- Oiii. Vamos marcar aquele café?
- Oi, linda. Tô meio apurado com um job, mas passa aqui no escritório.
Há meses que ele me evita. É engraçado pensar que fui uma de suas últimas clientes. Eu poderia descrever esta relação de mil maneiras poéticas e subjetivas, mas não quero.
Parece que foi uma vida inteira. Encontrei o contato pela internet, mas descobri que seu treinamento fora apadrinhado pela mesma amiga que me iniciou na terapia orgástica. Como estou nesta fase de conexão com o universo, achei que era um ótimo sinal.
Não tenho problema com nudez e muito menos com o toque, mas a experiência de ter seu corpo tocado e massageado com óleos ao som de música indiana e todo um ambiente preparado para ampliar suas sensações é algo que todos deveriam experimentar.
Há técnicas e há regras. O terapeuta deve ser respeitado. O despertar da sua bioenergia e o alinhamento dos chacras é feito através da energia sexual, mas existe um distanciamento, a assepsia dos instrumentos usados, as luvas de látex branco e o uso da respiração circular.
A experiência com minha amiga me deixou tranquila para procurar outras energias. Mesmo que eu tenha gozado repetidamente graças a ajuda dela, posso dizer que a conexão que veio através do orgasmo transcendeu meu corpo e iluminou minha mente.
Você pode achar tudo isso bobagem, mas eu era cética e hoje sinto na minha pele e na minha alma as consequências de tudo isso. Depois daquela primeira vez a minha sensibilidade mudou completamente e tive sonhos que pareciam romper o véu de Morpheus.
Então quando eu procurei outro terapeuta, meio que eu já sabia o que esperar. Acontece que eu tava meio sem grana e por isso optei por uma sessão avulsa só para conhecer o profissional.
Nada poderia ter me preparado para o que veio depois.
Ele estava no portão da chácara me esperando. Desci do carro e fiquei tonta assim que dei de cara com aquele sorriso em um homem com pouco mais dez anos do que eu, mas com uma beleza que não costuma me agradar. Alto, magro demais para o meu gosto e uma delicadeza quase feminina.
- Bem-vinda.
- Obrigada.
- Vamos entrando. Cuidado com o degrau.
Casa de cinema. Paredes de vidro e a natureza explodindo em vida. Araucárias, passarinhos, flores por todos os lados. O quarto de atendimento muito bem arrumado.
O quarto tinha o espaço preciso para abrigar o necessário. Um retângulo ladeado por vidro com uma vista linda para uma fonte, uma parede de pedras cinzas rústicas, a cama centralizada contra a parede. O chão acarpetado repleto de almofadas e no lado oposto, incenso e música.
- Tire os sapatos, fique à vontade. Vamos conversar um pouco.
Sentada no chão e de frente para ele, eu tentei manter meu foco enquanto absorvia o ambiente. Adoro o cheiro de incensos e o que me deixou mais tranquila foi a voz calma e o olhar sereno e despido de julgamentos.
Foi fácil abrir minha vida para aquele estranho, mas em menos de 10 minutos eu já não o via como tal.
- Eu gostaria que você fosse para o banheiro e tirasse a roupa. Há um roupão lá para você. Leve o tempo que precisar. Estarei aqui esperando.
Nessa hora o meu peito parecia abrigar um coelhinho assustado. Subia e descia rapidamente. Procurei acalmar minha respiração e segui as instruções. O quarto era uma suíte e deduzi que o banheiro estava preparado para atender casais, pois tinha dois chuveiros.
Despida das minhas roupas e de quaisquer preconceitos, vesti o roupão e voltei ao ambiente morno e acolhedor do quarto.
Ao sentar na cama, percebi que sob o lençol haviam pedras de rio. Sobre a cama, uma lâmpada em um pedestal para aquecer o ambiente.
- Agora vou me preparar.
Não fiquei impressionada quando ele voltou de roupão e boxer preta. Observei o tom dourado da sua pele e os músculos delineados característicos de um atleta, mas ele tratou de me ocupar rapidamente.
- Vamos sentar um de frente para o outro e fazer um exercício de respiração.
- Assim?
- Isso. Estenda as suas mãos sobre as pernas e fica mais fácil se você escolher um dos meus olhos para se concentrar.
Queria dar risadas. Juro. Eu achei tudo muito engraçado e teatral. Ele sobrepôs uma das mãos sobre a minha e fez o inverso do outro lado. Nadamos no ar.
