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Anotações da live da @elevenfinancial com @ro66ma e mediação do @datonetto, feita dia 27/3. Excelente vídeo! Deixo o link para quem puder ver. Pra quem não tiver tempo, segue o fio:

youtube.com/watch?v=nibZQi…
1) Chegou o quantitative easing (QE) tupiniquim? Xavier achou corajosa a atuação da equipe econômica, que merece apoio ao enfrentar um problema tão discutível (financiamento pelo BC ao Tesouro Nacional). Situações extremas pedem instrumentos extremos.
1.1) O BC tem 4 blocos para atacar: risco de crédito, de liquidez, de capital e de preço. Caso a PEC proposta seja aprovada, tem todos os instrumentos para isso. A "big bazooka" do FED já conferiu alguma estabilidade aos mercados. As pessoas já estão discutindo preço,
1.2) antes discutiam liquidez, o que é um avanço. FED e os demais BCs foram bem inicialmente, ao controlar a temperatura dos mercados. Os instrumentos evitaram um risco de crédito e os BCs foram rápidos e efetivos, com um bom tamanho dos pacotes anunciados para o momento.
1.3) O problema é a economia real. Não se sabe a extensão do problema. Somando os pedidos de jobless claims nos EUA da semana passada com os esperados para esta semana, o número de desempregados é de 7,3 milhões de pessoas, ou seja, o desemprego vai crescer de 1,5 a 2% em um mês.
1.4) Isso é inacreditável para quem acompanha a evolução do índice e entende o conceito de defasagem. O Brasil não tem as mesmas condições de oferecer amparo que os EUA. Por isso, as medidas precisam ser aprovadas e chegar às pontas rapidamente.
1.5) Uma coisa é a realidade do mercado financeiro (BC suportando os 4 blocos), outra é o que vai ser feito na economia real, que até agora ainda é pouco. São necessárias medidas mais emergenciais, rápidas e incisivas para reduzir o impacto humanitário da crise.
2) No SFN há uma incrível concentração na concessão de crédito. Hoje há uma corrida das grandes corporações pelos bilhões das linhas pré-aprovadas. Contudo, na economia real a postura dos bancos é exigir mais garantias, aumentar spread etc. Isso não pode virar um cabo de guerra?
2.1) Com sua experiência em bancos, se hoje estivesse em um, Xavier teria que pensar em solvência do banco em primeiro lugar. Assim, não emprestaria um centavo numa crise dessas, além de "puxar" (tomar de volta) o crédito das empresas.
2.2) Do ponto de vista social isso é condenável, mas do ponto de vista do business o objetivo é o lucro. Se a verdade é essa, só tem uma solução: entrar um terceiro ente que faça esse papel. Esse ente é o Estado. Xavier sugeriu ao governo criar um fundo com participação
2.3) do Tesouro Nacional (TN) e dos bancos privados, 50% cada. Aceitaram a proposta, mas mudaram para 85% de risco do Tesouro e 15% do SFN (bancos privados). O BC fará o QE, que na prática consistirá em comprar títulos do TN para jogar a curva longa para baixo, o que já diminuiu
2.4) as taxas de juros para empréstimos, porque quando a taxa de juros desceu muito, o câmbio subiu e com ele as taxas longas. Quando as taxas de juros de longo prazo sobem, aumenta o custo do dinheiro na economia, o que torna o sistema mais arriscado e leva a spreads mais altos.
2.5) A taxa que chega ao tomador final se torna inviável. Roberto Campos Neto sabe disso, por ter visão de mercado. Para Xavier, melhor que reduzir a Selic é atuar sobre a curva longa, diminuir o custo de inclinação da curva e assumir o risco de crédito.
2.6) Isso é atuar nas duas frentes, porque o crédito chegará numa taxa mais barata ao tomador final, com menos risco ao banqueiro (15%). Isso diminui o risco do SFN e o joga para a sociedade por meio do TN, empurrou as taxas de juros de longo prazo para baixo e reduziu os spreads
2.7) A força de todo esse arcabouço de liquidez injetado no sistema, em conjunto com as medidas complementares anunciadas na sexta-feira, pode ter uma chance de sucesso, desde que a aprovação seja rápida no Congresso, o que normalmente não é a regra no Brasil.
