O magnata da mídia brasileira Roberto Marinho recepciona oficiais das Forças Armadas na sede do jornal O Globo. Recompensado com apadrinhamento e múltiplas concessões por seu apoio irrestrito à ditadura militar, Marinho construiu um dos maiores impérios midiáticos do mundo.
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Os Marinho são a família mais rica do Brasil, com um patrimônio calculado em mais de 150 bilhões de reais, administrado pelos filhos do patriarca — João Roberto, José Roberto e Roberto Irineu — e ampliado continuamente graças aos lucros anuais gerados pelo conglomerado.
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O império dos Marinho compreende a Rede Globo, 2ª maior emissora do mundo, e um vasto conjunto de empresas de mídia que garantem à família o controle sobre as informações consumidas pelo público, dando-lhe enorme influência sobre a percepção da realidade do povo brasileiro.
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Malgrado o apelo à mitologia meritocrática do "self-made man" frequentemente emprestado ao patriarca do clã, a influência da família persiste há séculos. O tetravô de Roberto Marinho era Antonio Bueno Freire, fidalgo da coroa portuguesa e descendente da nobreza sevilhana.
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Os Bueno integravam a elite paulista desde o séc. XVI. Do clã descendem, por exemplo, Amador Bueno, gestor da Capitania de São Vicente, e o bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhanguera. Também possuíam ligações consanguíneas com Afonso Henriques, rei de Portugal.
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Roberto Marinho herdou seu pai, Irineu, a posse de dois jornais — A Noite e O Globo. Após assumir a direção dos periódicos em 1931, adotou uma política editorial favorável às oligarquias agrárias, chegando a apoiar o levante armado dos paulistas contra Vargas em 1932.
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O jornal manteve forte oposição ao governo Vargas, defendendo a adoção de um programa econômico liberal baseado no modelo agroexportador e na submissão ao capital estrangeiro, mas apoiou incondicionalmente a repressão governamental contra os comunistas.
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A alegada "defesa dos valores liberais" também foi entremeada pela empolgação do jornal com ascensão do regimes fascistas na Europa. O Estado Novo mostrou-se um período frutífero para os negócios de Roberto Marinho, que expandiu seu conglomerado inaugurando a Rádio Globo.
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Apesar disso, Marinho apoiou a União Democrática Nacional (UDN), agremiação conservadora que se opunha enfaticamente ao que chamava de "populismo getulista". Com a vitória de Vargas em 1950, Marinho iniciou uma oposição inflamada, tentando boicotar o governo eleito.
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O jornal O Globo coordenou a campanha contra a criação da Petrobrás, ao passo que a Rádio Globo tornou-se porta-voz dos da retórica golpista. A intensa pressão midiática contribuiu para o suicídio de Vargas. Enfurecida, a população culpou o jornal pela morte do mandatário.
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Pouco tempo depois, O Globo se envolveria em uma nova conspiração golpista, agora contra o governo de João Goulart. Roberto Marinho participou ativamente da campanha de desestabilização promovida pela oposição, empresários e agentes externos e apoiou o golpe de 1964.
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Após saudar a derrubada de Goulart como "restauração da ordem democrática", Marinho passou à colaboração servil com a ditadura militar, que perduraria por mais de duas décadas. A subserviência aos golpistas foi generosamente gratificada.
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Em 1965, um ano após o golpe, Marinho começava a operar a TV Globo, criada com a concessão do canal 4 do RJ. No ano seguinte, obteve concessão do canal 5 de SP. Em 1968, ganhou o canal 12 de BH. Novas concessões seriam ofertadas em Brasília e Recife, criando a Rede Globo.
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Visando obter recursos para operar a rede de televisão, Marinho firmou um acordo de joint venture com o conglomerado de mídia estadunidense Time-Life. O acordo previa que a Time Life financiaria os investimentos em troca de uma participação de 49% nos negócios da Globo.