E aos poucos eu me sentia mais leve. Oxigenar o cérebro tem esse efeito na gente. A música foi tomando conta e no tempo de uma canção a nossa respiração estava sincronizada. Ele soltou meus braços delicadamente ao lado do meu corpo e desamarrou meu roupão. Senti sua surpresa.
Ao chegar, usava um vestido solto e com mangas. O decote bem fechado é o comprimento nos joelhos. As formas do meu corpo estavam bem evidentes. Não sou nada atlética como ele, mas a pele estava escondida. Ao tirar o roupão, viu as cores espalhadas pelo meu corpo nas tatuagens.
Sabe quando o sorriso quer brotar e você segura? Eu só tive tempo de ver aquela escapadinha de leve e logo ele se concentrou e disse num tom sussurrado e ao mesmo tempo firme e quase frio:
- Deita!
Ele me guiou para deitar olhando para o teto e, enquanto isso, levantou.
Com meu terapeuta aos pés da cama, parei de olhar e deixei a mente vagando. A primeira fase é de toques bem sutis. Pontas dos dedos, leve roçar de unhas, um toque quase sem tocar que percorre o corpo todo.
Quando você realmente se entrega, o tempo não faz muito sentido. A música ressoa dentro de você e ocupa seus pensamentos, os perfumes de óleos e incensos pacificam a respiração e você não precisa se concentrar em nada, apenas deixar fluir.
- Vira.
- De lado?
- De bruços!
Os comandos rompiam o transe apenas o suficiente para que eu seguisse o ritual. Minha pele já correspondia com arrepios. Suspiros e gemidos brotavam sem pedir licença.
Os toques passaram de etéreos para firmes. Não sei como ele percebeu meus pés.
Mentira. Sei sim. Assim que ele passou as unhas pelos meus pés eu senti o corpo inteiro acender e um espasmo sutil se transformou no primeiro gemer daquela tarde.
Quando o toque mais firme começa, as mãos se encarregam de espalhar o óleo.
Eu não percebi a transição.
O calor começava a transbordar não só de mim. Mãos e braços deslizavam sobre mim e também tórax e peito tocavam as minhas costas. A respiração no meu pescoço fez minha resposta ao toque mudar.
- Vira pra cima.
Era como interromper um devaneio.
De joelhos sobre a cama, abriu as minhas pernas com firmeza. A espera para que ele colocasse as luvas e protegesse os acessórios pareceu uma eternidade.
Exposta, eu sabia que tudo em mim pulsava e fui atingida em cheio pelo meu próprio cheiro de desejo.
- Tá tudo bem?
- Humrrum.
Não consegui nem articular uma resposta. Só queria que ele me desse o que vim buscar.
Ele explorou cada centímetro entre as minhas pernas. Com as mãos, com o tremor elétrico do equipamento e, antes que eu implorasse fui preenchida por seus dedos.
O primeiro orgasmo veio rápido. Fiquei ofegante e ele só reduziu o ritmo tempo suficiente para eu não sufocar no meu próprio delírio.
Lambuzada de óleo e tesão, apertava suas pernas e queria enroscar os dedos nos cachos dos seus cabelos pretos.
Ainda assim, me contive.
"Será que estou passando dos limites", pensei.
Amarras que mais tarde eu descobriria que eram apenas ilusão.
Depois de várias ondas de prazer, gemidos e gritos, o tempo havia terminado.
Cobriu meu corpo com uma manta e disse:
- Relaxe, aproveite, esse momento é só seu.
Não consegui ficar muito tempo deitada. Logo estava pedindo um copo d'água para aquietar aquela enxurrada de estímulos. Ele já estava de banho tomado e trouxe o copo em uma bandeja. Guardei o detalhe na memória.
- Tem toalha pra você e eu já esquentei o chuveiro. Fica à vontade.
Meu amigo, nem em casa eu fico tão a vontade. O banho quente foi como aquela sensação de quando você passou muito tempo flutuando na água. Eu estava esgotada e desperta numa contradição.
- Vamos conversar um pouquinho na cozinha? Preciso que você preencha o termo, só por formalidade e depois vamos conversar sobre o que aconteceu lá dentro.
- Claro.
- Quer um café?
- Melhor não.
Ele riu.
Acontece que eu evito café para não ficar ainda mais estriquinada do que eu já sou. A sensação de relaxamento estava tão boa que eu não tinha intenção nenhuma de fazer passar. O termo que ele me deu era um cadastro simples com algumas perguntas sobre a motivação e um aceite.
- Pronto. Completo e assinado.