2.8) Para Xavier, não se trata de uma jabuticaba; são instrumentos de guerra, para serem utilizados numa como a que estamos enfrentando. Foram defendidos de forma corajosa pelas autoridades econômicas brasileiras, pois são medidas polêmicas, especialmente no meio acadêmico.
3) Passado o choque, as medidas podem trazer um pouco mais de funcionalidade para o mercado, levando em conta também uma maior liquidez? Teremos que medir a profundidade das medidas nos mercados. O que vai ficar negativo é que essa crise veio num momento em que muitos estavam
3.1) entrando no mercado, havia vários IPOs planejados, enfim, a perspectiva era excelente. As pessoas estavam saindo do CDI para buscar novas oportunidades de investimento, em função da redução das taxas de juros. Essa movimentação ocorreu muito rápido, e acabou afetando preço
3.2) Não que estivessem caros, mas ficaram um pouco altos. Seria melhor as pessoas ganhassem dinheiro por mais tempo, para depois perderem um pouco, o que ensinaria de forma menos dolorosa que ter uma alocação diversificada é positivo para a poupança pessoal no médio/longo prazo
3.3) Daqui para a frente, Xavier espera maior ponderação de risco, timing, diversificação, sizing. Acredita que muitos colocaram parcela considerável do patrimônio em risco. Sobre diversificação, uma ótima frase que convence qualquer um: "ganhar 4% é melhor que perder 20%".
3.4) Ainda sobre diversificação: o dólar sempre foi visto com desconfiança, mas com a queda de juros, tornou-se atrativo (redução do diferencial das taxas de juros entre Brasil e EUA). Lembra uma frase de um professor do colégio: "o Brasil é o país do oba-oba". Genial, porque
3.5) "aqui as pessoas sempre querem saber qual a boa do momento". Já foi criar boi, plantar soja... Cita o André Jakurski: "as árvores não crescem sempre para o céu". Devemos desconfiar quando os preços aceleram muito. Havia uma forte discussão sobre fim de ciclo nos EUA, mas
3.6) nem foi esse o caso. Vários fatores poderiam levar a correções importantes, e no fim algo totalmente imprevisível levou a essa queda generalizada. Opinião pessoal minha: um mercado em alta forte, pagando muito à frente, fica muito vulnerável.
3.7) Cito Andrew Crockett: "aprende-se que o risco aumenta nas recessões e cai no bull market. Contudo, pode ser mais eficiente entender que o risco AUMENTA nas altas, na medida em que assimetrias surgem, e se MATERIALIZE nas recessões". Essa frase está no livro do Howard Marks.
4) A SPX, gestora de que Rogério Xavier é sócio, optou por uma postura mais conservadora nos últimos 2 anos. Perderam o bull market de 2019, e foram mal no ano. Por outro lado, preservaram capital agora, justamente por essa postura mais defensiva. Não estão ganhando rios de
4.1) dinheiro, mas acreditam que esse é o momento de proteção de capital ("chegar à outra margem do rio"). A recuperação de um estrago desse tamanho não é rápida. Ao lado de Howard Marks, mais um grande gestor que refuta a "recuperação em V".
4.2) Xavier lembra que quando montou o Bahia, hedge fund do banco em que trabalhava, não ganhou dinheiro na crise, mas DEPOIS dela. Passada a fase mais aguda da crise, o patrimônio do fundo se multiplicou por 3. Ter paciência nessa hora é importante, principalmente quando se é
4.3) ignorante sobre um assunto ("ninguém sabe se vai ter uma segunda onda ou não"). Melhor aguardar e aproveitar as oportunidades que estiverem à disposição, mas com uma convicção muito maior. Importância do sizing. "Nunca teremos certeza, mas teremos sinais".
4.4) Para ele, cautela, paciência e preservação de capital são adequadas nesse momento.
