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Anotações da live da XP com o Howard Marks. Segue o fio:

1) O raciocínio de Marks sempre remete a seu principal livro, The most important thing, obrigatório para todo investidor. Quem já leu vai se familiarizar bastante com o que foi dito por ele hoje.

@xpinvestimentos
2) A Oaktree, gestora da qual é sócio, comprou forte no início de março. Preços irracionalmente baixos gerados por vendas em pânico, chamadas de margem, resgates de fundo e pessoas físicas buscando liquidez
3) Reduziram as compras após as medidas de intervenção anunciadas pelo governo começaram a ser aplicadas (o que ocorreu na terça passada, 24/3). Ainda estão comprando, mas menos, porque os sinais listados em 2) não estavam mais tão presentes
4) Apesar de a Oaktree ser famosa por explorar assimetrias no mercado de crédito, não estão fazendo isso agora, pois a estratégia envolve alto grau de risco. Clientes preferem risco menor com alto yield. Bonds de energia que estavam pagando 3% baixo (...)
4.1) agora estão pagando perto de 10%. Marks busca estratégias intermediárias, que reduzem incertezas em troca de maior retorno. Quem souber escolher bem essas assimetrias, terá retornos muito altos no médio/longo prazo
5) Talvez essa seja a maior crise que ele tenha visto. A lição mais importante é que os grandes ganhos vêm de tomar as ações que causam medo na maioria dos investidores em um dado momento, o que inclui investir em períodos de pânico
6) Sobre teoria monetária moderna, que se fortaleceu nos últimos dois anos e levou os governos a tomarem dívidas ilimitadas (EUA), Marks mostra desconfiança. Vê muitos problemas de ordem prática, mas só o futuro dirá se pode dar certo.
7) Ben Bernanke (ex-FED): a crise atual lembra mais um desastre natural que uma crise financeira como a de 2008. Assim, espera uma recessão profunda, mas de rápida recuperação (a tal da recuperação em V). Marks discorda, por três motivos principais:
7.1) A grande diferença é que quando um furacão passa, vai embora rápido, em um dia ou uma semana. Dessa vez, ele já está trabalhando de casa há duas semanas, ou seja, não vai ser rápido. Até o 11/9 passou rápido, por ser um desdobramento grande de um evento breve em duração
7.2) Enquanto outras crises ameaçavam principalmente o mercado, a atual ameaça vidas, o que por natureza produz efeitos distintos.
7.3) Nas outras crises, a economia voltou rápido ao normal (lojas, fábricas etc.), ou seja, o pagamento de salários e auferimento de lucros não foi muito diferido. A atual é diferente, porque as pessoas não podem sair para estimular e fazer negócios.
7.4) Mais um problema da crise atual é a necessidade de que o governo distribua dinheiro, para cobrir salários e lucros. O problema é que a sociedade precisa das empresas funcionando, para produzir bens de consumo como comida e papel higiênico, por exemplo.
8) Qual a coisa mais importante (expressão que Marks sempre usa) para obter bons retornos no longo prazo? Entender o risco, tema que ele sempre aborda em suas cartas e livros. Não basta um home run ou gol (ele contextualizou pra gente rs) ocasional, e sim (...)
8.1) uma defesa sólida de longo prazo. Na prática, estar alerta aos riscos e tomar risco de forma sábia. Cita a frase do Buffet: "é quando a maré baixa que vemos quem está nadando pelado". O futuro sempre dirá quem está controlando o risco ou quem o tomou de forma desmedida.
9) Passaram para as perguntas do público. Marks pausou para parabenizar a XP: "sabia que o alcance de vocês no Brasil era grande, mas não imaginava que atingiríamos 7 mil seguidores. Parabéns!".
10) Sobre a injeção desmedida de dinheiro pelos governos na economia, Marks faz um disclaimer: ressalta que evita ter opiniões sobre coisas que nunca aconteceram. Dito isso, a Oaktree tem a preocupação de que essa injeção em excesso leve a uma superinflação.