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A legislação, entretanto, proibia a participação estrangeira em veículos da mídia nacional. Uma CPI instalada para analisar a parceria entre a Globo e a Time-Life chegou a dar um parecer desfavorável à joint venture, mas o regime militar interveio para proteger o acordo.
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A legislação seria alterada em 1967 para se adequar ao modelo de negócios da Globo.
Um episódio obscuro e até hoje envolto em controvérsia serviria para que a Globo ganhasse projeção nacional a partir de 1969.
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Em um intervalo de apenas 3 dias, os estúdios da Globo, Record e Bandeirantes em SP foram destruídos em incêndios criminosos. Os incêndios enfraqueceram as principais concorrentes da Globo, ao mesmo tempo em que fortaleceram a emissora, a única que estava assegurada.
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Não por acaso, funcionários da Globo como Boni e Walter Clark comemoraram o incêndio, que rotularam como "a melhor coisa que poderia acontecer". Com o declínio das concorrentes e a falência das TVs Tupi e Excelsior, a Globo se firmaria com maior emissora do país.
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Verbas publicitárias e apoio institucional da ditadura ajudariam a empresa a ganhar projeção e dominar o mercado publicitário. O apoio incondicional à ditadura prosseguiria ao longo dos anos 70, com a emissora encobrindo as torturas e os assassinatos nos porões do regime.
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Como frisou Médici, no noticiário da Globo "o mundo estava um caos, mas o Brasil estava em paz". A Globo foi o conglomerado que mais resistiu às pressões pela redemocratização e optou por manter seu alinhamento com a ditadura mesmo após o fim da censura prévia em 1976.
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Na eleição p/ o governo do RJ em 1982, a Globo participou de uma tentativa de fraude eleitoral visando impedir a vitória de Brizola e favorecer o candidato do regime, Moreira Franco. A empresa ajudou a encobrir a manipulação da contagem de votos perpetrada pela Proconsult.
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Outra manipulação exemplar da contrariedade da emissora em relação à abertura política ocorreu em janeiro de 1984, quando a Globo noticiou que um comício pelas Diretas Já, organizado na Praça da Sé, em São Paulo, seria uma comemoração ao aniversário da cidade.
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Em 1989, durante a 1ª eleição direta para presidente desde o fim do regime, a Globo manipulou os trechos do último debate presidencial, visando favorecer Collor e prejudicar Lula. A manipulação foi admitida pelo próprio diretor da Globo, Boni.
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O episódio seria o marco inicial da cobertura jornalística antipetista da emissora, que se intensificaria enormemente nas três décadas seguintes, à medida em que o PT logrou angariar crescente apoio popular e obteve sucessivas vitórias eleitorais.
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Em 1993, as polêmicas e controvérsias envolvendo Roberto Marinho e a Rede Globo foram temas do documentário "Muito Além do Cidadão Kane", dirigido por Simon Hartog e veiculado pela a rede de televisão britânica Channel Four.
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Roberto Marinho pressionou a justiça e conseguiu proibir a exibição do documentário no Brasil. A Rede Globo também tentou comprar os direitos de exibição do documentário, visando impedir legalmente sua exibição, mas Hartog se negou a vender.
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Roberto Marinho morreu em 2003, mas a Globo segue perpetuando seu legado de manipulação. A criminalização dos governos petistas, o apoio ao golpe de 2016, heroicização de Sergio Moro e Lava Jato e a radicalização da direita tiveram a Globo como principal agente.
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Além das controvérsias políticas, a Globo também se envolveu em vários escândalos de corrupção, desde o conluio com ACM p/ manipular as ações da multinacional japonesa NEC nos anos 80 até a fraude fiscal utilizada para adquirir os direitos de transmissão da Copa de 2002.
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A Globo foi acusada inúmeras vezes pela prática de lavagem de dinheiro, pagamento de propina, sonegação de impostos. Em 2013, a empresa foi condenada por fraude contábil de 158 milhões de reais em dívidas com o JP Morgan, o que lhe custou uma multa de 730 milhões de reais
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