É provável que a discussão da reforma tributária envolva a manutenção dos incentivos fiscais ao Pólo Industrial de Manaus (PIM). Deixo as questões tributárias para os tributaristas e economistas, como geógrafo deixo uma compreensão territorial do PIM e dos impactos para a região
O Pólo Industrial em conjunto com a Zona Franca foi pensado como política de desenvolvimento regional para a porção Ocidental da Amazônia. Ao contrário da Amazônia Oriental, na qual houve instalação de rodovias, hidrelétricas e frentes agropecuárias.
O impacto direto do PIM foi a industrialização de Manaus e a concentração da riqueza, da população e das atividades econômicas na capital. Manaus, a partir da década de 1970 ganha maior expressão na região em relação a Belém, que historicamente foi a cidade de referência regional
Dada a especialização produtiva e o perfil de assalariamento do mercado de trabalho, Manaus tornou-se o município mais rico da região Norte. Considerando os objetivos de implantação do Polo, pode-se dizer que a integração com o conjunto da economia nacional foi alcançado.
Entretanto, para além dos efeitos econômicos e urbano-regionais do PIM, um ponto tem sido destacado em período recente: a importância para a preservação da floresta na porção Ocidental da região, especialmente quando comparado ao perfil de devastação observado na porção Oriental
O estudo mais conhecido é “Impacto Virtuoso do Pólo Industrial de Manaus sobre a proteção da floresta amazônica: discurso ou fato?”, produzido por pesquisadores do INPE, UFPa e UFAM com financiamento da Suframa e da multinacional Nokia, que produzia no Pólo.
Os pesquisadores avaliaram os impactos nas florestas do Amazonas em períodos distintos, até 1997 e entre 2000 e 2006, em virtude da descontinuidade dos dados de desmatamento. A metodologia utilizada indicou que até 1997, o PIM foi responsável por redução de 85% do desmatamento.
Para o período 2000-2006, com dados contínuos, o estudo estimou redução entre 70% e 77%. O INPE indica que o Amazonas tem preservado cerca de 98% de sua cobertura florestal. Em comparação, o pior estado é Rondônia, com índices de preservação de apenas 71% (Imazon).
Os efeitos ambientais são derivados da dinâmica de produção do Polo, que é de montagem metal-mecânico e eletrônico e, portanto, não necessitam de matéria-prima florestal. Ademais,o conjunto PIM-ZFM gera cerca de 100 mil empregos e importante foco da pauta de exportação brasileira
Por outro lado, é necessário considerar criticamente o discurso criado em torno dos estudos, posto que há um deslocamento
de legitimação do Polo e da ZFM, que, se antes embasava-se na ideia do progresso industrial, passa a estar associada ao "desenvolvimento sustentável"
Thaís Brianezzi (2013) indicou que esse discurso induz a pensar que as indústrias são responsáveis pela preservação ambiental, graças a criação de empregos urbanos. Não considerando outras possibilidades de desenvolvimento ou a importância das populações tradicionais.
O fato é, políticas tributárias tem impacto territorial e regional. Desconsiderar isso pensando apenas o efeito custo-benefício ou variáveis microeconômicas de ganhos orçamentários podem ter efeitos contraproducentes em médio prazo. #Amazonia#Manaus#PoloIndustrial#ZFM
Dentre as várias interpretações cartográficas sobre o resultado do primeiro turno das eleições, um que chamou minha atenção foi a repetição no Amazonas do descolamento entre a capital, Manaus, e o restante do Estado
Repetição porque foi praticamente a manutenção do padrão ocorrido em 2018
Há, claro, a associação entre a análise mais visível sobre as preferências eleitorais recentes na Amazônia. Com as áreas do agrobolsonarismo bem definidas no Oeste do Maranhão, Sul do Pará, Roraima, Mato Grosso, Rondônia e Acre, no rastro do "arco do fogo e do desmatamento"
Poucos lugares sintetizam a natureza do modelo de desenvolvimento regional para a Amazônia quanto Barcarena, município nas imediações da capital, Belém. A história dessa síntese foi iniciada nos anos 1970 com a viabilização de um polo industrial de produção mineral
O projeto contou com participação do capital japonês, no contexto da reestruturação industrial derivada dos choques de energia. Do empreendimento, surgiram duas empresas, uma produtora de alumina, outra de alumínio primário negociados como investimentos independentes:
(+) a Alumina do Brasil S.A. (Alunorte) e a Alumínio do Brasil S.A. (Albras), ambas resultantes de associações entre a estatal Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) e a Nippon Amazon Aluminiun Corporation (NAAC), consórcio que envolvia empresas privadas e o Estado japonês
Em 2013 (sempre este ano), o número 12 do Caderno de Estudos Estratégicos, periódico da Escola Superior de Guerra, homenageou com um conjunto de artigos os 100 anos de nascimento do general Carlos de Meira Mattos, em uma série de textos sobre a vida e o pensamento do militar
Meira Mattos foi um dos mais conhecidos ideólogos da "Geopolítica brasileira". Seu livro, "Uma geopolítica pan-amazônica" teorizou sobre os conceitos básicos das estratégias de integração nacional, tais como o binômio Segurança e Desenvolvimento
Além de advogar uma aliança preferencial com os EUA no plano externo e, no plano interno, conceber a Amazônia como condição ao projeto de Brasil-potência, a partir da realização das grandes obras de infraestrutura viária e energética
Aproveitar o fim do encalhe do supercargueiro no canal de Suez e contar uma história sobre política, comunicação e memes que todos estamos acompanhando em Belém do Pará relacionada a gestão municipal que assumiu em janeiro
Um dos problemas em Belém são os constantes alagamentos, decorrente, dentre outras questões, da quantidade de lixo despejado nos canais, ausência de gestão ambiental condizente com o sítio urbano e ocupação das bacias hidrográficas. Quem quiser saber mais:
Pois bem, há alguns meses o trabalho da Secretária de Saneamento, @gasparimivanise vem chamando atenção, primeiro eram fotos e comentários em redes sociais, depois o negócio ganhou corpo e reverberou na mídia tradicional e no cotidiano da cidade
A insistência na (falsa) equivalência simétrica entre petismo e bolsonarismo e, de tempos para cá, no risco Lula para 2022, talvez tenha uma base política e material que cabe ser observada
Em 2002 quando o PT foi vitorioso, havia duas décadas de distância, pelo menos, do fim da ditadura. Os quadros que chegaram ao governo passaram pelo parlamento, governos municipais e estaduais, conviveram com adversários e algozes e foram parte constituinte dos pactos de 88
Havia um ambiente de conciliação que foi forjado ao longo de duas décadas de convivência entre a esquerda e essas elites em ambiente democrático moderado. No início do governo Lula houve depuração dos quadros considerados "radicais" que, inclusive deram origem ao PSOL
É comum ouvir que os problemas urbanos em Belém e Região Metropolitana são derivados diretamente de uma suposta "falta de planejamento" na cidade. Mas o que a maior parte dos estudos recentes em geografia urbana e urbanismo contam é uma história diferente...
Belém até 1960 era uma cidade limitada as proximidades da área original de fundação, na chamada "Primeira Légua Patrimonial". A expansão em direção a "Segunda Légua" e aos municípios próximos se deu a partir desta época, quando o "Cinturão Institucional" foi rompido
Até então, Belém tinha seu crescimento confinado por uma política de distribuição de terras para instituições públicas e privadas. O cinturão institucional, no qual se localizam as universidades, aeroporto, forças armadas etc. O uso institucional bloqueia a ocupação habitacional