- Vou deixar aqui do lado para eu ver depois. Agora eu quero saber de você. O que você achou?
- Eu, eu, é... sabe, eu demoro um tempinho pra processar e transformar tudo em palavras. Acho que não estou fazendo sentido.
- Faz sentido pra mim.
- ...
- Minha amiga, a sua energia é poderosa. Se eu continuasse, você teria o suficiente para ficar aqui até amanhã.
Enquanto ele me dizia isso, eu só conseguia sorrir e lutar contra o impulso de desviar os olhos dos dele.
- E acredite, se eu fosse colocar numa escala, diria que foi 8
- Oito? Como assim?
- Você se segurou. Eu senti. Você alcança mais.
Desconcertada com a possibilidade de alcançar um novo ponto, aceitei a carona para perto de casa.
Fim da primeira parte.
Segunda parte!
Levou um dia antes que eu pudesse organizar meus pensamentos.
Enviei uma mensagem explicando como tinha sido a minha experiência e como estava sendo o depois.
- Eu fiquei pensando no que você me disse sobre eu me segurar e você está certo. Tive medo de passar do limite.
- ...
- É que, na real, eu não sei qual é o seu limite. Teve uma hora que eu peguei na sua perna e não sei se podia. Se eu fiz alguma coisa errada, me desculpe.
✔️✔️
A resposta veio em poucos minutos.
- Minha deusa, o tantra é um movimento desrrepressor. Não há certo e errado fora do contexto do que é certo ou errado pra você. Quanto ao limite, o limite é o cliente quem dita. Não precisa se preocupar com nada.
- Entendi. Obrigada. Tirou um peso da minha consciência.
A vida seguiu seu curso habitual e em pouco tempo eu já estava entretida com a rotina de trabalho.
A boa e velha luta diária e o malabarismo financeiro para quitar todas as contas.
Algumas semanas depois, uma mensagem padronizada:
"Bom dia, estou oferecendo valor promocional para minhas clientes antigas. Reserve sua sessão."
✔️✔️
- Oiii. Eu conto como cliente antiga? Queria marcar...
- Conta, claro.
Marcamos a data e, estranhamente, o dia veio depressa.
No dia marcado, as boas-vindas foram como da primeira vez. Tirei as sandálias e segurei a barra do vestido verde de malha para sentar na almofada.
- Como você está?
Eu disse que estava bem.
Eu estava anestesiada com tanto trabalho. Mal tinha percebido que se passaram dois meses.
- Quero deixar você bem tranquila quanto ao que me perguntou sobre limites. Eu não vou te interromper nem gerar constrangimento. Se você fizer algo que eu não queira, vou tirar sua mão gentilmente e te guiar. Hoje eu quero que você se liberte de qualquer medo.
- ...
- Combinado?
- Tá bom.
- Já que estamos combinados, tenho uma proposta diferente pra você hoje, mas você é quem decide.
Imagina se a minha curiosidade permitiria eu recusar.
Assim que ele disse isso, percebi algo diferente entre nós.
Era um jogo de sedução!
- A proposta é a seguinte: vou vendar nós dois e vou permitir que você me toque e tire a minha roupa. A ideia é explorarmos o elemento ar e por isso quero que você preste atenção aos cheiros. Pode cheirar braço, pescoço, o que você quiser.
- Mas é pra tirar tudo?
- Sim, tudo.
Ele aumentou o volume da música e logo estávamos de pé e vendados. Ele cheirou o meu pescoço e os meus cabelos como se pudesse se alimentar do aroma. Eu deslizava os dedos pelos seus braços com um pouco de receio, mas logo ele me guiou a tirar sua camiseta. Era como uma dança.
Caminhávamos um ao redor do outro nos cheirando e nos tocando. Sendo mais baixa, cherei seu peito, seus braços e depois respirei profundamente tocando as suas costas. Ele tirou meu vestido e respirou partes de mim que não costumam ter muita atenção.
A dobra entre braço e antebraço, a lateral da cintura, tirou meu sutiã e cheirou entre os peitos. Era como um bicho apreciando a sua presa, mas ao mesmo tempo era puro e delicado.
Passei os dedos pelo cós da calça jeans. Precisei de ajuda para desafivelar o cinto. Na hora de tirar a calça, me ajoelhei sem nem pensar direito.
Puxei o jeans até os pés e tirei a calça por completo. Quando terminei, estava com o rosto perto de pernas e bunda.
Tomada por instinto, cheirei bem no meio das nadegas e era bom. Passei a mão pelo tornozelo subindo para as coxas e ele girou o corpo para eu completar o movimento. Logo eu estava com o volume bem na minha cara.