10.1) Quando a economia mundial não consegue dar conta de tudo que as pessoas querem comprar, temos o chamado choque de demanda. Quando isso ocorre em conjunto com uma forte injeção de recursos na economia, o risco de inflação aumenta de forma considerável.
11) Em quais setores vê mais oportunidades nesse cenário? As maiores quedas ocorrem nos setores mais complicados. Hoje, o pior é o petróleo. USD 19/barril é praticamente a cotação mais baixa da história desde o embargo à OPEP em 1973. Em 2015, custava 110 e em junho de 2007, 150
11.1) As empresas do setor terão muitas dificuldades em se manter no negócio e honrar suas dívidas. Além da guerra de preços entre Arábia e Rússia, outro problema é o cenário do petróleo diante da própria contração da economia mundial, que já vem reduzindo a demanda.
11.2) Diante de tantos sinais negativos, boa parte das pessoas vai querer sair do setor. Se o preço cair demais, por desespero, podemos ter uma barganha em breve. Outras áreas problemáticas: aviação e turismo. A sensação atual é não viajar mais, mas isso tende a voltar ao normal.
11.3) Pessoalmente, ele repete que busca empresas com alta capacidade de se manter no negócio a longo prazo e honrar seus débitos de maneira tranquila, na medida do possível ("money good debts").
12) Sobre negócios que serão bem sucedidos daqui a 2 ou 3 anos, Marks pontua que a grande questão não é o consenso atual acerca do tema, e sim quais irão bem mas ainda não foram assim percebidos pelos investidores. Marks busca negócios com vantagens ainda não precificadas.
12.1) Cita as aéreas (aqui foi o momento correto da citação às aéreas, antes ele citou cruzeiros). Empresas como a Zoom, que investem em tecnologia para negócios a distância, podem ser um exemplo. Esse modelo pode se mostrar vencedor para uma nova dinâmica de trabalho.
13) Devemos nos preparar para uma crise de crédito? As medidas anunciadas não devem ser suficientes. Assim, ele espera mais anúncios adiante (a "whole tool box" do FED). Assim, a resposta é sim. Aqui cabe citar uma das maiores frases deles pra mim:
13.1) "You can't predict; you can prepare" - Howard Marks
14) Hoje os bancos estão em melhor situação que em 2008? Sim, a grande desvantagem em 2008 foi a fé na economia, que levou a uma alavancagem altíssima (~32x PL em 2008 x ~11 ou 12x PL agora). Nos últimos anos, os mercados foram muito generosos e as empresas tomaram empréstimos
14.1) altos a baixíssimo risco. Na crise atual, as empresas com dívida alta e lucros em queda terão problemas, porque dependerão de auxílio emergencial do governo, e podem não ser capazes de arcar com isso.
15) Que indicadores olhar para comparar crises? PIB e lucros das empresas do S&P 500. Há estimativas de queda de 10 a 120% nos lucros das empresas (no último caso, a previsão é que na média as 500 empresas deem prejuízo em vez de lucro, o que é chocante).
15.1) ATENÇÃO PRA ESSA PARTE: Marks cita essa amplitude para deixar claro que não há como fazer previsões plausíveis agora. Quando esses números forem anunciados, já será tarde demais.
16) Como gerenciar risco num ambiente de extrema volatilidade como o atual? Quando maior a qualidade de seus ativos agora, menos incerto será o futuro de sua carteira. Isso sempre foi verdade, e não deixará de ser agora. É tarde demais para pensar em medir risco. E segue:
16.1) É como dirigir: primeiro você faz aulas numa autoescola, aprende a dirigir com cautela e evita dirigir bêbado, tudo isso antes de um acidente ocorrer, não depois. Para Marks, o acidente já aconteceu e boa parte das perdas está concretizada.
