Pensar a História Profile picture
"Os homens fazem a sua própria história, mas não a fazem segundo a sua livre vontade". Karl Marx

Nov 30, 2022, 22 tweets

Há 43 anos, em 30/11/1979, ocorria em Florianópolis a "Novembrada", marco da luta contra a ditadura militar. A manifestação popular desmoralizou o general João Baptista Figueiredo, tornando-se o maior escracho público de um presidente registrado no país até então.

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O descontentamento popular em relação à ditadura militar agravou-se enormemente em meados dos anos 70, sobretudo após o esgotamento do chamado "milagre econômico".

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O aumento da inflação, do desemprego e do custo de vida e as políticas de arrocho salarial geraram grande insatisfação entre as classes operárias urbanas, levando ao ressurgimento do movimento grevista.

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Buscando recuperar apoio dos setores médios, o regime militar reforçou o processo de distensão das medidas autoritárias, dando início à chamada "abertura política".

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Para simular a existência de respaldo popular à ditadura, João Baptista Figueiredo, o último dos generais-presidentes, adotou o costume de visitar eventos organizados por governadores e prefeitos aliados, com claques de bajuladores previamente selecionados.

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Combinou-se a realização de um desses atos na capital de Santa Catarina, Florianópolis, organizado pelo governador biônico Jorge Bornhausen, pelo ex-prefeito de Florianópolis, Esperidião Amin, e pelo novo prefeito, Francisco de Assis Cordeiro.

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Milhões de cruzeiros foram gastos nos preparativos para recepcionar o general — incluindo a confecção de uma placa homenageando Floriano Peixoto e a compra de 3,2 toneladas de carnes e 6 mil litros de chope, para um churrasco a ser realizado em Palhoça.

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A cidade inteira foi enfeitada com faixas e bandeiras do Brasil. Artistas foram pagos para compor canções exaltando Figueiredo e 600 mulheres foram contratadas como recepcionistas do evento. Para a população, os gastos com a recepção soaram como um escárnio.

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Em apenas uma semana, os preços do gás, do leite e do feijão haviam subido mais de 50% e a taxa do desemprego havia aumentado. Encampando o sentimento de indignação da população, estudantes da UFSC lançaram uma nota condenando os gastos extravagantes do regime.

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Milhares de panfletos foram distribuídos, convocando o povo para realizar um protesto contra a visita de Figueiredo e a ditadura militar. Em 30 de novembro de 1979, Figueiredo chegou a Florianópolis para participar do evento autocongratulatório.

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No centro da cidade, um pequeno grupo de apoiadores se esforçava para demonstrar empolgação, ladeado por crianças uniformizadas acenando com bandeiras do Brasil. A multidão que aguardava em frente ao Palácio Cruz e Sousa, entretanto, não escondia sua insatisfação.

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Quando Jorge Bornhausen discursou atribuindo ao povo de Santa Catarina a "enorme alegria de receber o presidente do Brasil, João Figueiredo", a plateia o contestou com gritos de "mentira" e uma estrondosa vaia.

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Diante do general, os manifestantes desfraldaram cartazes e faixas com mensagens denunciando a fome e entoaram gritos de guerra: "chega de canhão, o povo quer feijão", "chega de sofrer, o povo quer comer".

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Desconcertado, Figueiredo partiu para o compromisso seguinte, caminhando até o Bar Ponto Chic (ou Senadinho), onde se encontraria com correligionários que o acompanhariam ao churrasco com empresários e parlamentares da ARENA no ginásio de Palhoça.

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Os manifestantes seguiram vaiando. Quando o coro começou a entoar gritos de "O povo não tem medo, abaixo Figueiredo", o general não se conteve e provocou a multidão com um gesto obsceno. Inflamada, a população reagiu com gritos de "canalha", "cavalo" e "filho da p*ta".

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O presidente retrucou: "Minha mãe não está em pauta". Figueiredo chutou um estudante e ameaçou partir para cima do jovem com os punhos cerrados, mas foi contido pelos seguranças. Aos berros, asseverava que não toleraria "baixezas" no "seu país".

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Um grupo de estudantes derrubou e incendiou o pedestal de concreto com a placa homenageando Floriano Peixoto, que Figueiredo havia inaugurado. Em seguida, arrancaram a placa, exibindo-a como troféu.

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A guarda presidencial passou a insultar e agredir os manifestantes, dando início a um grande tumulto. As autoridades mobilizaram então Polícia Militar para debelar o protesto. Os manifestantes foram reprimidos com grande violência e muitas pessoas ficaram feridas.

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Vários estudantes foram presos, dos quais sete foram processados pela Lei de Segurança Nacional — Adolfo Luiz Dias, Amilton Alexandre, Geraldo Barbosa, Lígia Giovanella, Marize Lippel, Newton Vasconcelos Júnior e Rosângela Koerich de Souza.

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A TV Cultura, que fazia a cobertura do evento, teve todos os seus materiais apreendidos. Novas prisões de estudantes ocorreram nos dias seguintes, embasadas em delações de colegas simpáticos ao regime.

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Com o protesto abafado, Figueiredo seguiu até Palhoça para dar continuidade à programação, sem conseguir esconder a indignação com o escracho sofrido. A Novembrada se tornou um marco no processo de abertura política, sinalizando que a população perdera o medo do regime.

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Na semana seguinte, foram organizados dois atos e uma greve de estudantes, com milhares de pessoas exigindo a libertação dos manifestantes. Os estudantes foram soltos dias depois. Foram também inocentados das acusações de infringir a Lei de Segurança Nacional.

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