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Jan 10, 2022, 12 tweets

Em 2018, Polônia e Senegal jogaram pela 1ª fase da Copa do Mundo, com comentários da imprensa sobre como o jogo senegalês era mais “físico e veloz”, o que garantia a vantagem sobre os poloneses.

Mas essas características estavam lá mesmo ou é só o que se diz de times africanos?

Com o início da Copa Africana de Nações, novamente ouvimos comentários sobre “força física” e “velocidade” dos jogadores do torneio, e pouco sobre organização tática e jogo coletivo.

Hora de relembrar um estudo divulgado no final do ano passado, no blog FiveThirtyEight.

A Sportlogiq, empresa canadense que trabalha com dados esportivos, possui uma tecnologia de captura de movimentos que consegue reproduzir o que jogadores fazem em campo em animações 2D.

Nelas, os jogadores podem ser visualizados como bonequinhos iguais, sem diferença de cor.

Assim, Sam Gregory, da Sportlogiq, e Devin Pleuler, diretor analítico do Toronto FC, mostraram dois clipes de Polônia e Senegal para audiências distintas. Um era a filmagem normal do jogo; o outro, a versão animada, com bonequinhos, sem maiores detalhes de quem eram. O resultado?

Entre os que viram o jogo normal, 70% disseram que Senegal era um time mais “atlético ou rápido”.

Mas entre os que viram a animação, 62% disseram que a Polônia, uma seleção composta apenas por jogadores brancos, era mais. Os espectadores não sabiam de que times se tratavam.

Ao remover a cor da pele, somem também os estereótipos normalmente utilizados para fazer referência a jogadores negros. No caso de seleções da África subsaariana, quem se apóia nos estereótipos crava: a equipe inteira é “forte”, “física”, “corredora”, pois só tem jogadores negros

O estudo também mostrou que gênero afeta a percepção do esporte: jogos da NWSL, liga feminina dos EUA, e da League Two, 4ª divisão inglesa, foram mostrados da mesma forma, com clipes normais e animações. Os que viram animações diziam que o jogo feminino era de maior nível técnico

O contrário, porém, da percepção daqueles que viram os clipes normais.

Como lembrou o FiveThirtyEight, apesar de os EUA terem uma seleção que é a atual bicampeã mundial, as jogadoras da NWSL ganham em média 25% do que recebem os atletas da League Two.

É impossível negar que estereótipos afetam a indústria do futebol.

O belga Romelu Lukaku, hoje no Chelsea, já disse no passado em entrevista ao New York Times ter ouvido que o Manchester United não deveria contratá-lo porque ele, apesar de “forte”, não é “inteligente”.

Isso sem contar os casos de racismo chocante que vivenciou em seu tempo na Inter de Milão, como registramos aqui, sempre recorrendo ao estereótipo de que ele seria um "grandalhão corredor":

Para uma cobertura profunda da Copa Africana de Nações, vamos sempre recomendar o @pontalancapdl.

Mas a imprensa esportiva nacional que não é especializada em África deve ser cobrada: que transmitam e repercutam a CAN de forma respeitosa, sem se escorar em estereótipos vazios.

O Copa Além da Copa fala de esporte, política, cultura, história e sociedade.

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