16.2) Na Oaktree se aplica o seguinte raciocínio: nunca se sabe o que vai acontecer; o que se sabia é que o mundo estava exposto ao risco, porque os preços dos ativos estavam altos, as pessoas estavam adotando um comportamento muito favorável ao risco e algumas empresas e países
16.3) estavam se alavancando, ou seja, tomando mais dívida. Atenção para a aula: "NÃO É NECESSÁRIO SABER O QUE VAI ACONTECER PARA SE COMPORTAR DE MANEIRA MAIS SEGURA".
17) Sobre correlação dos ativos na crise atual: há princípios guia. Quando se atravessa a rua, presume-se que os carros irão parar no sinal vermelho. Uma forma de limitar o risco é diversificar o portfólio, porque alguns ativos irão subir, outros cair e outros vão andar de lado.
17.1) Contudo, cita o ditado: "em tempos de crise, todas as correlações tendem a 1", ou seja, tudo tende a se comportar da mesma forma. Foi o que vimos nas primeiras semanas de março. A Oaktree não acredita em modelos quantitativos, que atribuem probabilidades a eventos futuros.
17.2) Preferem a distribuição probabilística, em forma de sino, baseado em eventos passados. Os eventos menos prováveis (de cauda) ficam nas pontas. O COVID-19 foi completamente imprevisível, e quem investe pensando no futuro não será capaz de proteger o portfólio para isso.
17.3) Por isso, para ele o investimento baseado em algoritmos e paridade de risco (modelos matemáticos) não funciona nas crises, porque não tem o benefício da diversificação, já que não dá o devido peso aos eventos de cauda.
18) Ajustou seu racional no presente cenário? Não, o principal é encontrar oportunidades de alto retorno, como os títulos de dívida de empresas sólidas, que subiram muito com essa crise. Basta escolher empresas com alta chance de estarem funcionando daqui a alguns anos e que
18.1) sejam capazes de honrar tais dívidas, que para ele são ótimas oportunidades. Devemos ser cautelosos e elevar nossos critérios de escolha, porém agora o prêmio de risco já é bem alto (ou seja, a tomada de risco tende a trazer maiores retornos).
19) Quais os pensamentos de segundo nível (second-level thinking) sobre a crise? Após o anúncio dos estímulos governamentais, o mercado teve seus três melhores dias desde a década de 1930. Os investidores estão presumindo que as medidas do governo irão funcionar.
19.1) O pensamento de segundo nível é não estar tão confiante assim. Para Marks, o período ainda é muito complicado, e parece cedo para fazer previsões otimistas.
20) Livros para o momento? Fooled by randomness, do Taleb, por ensinar as pessoas a pensar sobre a incerteza. Boa parte do raciocínio de Marks se resume a pensar sobre as incertezas.
20.1) Recomenda também o "A short history of financial euphoria", de John Kenneth Galbraith, que ensina bastante sobre ciclos e extremos de behavioral investing. Considera importante entender como o mercado pensa e, na maioria das vezes, fazer o oposto.
21) Essa crise vai mudar o jeito como as pessoas investem? O que ocorreu no passado, e ele acha que vai ocorrer agora, é a aversão por risco, já que as pessoas perderam muito dinheiro e ficam arrependidas por terem tomado risco. Muitos evitam o risco por um longo período.
21.1) Quando o mercado se recupera, quem se manteve ganha muito dinheiro. Quem ficou de fora é tomado pela ganância e tende a voltar a ter apetite por risco. A crise atual é a pior coisa que aconteceu no mundo talvez em 100 anos.
21.1) O apetite por risco deve reduzir bastante, mas alguma hora retorna, porque isso é da natureza humana.
22) Ficou bem grande, nem posso chamar de resumo. Mas aí estão os principais pontos. É sempre bom ouvir Marks falar. Para entender como ele pensa, nada como esse livro (versão comentada): amazon.com.br/Most-Important…
@threader_app compile
@foconomilhao aqui. Nesse item o exemplo de área problemática foi "empresas de cruzeiros" (cruise companies). Pode corrigir essa parte quando for postar, por favor :)
Outra coisa: no 10.1 é "choque de oferta", não de demanda. @foconomilhao
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