Cheirei e senti os arrepios dele. Baixei a cueca e encostei o nariz.
Salivei e mordi os lábios. Abri a boca e chupei.
Eu sabia que tinha ido longe demais, mas ele se deixou levar por alguns segundos antes de segurar a minha cabeça e oferecer a mão para eu levantar.
Ele não disse nada. Apenas tirou minha calcinha:
- Deita de bruços!
Não sei se era a luz, mas eu estava queimando. Mal deitei e ele veio por cima de mim e respirou meu corpo. As contrações já se manifestavam. Ondulava o meu corpo pra tocar na pele dele. Aproveitando o frenesi, ele me virou de frente pra ele. Ouvi o som do látex e do vibrador.
Ele meteu o vibrador bem fundo e, para minha supresa, senti a sua língua no meu clitóris.
Fiz sons que não eram meus. Urrei, chorei, ri. Puxava os cabelos dele e dobrava meu corpo pra frente alucinada pelos orgasmos que não paravam de vir.
- Preciso de água. Tô sem saliva.
Desta vez a bandeja já estava por perto com jarro e copo. Ele correu para me servir enquanto, ofegante, eu tirava a venda e tentava controlar a taquicardia.
- Passei dos limites?
- Não tem limites.
- Acha que só você sente tesão?
- Não sei. Tá com tesão então me mostra.
Ele recuou só por alguns segundos, já que a excitação era óbvio e intensa. Vestiu uma camisinha e me preencheu.
Que sensação gostosa!
- Nossa... eu coloquei tudo e você nem reclamou.
- Reclamar? Nunca.
- Que boca gostosa. Quando você chupou eu pensei, fodeu.
- Desculpa.
- Você sabe que terapeuta não faz isso.
- Sei. Agora somos amigos.
- Isso. Amigos.
- Posso ficar por cima.
- Nem pensar. Se você montar em mim, eu gozo.
- E qual é o problema?
- Quero segurar. E ainda quero lamber todo esse mel aqui.
- ...
- Ah, é assim que você faz com os outros?
- O quê???
- Eu tô sentindo você me apertar e soltar.
- Pois é.
Ele percebeu quando eu comecei a pompoar e assim que ficou incontrolável, desceu pra me lamber. Tive outro orgasmo delicioso.
- Volta. Me dá mais do seu pau.
Ele atendeu meu pedido, mas percebeu que o tempo estava esgotando.
- Não vai dar tempo de tomar banho.
- Não tem problema.
- Eu sei do que você precisa. Eu precisava ser dois.
- É.
- Ah, não. Vira de quatro.
Mas na empolgação segurei ao invés de soltar e a camisinha saiu.
- Droga. A gente já tá atrasado.
- Deixa eu te chupar.
Ele segurou o pau para mim enquanto eu tentava encontrar saliva na minha boca. Chupei um pouquinho e logo parei.
- A gente precisa ir.
Fiquei de joelhos com a carinha mais doce possível.
Ele passava o dedo na cabeça do pau e me devolvia lambuzado na boca para eu limpar.
Fim da segunda parte!
Terceira parte
Cada vez que você resgata uma lembrança, sua memória é corrompida. Parece que, ao reorganizar os fatos, encaixamos elementos que nem sempre são precisos. É uma ironia fisiológica que quanto mais você lembre, mais você esqueça do que realmente aconteceu.
Tenho poucas certezas do que aconteceu naquela tarde, mas lembro claramente de uma troca de mensagens que reli muitas e muitas vezes:
- Obrigada por confiar em mim. É comum isso acontecer?
- Eu me permiti, mas eu amo o meu trabalho e foi a primeira vez que isso aconteceu.
- Não queria te ofender, mas e agora? Como fica?
- Vai ser diferente. Bom, mas diferente. 😉
Por mais que eu me esforce, os dias seguintes são cenas enevoadas. O encontro seguinte levou menos de um mês.
Eu já não tinha expectativas de repetir a experiência com tanta entrega. Na verdade eu cheguei preparada para uma despedida.
Só que a despedida não veio naquele dia:
- Eu quero que você entenda que é você que tem o poder. Hoje eu quero te explicar sobre o que eu vejo em você.
- ...
- Todos nós temos a dualidade. Um lado Shiva, um lado Shakti. Nos homens é comum que o lado Shiva (masculino) seja mais evidente. Você é uma mulher que tem o lado Shiva mais aflorado. Eu percebi isso no primeiro dia. Você domina o ambiente e concentra toda a atenção.
- Nossa. E isso é ruim?
- Não. Isso não é ruim, mas isso significa que você precisa que a energia do seu companheiro seja Shiva mais dominante do que o seu.
- Tem que colocar meu Shiva no cantinho?
- Mais ou menos isso.
