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Gente... acabei de assistir uma reportagem do Fantástico sobre o "misterioso" derramamento de petróleo na costa brasileira que, agora, atinge, infelizmente, até as nossas intocáveis reservas marinhas!

Quero fazer algumas constatações...

#lávemthread #maritimethread #seathread
Comandante de navio, na Globo, disse que erro no sistema de transferência de óleo (sensores) poderia causar transbordamento de petróleo de navio para o mar.
Por sua vez, oficial de centro de monitoramento de navios (mostrado com amplos cortes de imagem) afirma que, realmente, há forte suspeita sobre o petroleiro. Imagens de satélite, correntes e ventos etc. etc. OK.
A quantidade de petróleo recolhido nas praias bate unidades de milhar, enquanto o navio transportaria, de fato, dezenas delas. OK.
Até aqui estaria tudo certo SE tudo isso não fosse previsível, como até agora se noticiou! Na verdade, neste caso, então, tudo fica pior ainda, porque, em QUALQUER HIPÓTESE, TODOS os planos de CONTINGÊNCIA e PREVENÇÃO falharam!
Os acidentes com derramamento de petróleo no mar NÃO SÃO NOVOS. As chamadas "marés negras" existem e já são conhecidas um bocado, já há muito tempo!
Em 1967, o petroleiro de bandeira liberiana Torrey Cannon derramou 123 mil toneladas de petróleo por 300 km quadrados, na costa da Grã-Bretanha. O vazamento, naquela época, atingiu, pelo menos, 180 km de praias francesas e inglesas.

Depois, em 1978, o petroleiro Amoco Cadiz derramou 230 mil toneladas de petróleo, afetando, dessa vez, 320 km de costa.

Mais recentemente, o petroleiro Braer derramou 80 mil toneladas de petróleo, também na Grã-Bretanha, atingindo 40 quilômetros de costa. E há, ainda, os repercutidos acidentes com o Erika (1999) e Prestige (2002), que alavancaram legislações ambientais americanas e europeias.
Mas você pode argumentar que estes são acidentes internacionais e que fatos semelhantes nunca teriam ocorrido no Brasil, mesmo. O "misterioso" derramamento nas praias ainda seria "inédito", então. Nem isso é totalmente verdadeiro, tampouco.
No Brasil, em 1974, houve o primeiro derramamento de petróleo registrado. O Takimyia Maru derramou 6000 (!) toneladas após colidir com um alto-fundo, no Canal de São Sebastião, em São Paulo. Em 1978, o Brazilian Marina repetiu o mesmo acidente!

cetesb.sp.gov.br/emergencias-qu…
Nesse meio tempo, dessa vez no Rio de Janeiro, em 1975, o petroleiro iraquiano Tarik Ibn Zyiad derramou 7000 toneladas de óleo bruto, após encalhar na Baía de Guanabara. O maior acidente registrado no lugar, até hoje.

maxwell.vrac.puc-rio.br/16588/16588_7.…

cetesb.sp.gov.br/emergencias-qu…
Semelhantemente, não dá para deixar de mencionar os acidentes com as plataformas da Petrobras P-36 e P-7, ambas em 2001, na Bacia de Campos/RJ. A P-7, após explosão, chegou a derramar quase 100 mil litros de petróleo no mar!

Depois de cada um destes acidentes ambientais, não sem forte pressão da opinião pública, de fato, ocorreram grandes mudanças de regras. A legislação de proteção ambiental marítima internacional avançou para o estabelecimento de amplos protocolos como da Convenção MARPOL.
No Brasil, surgiu a Lei do Óleo (nº 9.966/2000) e a Lei de Crimes Ambientais (nº 9.605/1998), consideradas marcos regulatórios exemplares, porque permitem alcançar e punir qualquer agente poluidor, desde o simples operário até os donos e consignatários de carga corresponsáveis.
Mas você pode (e deve!) ainda se perguntar: "Como que, mesmo com todas estas protetivas, um evento trágico destes que estamos presenciando no litoral brasileiro ainda ocorre?"
Eu, realmente, não vejo resposta única, nem definitiva, mas eu tenho alguns palpites:

1) falta de fiscalização -- o mar é grande e a Marinha precisa de mais equipamento, apoio e tecnologia;
2) falta análise/priorização de riscos -- a preocupação é leiloar os campos de exploração e promover a exportação, primeiro, e, só depois, ver como ficam os golfinhos, o turismo, os pescadores, a humanidade;
3) falta de integração dos órgãos de proteção ambiental e academia (!) -- MB, ANVISA, IBAMA, ANTAQ, ANP, PF, MMA, MINFRA, Bombeiros, Defesa Civil,..., ...., etc. etc. etc., IMO, ONU, ILO...; e

(desculpa, mas smp quis usar este gif 🤩)
4) por fim e MAIS importante, a falta de consciência marítimo-ambiental da sociedade -- o brasileiro não conhece e, portanto, não valoriza, quiça cobra e fiscaliza, a respeito da sua gigantesca Amazônia Azul.
Bom, é isso gente... Espero ter contribuído com o debate, obrigado pela atenção. 01:30 vou dormir, mas fiquem de olho! 🧐
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