Como muitos que me acompanham já sabem, há algum tempo cubro casos de violência sexual no futebol. Um problema grave que persiste ano após ano em clubes e escolinhas.
Se você tem filho ou conhece crianças que sonham virar jogador(a), segue o fio para entender como evitar abusos.
Em 2019, foram 18 ocorrências de abuso relacionadas ao futebol. O levantamento se baseia em processos e registros policiais (média de 20 casos/ano). Essa amostragem está longe de retratar a dimensão dos danos, pois apenas 7% das agressões sexuais contra crianças são denunciadas.
O assunto tem sido mais discutido que há uma década, quando comecei a apurar essas histórias. A última temporada de Malhação, por exemplo, alertou sobre o assédio a jovens atletas em divisões de base, mas, dentro dos clubes, o tabu ainda é enorme. brasil.elpais.com/brasil/2019/03…
Em novembro, a polícia prendeu um ex-olheiro do Grêmio que estava foragido havia três anos. Descobridor de Ronaldinho Gaúcho, ele foi condenado por abusar de jogadores da base gremista. Mas seguia trabalhando normalmente com crianças no futebol. brasil.elpais.com/brasil/2019/11…
O índice de reincidência entre abusadores é alto, sobretudo no futebol, onde exercem cargos de autoridade. Também é comum usarem o poder religioso, conciliando atividade esportiva com a atuação em igrejas, para ganhar a confiança das vítimas. brasil.elpais.com/brasil/2017/12…
Uma das raízes do problema é que clubes tratam categorias de base unicamente como fonte de lucro, negligenciando cuidados que deveriam adotar ao abrigar crianças e adolescentes. A tragédia no Flamengo expôs a realidade que muitos se recusam a enfrentar. brasil.elpais.com/brasil/2019/02…
É providência urgente quebrar o monopólio masculino nos postos de chefia que lidam com jovens atletas. Não raro, o trabalho de psicólogas e assistentes sociais é sabotado por dirigentes. Mulheres, a partir de uma visão humanizada do futebol, salvam vidas. brasil.elpais.com/brasil/2018/05…
Há projetos de lei no Congresso visando melhorar as condições da base e proteger atletas de violações como abusos sexuais, mas eles permanecem encalhados porque a maioria dos deputados prefere resguardar o interesse econômico dos clubes. brasil.elpais.com/brasil/2019/11…
A CBF conta com uma extensa rede de proteção em Brasília, capaz de blindá-la, principalmente no atual governo, de investigações e de satisfazer aos caprichos dos cartolas que enxergam direitos de crianças como estorvo. Afinal, não dão lucro. brasil.elpais.com/brasil/2019/11…
A situação para 2020 é muito preocupante. Por obrigação, vários clubes abriram ou terceirizaram categorias de base femininas. Porém, as estruturas ainda são precárias, terreno fértil para abusadores. Se meninos já estão vulneráveis, imagine as meninas…
Como reagir? Acompanhe jogos e treinos, estimule iniciativas de educação sexual nas escolas, fale com crianças sobre os riscos. É o que ajuda a empoderá-las diante de um eventual assediador. E o principal: cobre de políticos e dirigentes do seu clube o devido cumprimento do ECA.
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Foi aprovado na Câmara dos Deputados o PL 9622/2018, que obriga clubes que recebem recursos de bancos e instituições públicas a adotar medidas de proteção de jovens atletas contra a violência sexual.
Segue o fio para entender a importância da nova lei 🧶
O projeto de lei, de autoria da deputada @erikakokay, foi motivado por esta reportagem, que denunciou o descaso da CBF em relação a vários de casos de abuso sexual de crianças e adolescentes em escolinhas e categorias de base.
A CBF sempre foi resistente em apurar, punir e prevenir a violência sexual no futebol. Em 2014, seus ex-presidentes, Marin e Del Nero, chegaram a assinar um pacto com o Congresso Nacional se comprometendo a tomar medidas. Que nunca foram cumpridas…