A conversa foi tão leve. Estávamos confortáveis, mas eu sabia que a barreira profissional tinha voltado ao seu devido lugar.
Ou quase isso.
- Então o que eu quero te mostrar é como você vai controlar a sua energia e fazer ela trabalhar pra você. É mais do que carne. É alma!
Depois de me explicar sobre o universo, corpos sutis e todos os chacras, segui o ritual de me despir e colocar o roupão:
- Hoje nós vamos explorar o elemento água. Antes eu quero que você fique em pé aqui e foque neste desenho.
Posicionada em frente à parede envidraçada, os comandos vieram.
Ele desamarrou meu roupão e deixou que caísse aos meus pés.
Eu conseguia sentir o peso do olhar e era enlouquecedor ter que manter as pernas semi-afastadas e um leve agachamento. Eu tremia tentando me concentrar.
- Respire e ouça a minha voz. Eu vou te guiar para longe daqui. Você está em uma montanha e consegue ver uma cachoeira...
A posição que ele exigiu me deixava de bunda empinada e meus joelhos estavam tão despreparados que eu não ouvi mais nada do que ele disse. Só queria não cair.
Não fazia diferença nenhuma o que ele estava dizendo. O ritmo e o timbre da voz eram monótonos o suficiente para soarem como um mantra.
Eu estava parada olhando para a natureza do lado de fora, mas a voz me envolvia.
Quando eu estava quase me rendendo, terminou.
- Coloca a venda e pode deitar.
Nem questionei. Minhas coxas já estavam gritando naquela posição.
- Deito de costas ou de frente?
- Pode deitar de barriga pra cima.
Acho que uma das coisas que mais me excita é a imprevisibilidade.
Privada da minha visão, deitei de pernas fechadas e levei um susto quando ele segurou meus pés para abrir.
O elemento água era o óleo, mas também era a saliva. Entendi o jogo quando comecei a sentir as mordidas no tornozelo.
Aparentemente, ele descobriu um ponto novo de prazer.
Sempre tive inclinação para a dor, mas tornozelo foi realmente uma surpresa.
O calor da luz fazia com que tudo ficasse misturado: óleo, suor e saliva.
- Eu vou dar atenção e beijar cada pedacinho do seu corpo.
E a promessa foi cumprida. Do beijo nos pés até o pescoço.
Passando por virilha, umbigo e axilas. Tenho certeza que lambeu minha boca por puro desaforo. Ele não me deixava beijar.
- Vira!
Quando fiquei de bruços pude sentir que ele já não vestia nada.
Derramou muito óleo nas minhas costas e massageou minha bunda com o próprio corpo.
Não demorou para que o seu pau se abrigasse nas minhas nadegas de um jeito que não me penetrava, mas que permitia que ele se esfregasse em mim de uma forma tão gostosa que nem precisava.
- É mais do que corpo, é alma. Eu sinto como se eu já estivesse dentro de você.
Como não era nenhum pouco elevada espiritualmente, eu tentava lutar com ele e quase consegui encaixar.
Assim que ele percebeu, me virou de frente e se concentrou em oferecer a boca ao sexo.
Desta vez as sensações foram tão intensas que eu já não conseguia diferenciar a origem.
Não sabia mais o que era mão, o que era boca, eu forçava o (vibrador?) para dentro e enquanto molhava a cama, meu cu recebeu sua língua.
O mundo poderia acabar naquele instante. Eu simplesmente não conseguia parar de gritar de tesão.
Eu tinha certeza de que ele estava rindo.
Sentei na cama e puxei ele contra o peito. Ao invés de me aquietar, segurou nas minhas costas e mamou em mim.
Já não sabia se eu ria ou respirava. Foi um orgasmo violento e ele estremecia e urrava abraçado em mim como se compartilhasse de tudo.
Fim da terceira parte
- Gostei do seu vestido. É a minha cor preferida.
- Jura? Aposto que diz isso pra todas
- Até comprei um quadro novo dessa cor. Olha ali.
Era tudo verdade. Já não conseguia encontrá-lo há três meses. Por duas vezes ele precisou reagendar e eu já pressentia o que vinha à seguir.
- É nossa despedida, né!?
Ele sorriu e eu compreendi que minhas dúvidas acabavam de ser confirmadas.
- Você não precisa mais de mim. Fizemos um lindo caminho, mas não tenho mais nada pra te ensinar. Eu lembro de como você chegou cheia de dúvidas e agora eu vejo você desperta.
- Você tem razão. Eu não me sinto mais vazia e carente. Foi como afastar uma camada de poeira das minhas lentes. Eu consigo sentir tudo ao meu redor.

