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Acho que quero é pode ser legal (além de ajudar alguém) brincar disso:
- 1 like = 1 informação sobre ser um quadrinista e ilustrador com síndrome do pânico.
01. Fui diagnosticado com síndrome do pânico em 2012, ainda como bancário e aos 37 anos.
02. Consegui sair do banco e publiquei minha primeira HQzine “Luzcia, a Dona do Boteco”. Isso depois de ficar quase 20 dias com sensações de loucura e agorafobia.
03. Síndrome do pânico deve ser diagnosticada por um excelente médico psiquiatra e o tratamento deve ser seguido com seriedade.
04. Antes de ir ao psiquiatra me consultei com médicos(as) de todas as especialidades e minha reclamação era que estava com algum problema entre minha garganta e meu intestino.
05. Para esses médicos, não havia nada de errado mas eu, sentia que alguma coisa não estava certa. Eu tinha alguma coisa entre minha garganta e meu intestino. Um detalhe é que quase todos os nossos órgãos estão basicamente entre a garganta e o intestino.
06. No final de 2011, passei quase uns 25 dias assim:
- chegava ao meu trabalho e subia ao banheiro para vomitar;
- logo que a agência fechava o atendimento ao público, às 16h, tinha diarreia.
07. Um dia sai para visitar um cliente (era gerente PJ) e aproveite para pegar as assinaturas de renovação de linha de crédito. Chegando lá, a presidente da instituição perguntou se estava tudo bem comigo. Ela achou que eu estava muito pálido e com os olhos vermelhos.
08. Disse que estava bem, “ótimo”, mas ela insistiu e pediu para chamar uma enfermeira da empresa. Na realidade, eu achava que estava bem, normal.
09. Foi então que as coisas ficaram turvas. Lembro (em flashes, em fragmentos) de uma enfermeira chegar na sala da presidência, falar comigo, aferir minha pressão, verificar minha temperatura. Mas não lembro o que falei com elas
10. Não me recordo de me despedir das pessoas. Lembro que conferi se o contrato estava assinado corretamente e já estava seguindo em direção onde estava meu carro.
11. Entrei no carro, afrouxei minha gravata e comecei a chorar compulsivamente. Sentia um medo e desespero que jamais havia experimentado na vida. Suava muito, chorava muito. Lembro de ligar o carro em frente a empresa e sair com o ar condicionado no máximo de gelado e força.
12. Um adendo importante: eu sentia minha boca seca, muito seca durante muito tempo, até antes de ir me consultar com os mais diversos médicos(as).
13. Não recordo de chegar ao pronto socorro do meu plano de saúde. Lembro que estava lotado, eu chorando compulsivamente, lembro da atendente que faz o pré atendimento, de sentar junto dos que esperavam e de, “instantaneamente”, chamarem meu nome para ser atendido.
14. Já sendo atendido, lembro do médico perguntar se eu havia usado algum tipo de droga pois estava com 170 batimentos e minha pressão arterial 5 por alguma coisa. Neste momento parei um pouco de chorar e disse que eu só estava trabalhando.
15. Essa foi minha primeira crise. Ainda não sabia o que tinha mas depois fui saber que foi minha primeira crise de pânico.
16. Eu saí da empresa com o contrato assinado quase 12h e foi somente às 16h (ou um pouco mais) que consegui avisar o pessoal do banco onde estava. Avisei minha esposa também.
17. Fizeram um eletrocardiograma enquanto eu avisa que não tinha nada no coração, nenhum problema cardíaco. Estava em uma sala muito gelada, sem camisa, chorando e pela primeira vez tendo a sensação que minhas mão estavam com tamanhos diferentes.
18. Os(as) enfermeiros e enfermeiras pediam para eu ficar tranquilo, que haviam me dado um calmante (que eu nem percebi tomar) e iria me dar um outro pois o médico havia recomendado. Após esse segundo calmante as coisas ficaram mais claras porém confusas.
19. Agora era meu peito que não se mexia enquanto eu respirava. Gente, tudo isso eram sensações e percepções que não estavam funcionando de acordo pois estava em crise.
20. Tive que ficar afastado do banco por 10 dias. Pouco me lembro de algumas coisas nesse período. Lembro que em uma manhã falei para minha esposa que iria dar uma volta de moto. Ela foi reticente para eu não ir pois não estava bem. Não ouvi.
21. Lembro que liguei a moto em Araraquara, sai para dar a volta, comecei a chorar novamente e de repente estava na casa dos meus pais em Ribeirão Preto. Depois fiquei sabendo que minha mãe ligou para minha esposa dizendo que eu apareci lá de moto e minha cara não estava normal.
22. Enfim, voltei a trabalhar, passei muito mal na agência fui para a cozinha do banco, chorei, chorei e tive que ir embora novamente. Neste mesmo dia, perto da 1h da manhã, tive outra crise e minha esposa, sabiamente, pediu para eu pedir demissão do banco no dia seguinte.
23. Ouvi minha esposa e pedi demissão por várias vezes. Meus superiores não aceitavam pois sempre fui um funcionário competente em minha atribuições. Sempre me afastavam.
24. Já estava com acompanhamento psiquiátrico quando meus superiores chegaram com a proposta de me manda embora. Assim receberia todos os meus direitos. Foi uma atitude muito respeitosa da parte deles e da instituição.
25. Pronto. Desligado da empresa, tratando da minha síndrome do pânico, tive a ideia de fazer minha primeira HQ. Foi um fanzine chamado "Luzcia, a Dona do Boteco", que você pode ler agora no meu blog dimensaolimbo.com
Foi a melhor coisa que poderia ter feito.