5) Após um início de ano conturbado (assassinato do general iraniano, receio de fim de ciclo nos EUA, COVID-19 na China - que foi menosprezada por governos e investidores), tenta-se buscar uma luz no fim do túnel. Dato acredita em depressão, seguida de recessão, e finalmente a
5.1) recuperação. O que muda é o espaço temporal de cada economia. É razoável achar que todos esses pacotes podem tirar um pouco desse vento contra, com todas as economias caminhando para uma mesma fase do ciclo, com estímulos alinhados e direcional parecido?
5.2) Xavier não tem resposta por não saber a extensão do dano. Difícil saber se o que está sendo feito será suficiente para dar o suporte que a economia global precisa. Supondo que sim, a grande consequência é um nível absurdo de endividamento. Só nos EUA, são 2 trilhões de gasto
5.3) Na maior parte das economias, levando em conta queda de arrecadação e do próprio PIB em si, fala-se em dívidas chegando a 10% do PIB. Após esse suporte dos BCs, teremos um custo de ajuste. O desemprego nos EUA irá para 6%. Alguns países já começaram a ter rebaixamento de
5.4) rating (Colômbia e México). Isso pode acontecer com o Brasil. "Estamos tomando do futuro para pagar o presente, mas estamos abrindo um buraco no futuro, que provavelmente será coberto com mais impostos". Cortar gastos já era difícil, na frente provavelmente será ainda mais.
5.5) O desemprego vai aumentar, assim como a carga tributária. O que está acontecendo é estabilizar as coisas em um patamar ruim agora, mas dentro do necessário. Naturalmente, isso leva a um crescimento menor no futuro. Não vê uma recuperação para o nível anterior, e sim uma
5.6) recuperação mais lenta e gradual. Xavier não acha prudente se animais demais com isso, pois estabilização da economia é uma coisa, recuperação do mercado é outra. A vida real é muito diferente da do mercado financeiro.
6) Pode haver um redesenho de forças entre dólar, euro, libra esterlina e ien depois dessa avalanche atual? Os estímulos são importantes para todas essas moedas. A economia americana é a mais flexível e tende a se recuperar mais facilmente. Na Europa vários países com problemas e
6.1) implicações políticas. Itália é endividada, não cresce, não tem consenso político para aprovar reformas. França pode caminhar para um extremismo de direita. A Europa sempre será uma grande interrogação, inclusive quanto à continuidade do euro (!). Por ex, algum membro grande
6.2) como a Itália pode deixar a UE. A economia americana parece mais bem posicionada, como em 2008: o epicentro da crise foi nos EUA, mas quem ficou para trás foi a Europa. O Japão é aquela história: não vai a lugar nenhum, mas serve de refúgio caso os EUA mostrem fragilidade.
6.3) Assim, economia do Japão deve continuar "sem graça" e Europa vai continuar com problemas. Dada a quantidade massiva de estímulos, Xavier acha difícil que a economia americana descarrilhe de vez. Por isso, o dólar deve continuar dominante por um bom tempo.
7) Deixei para o final a parte mais importante. Xavier citou uma frase que viu pichada em Brasília: "chega de realizações, queremos promessa". Explica: "a realidade é muito dura, então preferimos sonhar. O que será determinante no Brasil é nossa união, consenso, diálogo".
7.1) Uma maior união e mais sacrifícios tendem a fazer com que saiamos mais fortes disso. Devemos tomar as dificuldades como aprendizado. Esse é o desafio para todos nós, toda a sociedade.
7.2) "SE O PAÍS NÃO TIVER A CAPACIDADE DE DIALOGAR PARA ENCONTRAR SOLUÇÕES PARA O FUTURO, TEREMOS PROBLEMAS". Acha essencial acabar com a polarização. Situações de crise envolvem união. Mas tem fé no futuro. "O Brasil sempre dá seu jeito diante de dificuldades".
8) Mais uma aula! Agradeço ao @ro66ma pela sabedoria e experiência compartilhadas, à @elevenfinancial pela iniciativa e ao grande @datonetto pela condução do debate, que trouxe grandes ensinamentos.
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