Cheiro de mato, de incenso, de saudade e poesia.
No céu, o tempo ignorava a solenidade do último encontro.
Um dia comum, vento suave, a luz fria acinzentada do meio da tarde.
Sorriso aberto, coração disparado, vontade de correr contida no caminhar de quem teme o tropeçar a cada passo.
Calor! Abraço!
Como fingir tão bem não ter intimidade?
Grito. Grito. Não grito.
Fala suave de quem não se importa.
Mentira. Me importo.
Descalça, no quarto, meus pés sentem o tapete e meus olhos absorvem ao máximo o princípio do fim.
Não quero contar que desisti de dois encontros. Não quero dizer que, por muito pouco, não fui em ambos pra me perder de novo em luxúria com quem só quer beber de mim.
Não quero contar que, se não fosse a certeza do vazio, teria dito sim outra dezena de vezes.
Não quero ir ao passado e nem ao futuro. Só quero estar ali.
Despida, despedida.
O espelho fragmentado não aceita crítica alguma. Decidida, despida, retorno ao quarto.
A nudez não me incomoda, mas o peso do olhar me fere. Sento de costas para a entrada e espero. Olho para a parede de tijolos e não sou mais eu.
Sou a música, sou o ritmo. A chegada vem sempre com anúncio e ordem.
A voz se mistura com o som de cordas e sinos, a voz se mistura com os meus pensamentos. Os pensamentos viram um não pensar. Um se deixar ir. Um sentir de arrepios e de estar mais e mais molhada. Dedos nas costas e no pescoço.
A parede, a parede.
"Vira"!
"Vira"!
Quero pele, quero gosto, quero gozo.
Tão vestido, tão distante, tão perto. O olhar, precipício. Não posso olhar.
Sob as lâmpadas o suor vem tão mais fácil. Só dessa vez, não quero me conter. Só dessa vez, não preciso lembrar ou esquecer de nada. É só o agora
Preciso! Olho! Não permito não estar. Quero pele, quero gosto. Beijo entre lágrimas. Tiro dele tudo o que me afasta. Tudo.
Língua, saliva, gemido. Só dessa vez não quero me conter. Só dessa vez, não preciso estar tão dócil à sua espera.
Braços fortes são incapazes de conter o que não desejam segurar.
De pé, encaro a vidraça e choro.
Não quero ser frágil, não quero ser tola. E ele me acolhe. "Deixa vir"
Me ajoelho ao seus pés sob protesto. Uma oração à nós dois em minha boca. Já estive aqui e não pude terminar.
Só dessa vez eu não quero me conter.
Língua, saliva, gemido. A fúria começa a surgir. Eletricidade em toda a pele. Quase esqueço de respirar. Paro pra rir. Rir!
Já chorou, riu, quis ir e ficar, tudo ao mesmo tempo?
Água, preciso de água. Sentada à beira da cama sou servida. O que temer? Trêmula, derrubo um pouco sobre mim.
Ordem! Ordem!
As mãos me guiam e me aquietam.
Os cachos se perdem no meio das minhas pernas. Os dedos se conectam com o prazer incontrolável.
Chupo e mordo meus dedos em êxtase. "Por favor, pare"
- Parar?
- Sim! Por favor. Eu não quero sentir isso sozinha.
- Você não tá sozinha. Não entendeu ainda?
Quando o tempo acabou eu não tinha forças nem vontade de levantar. Ele tomou uma ducha e deitou do meu lado. Ele nunca tinha permitido os beijos que demos naquela tarde.
- Eu sei que precisa terminar, mas eu já tô com saudades.
Eu segurava o choro, mas não pude me controlar quando percebi que ele também estava emocionado.
- Calma. Não é o fim do mundo. Eu dei conselhos para uma pessoa e percebi que tudo o que eu disse valia pra mim. Eu continuaria te vendo só pra gente gozar juntos, mas meu ciclo fechou
- Eu sei. Eu quero que dê tudo certo. Não se preocupe, já vai passar. Não é como se a gente nunca mais fosse se ver, né!?
- Claro. Ainda seremos amigos. Quem sabe nem dê certo e daqui um tempo eu abra a agenda de...
- Vai dar certo. Eu sei que nos veremos em outros contextos.
Estava grata pela transformação que tudo aquilo proporcionou na minha vida. Um aprendizado sinestésico e o acesso à um tipo de amor que eu não conhecia.
E como eu previra, tudo estava dando certo pra ele. Ele tinha abandonado o mundo por apenas um ano e foi simples retornar.
Nesta nova vida, sentia saudades do meu amigo.
- Oiii. Vamos marcar aquele café?
- Oi, linda. Tô meio apurado com um job, mas passa aqui no escritório.
- Fechado! Me passa o endereço.

