a transição para regimes contendo dolutegravir, proporcionando às pessoas uma melhor opção de tratamento e fortalecendo a luta contra a resistência aos medicamentos (paho.org/pt/noticias/24…).

Com base nas descobertas mais recentes de pesquisas realizadas em 10 países na África Subsaariana, quase metade das crianças recém-diagnosticadas com HIV apresentam resistência pré-tratamento.

Essas descobertas destacam a necessidade de acelerar a transição contínua e a importância do uso da terapia antirretroviral baseada em dolutegravir em crianças pequenas o mais cedo possível.

A profilaxia pré-exposição (PrEP) é uma opção de prevenção eficaz para indivíduos vulneráveis à infecção por HIV, como parte das abordagens de prevenção combinada. É mais provável que a resistência ocorra quando a PrEP é iniciada na infecção aguda por HIV não diagnosticada.

Por isso, é fundamental que o teste de HIV seja feito antes de iniciar a PrEP e que novas testagens sejam feitas regularmente.

Ainda não sabemos exatamente quanto o uso da PrEP aumentará o fardo da resistência aos antirretrovirais. Mas sua contribuição será pequena, se comparada ao impacto da falta de apoio para adesão e teste regular de carga viral em pessoas que vivem com HIV (aidsmap.com/about-hiv/prep…).

À medida que os países implementam a PrEP, deve-se realizar a vigilância de resistência do HIV aos medicamentos nas pessoas que se infectam apesar do uso da PrEP.

“A resistência aos medicamentos antimicrobianos é um desafio crescente para a saúde global e o desenvolvimento sustentável e combatê-la é fundamental para o objetivo global de acabar com a AIDS até 2030”, disse Tedros Adhanom Ghebreyesus, Diretor-Geral da OMS.

Impedir a transmissão e minimizar o espalhamento da resistência às drogas antirretrovirais é um aspecto crítico de responsabilidade global e requer ação coordenada entre os setores governamentais e todos os níveis da sociedade. Além disso, é preciso fazer o tratamento adequado.

Hoje, já são mais de 20 medicamentos disponíveis para tratar a infecção por HIV. É importante fazer a combinação exata para cada paciente, de modo a manter a supressão máxima do vírus, ou seja, carga viral indetectável (agencia.fiocruz.br/pesquisador-es…).

As interações medicamentosas também são importantes. Drogas como ibuprofeno devem ser evitados durante o uso do PrEP, pois podem diminuir a concentração dos antirretrovirais no sangue, reduzindo eficácia e facilitando o surgimento de vírus resistentes.

Chegamos ao fim dessa série! Esperamos ter esclarecido os pontos importantes da história da #aids! Quaisquer dúvidas, nos chamem!

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