26. Mesmo fazendo quadrinhos, desenhando e trabalhando com minha arte, ainda sentia os sintomas do doença. Ir para o meu primeiro evento de quadrinhos como autor se revelou uma imensa dificuldade. Em todos os aspectos. A experiência foi no @fiq_bh de 2013.
27. Percebi que não conseguiria viajar sozinho e fechado dentro de um ônibus e minha esposa, como sempre, me apoiou 100% e me acompanhou e até hoje me acompanha pela dificuldade que ainda enfrento de ir para qualquer evento.
28. Até hoje, para ir aos eventos de quadrinhos, aviso meu médico com antecedência, levo meus medicamentos, minha esposa me acompanha e depois de anos de tratamento, consigo lidar bem com as pessoas, com o aglomerado de pessoas e tudo mais que um evento proporciona.
29. Meu psiquiatra sempre me incentivou a praticar Yoga, minha esposa é professora de Yoga e comecei a praticar a mais de três anos. Foi e é o que mais me ajuda no tratamento.
30. Aliás, o tratamento vária de pessoa para pessoa. No meu caso, ainda preciso acompanhamento bimestral médico e hoje entendo que um enfermidade médica é como quebrar uma perna ou mesmo nascer com diabetes e ter que tratar para sempre.
31. Preconceito perante enfermidades mentais é algo muito comum e deve ser enfrentado, com ajuda e entendimento.
32. Enfim, se perceber que algo não está legal com você, procure ajuda. Não deixe ou protele com sua saúde com eu fiz. Quem sabe se eu tivesse procurado ajuda antes não chegasse ao ponto que cheguei. Mas isso são suposições.
33. E supor é a pior coisa que se pode fazer para acionar um gatilho de ansiedade (pelo menos pra mim).
34. Toda vez que decido que vou publicar uma nova HQ, nunca me importo se será melhor ou pior que a anterior. A anterior é a anterior. A que virá é a que virá. Uma provável comparação pode ser feita pelo leitor, por críticos, mas não será por mim.
35. Ao autor cabe entender que a partir do momento que um trabalho é exposto, ele (o autor) e o trabalho estão abertos a opiniões e tudo mais. Faz parte do processo.
36. Tratando minha síndrome do pânico desde 2012, hoje entendo vários gatilhos que podem me desestabilizar. Pensar no que vão achar sobre meu futuro trabalho é um deles e assim vou trabalhando e levando minha vida da melhor forma possível.
37. Praticar #Yoga rotineiramente traz o benefício de aprender a respirar direito e por consequência, respirar melhor. Existem vários “pranayamas” que auxiliam no processo de baixar a ansiedade, aterrar e manter o autocontrole.
38. Adendo: sou praticante de #Yoga. Não tenho conhecimentos para ensinar nada sobre isso. Apenas enfatizo que algumas técnicas respiratórias (conhecidas como “pranayamas”), ajudam muito no controle da minha ansiedade.
39. Como ilustrador, tenho prazos. Prazos podem gerar ansiedade e trabalho sempre com a fórmula: Arte = P - 3D.
Sendo P (data de entrega ou prazo) e D (dias). Assim nunca furo uma data e ainda tenho tempo de alguma alteração repentina.
40. Voltando aos eventos de quadrinhos e citando como exemplo a última @CCXPoficial, mesmo estando ok, bem e centrado, algo que me deixa tranquilo é levar minha medicação comigo, na minha mochila. Sei que não passarei mal mas ter o medicamento próximo é tranquilizador.
41. E sobre medicamentos, sempre que posso e consigo, a critério médico, tentamos reduzir ao máximo a dosagem. Hoje tomo uma dosagem muito pequena.
42. O que não garante que daqui um período eu possa precisar aumentar a dosagem. É quase uma senoide.
43. Ninguém tem obrigado de conhecer o gráfico de uma curva senoide.
44. Sobre os gatilhos: se já percebi que alguma coisa é um gatilho para acionar minha ansiedade, trabalho para evitá-lo. Nem sempre é possível e assim, desta forma, tento desconstruir, decifrar e aplicar as conversas que tenho com meu médico.
45. Um exemplo juntando gatilhos e Festival de Quadrinhos. Pode parecer loucura mas assim que localizo o local onde ficarei no festival, eu faço uma varredura e vejo e memorizo onde estão as saídas de emergência, extintores, atendimento médico, rotas de fuga. Parece loucura?
46. Mas é justamente isso. É algo que para alguns pode parecer loucura mas para outros, um alívio. Descubra seus gatilhos e leve para seu médico. Ou melhor, descubram juntos os gatilhos que podem gerar ansiedade, tristeza, raiva, medo e tantos outros sentimentos.
47. Então, para enfatizar e fechar essa thread ou o fio da meada:
a) Transtorno mental não é frescura;
b) Não tenha receio de pedir ajuda;
c) Se tem preconceitos sobre transtornos mentais, de ansiedade, depressivos, está mais do que na hora de acabar com eles. Assim (...)
48. (...) como os que citei, todo preconceito deve ser extinguido;
d) Procure ajuda médica especializada. Use o raciocínio do braço quebrado: se você quebrar o braço não vai ficar chorando de dor, vai?
49. (...) Então, não vai! Vai procurar ajuda na hora, vai ao pronto socorro, fará os procedimentos, tomará os remédios, fará fisioterapia até o braço machucado ficar o melhor possível.
50. Um beijo, um abraço e procure ajuda ♥️
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