Fim da quarta parte
Final!
A porta estava entreaberta quando desci do elevador e procurei pelo número correto. Olhei para dentro e ele estava ao telefone.
Se antes eu já achava quase irritante ter que lidar com a visão de braços delineados e ombros largos, agora, como um executivo bem vestido era de morrer
Respirei fundo antes de entrar, mas assim que abri a porta ele se virou, ainda ao telefone e sorriu. Apontou a poltrona, pediu um momento ao telefone e me recebeu:
- Amiga, a sua pele tá incrível. Me espera só um minuto que eu quero saber tudo. Já imagino por esses olhinhos.
Não sentei. A poltrona era baixa e eu estava com um vestido branco, tomara que caia rendado meio curto. Preferi explorar o ambiente.
Pelo visto ele ainda gostava de claridade. A janela lateral era enorme e a vista da cidade de tirar o fôlego. Ao redor, elementos que eu reconheci.
Uma Kali de bronze que era, na verdade, um incensario muito bonito, cristais e algumas plantas. Uma orquídea florida em tons de amarelo e laranja.
A mesa de trabalho ficava oculta da visão direta da porta. Ao chegar, o que se via eram as poltronas de veludo preto.
- Pronto, amiga. Não quer sentar?
- Tô bem assim.
- ..
- A vista é linda!
Ele começou a me contar sobre seus últimos meses, mas me pareceu estar acelerado.
- Ah, deixa eu te trazer um café.
- Obrigada.
Foi só nesse momento que os olhares se cruzaram realmente. Ao entregar o café.
Quebrei o silêncio com brincadeiras e risadas, meu mecanismo de defesa habitual.
- Escuta só, vim te visitar e você nem me cumprimenta direito. Assim não volto.
- Desculpa. Vamos começar de novo.
- Oi. Senti saudades.
- Oi. Eu também.
Deixamos as xícaras na mesa para um abraço.
Ele estava tão cheiroso e quentinho. O perfume cítrico e levemente amadeirado mesclou seus tons ao amargo do expresso recém tirado da máquina.
Afastei um pouco para olhar para cima e ler seu rosto.
- Aconteceu tanta coisa. Conheci uma pessoa e foi mágico. Quero dividir com você.
Enquanto contava a experiência que tive, virei para olhar a janela e ele sentou numa das poltronas. Fui interrompida no meio da frase.
- Agora entendi você não querer sentar.
- Ahn?
Ele me olhava de um jeito que me fez corar. Percebi que o vestido tinha subido revelando a liga.
Puxei o vestido para baixo para me recompor.
- Pode parar agora. Vem aqui me mostrar isso direito.
Meu coração disparou. Eu tinha certeza de que ele manteria distância. Mesmo que a atenção dele fosse minha vontade, eu não nutria esperança alguma.
Caminhei devagar até ele.
Ele colocou as mãos nas laterais das minhas coxas, sorriu e me girou com extrema delicadeza.
- Faz tempo que não vejo uma meia de seda. É uma cinta-liga?
- É sim. Estas meias não ficam tão coladas quanto as de lycra e só dá pra usar assim.
- Gosto muito, mas não tô vendo direito.
Passou os dedos pela barra do vestido e perguntou:
- Posso?
- Humrrum!
Lá estava eu sem conseguir articular palavras de novo. A expectativa do toque já estava me deixando maluca.
Ele, propositalmente, não tocou minha pele. Subiu o vestido até a cintura e se encostou na poltrona.
- Ah, agora eu consigo ver. Vira. Deixa eu olha pra você.
Girei para encarar e ele já estava sorrindo e com a braguilha aberta.
As mãos fechadas segurando o desejo firme.
Fiquei paralisada de tesão e surpresa.
Quando voltei a mim, precisava perguntar.
- Eu não entendo.
- O que você não entende, minha deusa.
- Antes eu sempre quis. O que mudou?
- Chega mais perto.
Me ajoelhei frente a ele e ele baixou o rosto para falar ao meu ouvido.
- Ética. Agora não tenho mais desculpas
A voz dele me fez arrepiar inteira e ele aproveitou a oportunidade. Colocou a mão na minha nuca e segurou firme nos meus cabelos.
- Eu não sei o que você fez comigo, mas você virou uma obsessão e eu não gosto de me sentir assim. Meus pensamentos são os piores possíveis com você.
Sorri e toda a minha docilidade foi para o espaço com essa confissão. A reação imediata foi lamber e morder os meus próprios lábios.
Baixei o tom de voz. Fui flagrada fazendo maldade...
- Eu? Eu não fiz nada. Só desejei você. O resto você fez sozinho.
Um tapa e um beijo.
O rosto ardia, mas eu gostava de ser subjugada e o beijo, ah, o beijo. O mundo poderia acabar ali.
Minhas mãos estavam apoiadas em meus joelhos, mas terminei o beijo me apoiando em suas pernas para me levantar.
Ele se levantou comigo e logo me apoiou contra o vidro gelado.
Passou a mão ao redor de mim até invadir minha calcinha.
- Já gozou, minha deusa?
Sim, eu já estava melada desde o momento em que ele percebeu a liga aparecendo.
Ele era especialista em me provocar orgasmos, então começou a me torturar enquanto eu empurrava o bumbum contra ele.
Ele enchia a mão com meu peito, beijava e mordia meu pescoço, ombros e costas. Eu gemia pra ele e ele me pedia beijo. Queria que eu gozasse com a boca colada na dele.
Eu rebolava em sua mão e sentia o pau na minha pele.
Já estava alucinada.
- Por favor, me come.
- Ainda não.
Me desvencilhei dele e me afastei para perto da mesa. Sentei na madeira e cruzei as pernas.
- Assim eu não brinco mais.
- Ah não?
Tirou a camisa e me abraçou. Uma mãos nos cabelos, beijo molhado e as pontas dos dedos pelas costas de baixo pra cima.
Senti a eletricidade golpear.
- Como você faz isso? Você faz ideia do que eu passei pra me segurar enquanto te atendia?
- Juro que tentei facilitar a sua vida. Ficava passiva e imóvel o máximo que dava. Se eu tivesse escolhido partir pra ofensiva, você teria me mandado embora antes do fim.
Com minhas pernas abraçando sua cintura, o encaixe foi quase involuntário. Dessa vez, sem delicadeza alguma. Fúria, bicho, meus dedos cravados na mesa, papéis esparramados, o dia acontecendo lá fora.
Abri minha boca buscando seu dedo. Chupava encarando e ele me penetrava mais rápido e mais forte.
Entre gemidos e com a respiração entrecortada, fiz minha última provocação da tarde
- Não quer segurar?
A resposta escorreu pela minha coxa.
--- fim ---

• • •

Missing some Tweet in this thread? You can try to force a refresh
 

Keep Current with Sexo e Tintas Podcast

Sexo e Tintas Podcast Profile picture

Stay in touch and get notified when new unrolls are available from this author!

Read all threads

This Thread may be Removed Anytime!

PDF

Twitter may remove this content at anytime! Save it as PDF for later use!

Try unrolling a thread yourself!

how to unroll video
  1. Follow @ThreadReaderApp to mention us!

  2. From a Twitter thread mention us with a keyword "unroll"
@threadreaderapp unroll

Practice here first or read more on our help page!

Did Thread Reader help you today?

Support us! We are indie developers!


This site is made by just two indie developers on a laptop doing marketing, support and development! Read more about the story.

Become a Premium Member ($3/month or $30/year) and get exclusive features!

Become Premium

Too expensive? Make a small donation by buying us coffee ($5) or help with server cost ($10)

Donate via Paypal Become our Patreon

Thank you for your support!

Follow Us on Twitter!

:(