O Brasil tem sido dominado por uma ideologia anti-Estado que nos deixou despreparados, intelectual e institucionalmente, para lidar com a pandemia da Covid-19 e com as crises associadas: sanitária, social, econômica e política (1/n)
2. Políticas de austeridade fiscal - imensos cortes orçamentários em políticas públicas essenciais como saúde, educação, ciência e tecnologia, infraestrutura - associadas com redução desproporcional e não planejada do Estado atrasam adoção de medidas, como o benefício emergencial
3.Chegamos à pandemia com direitos reduzidos, vários leitos ambulatoriais e de UTI já haviam sido perdidos, a atenção primária à saúde passava por forte ataque, profissionais de saúde com condições salariais e de trabalho deterioradas, aumento da demanda, redução da oferta no SUS
4. Ciência e Tecnologia praticamente sem dotação orçamentária, bolsas para pesquisadores reduzidas e cortadas, país sem investimento em todo seu imenso potencial de inovação, como temos visto agora com as rápidas pesquisas para lidar com coronavírus
5. Proteção social que deveria ser ampla estava perdendo seus status de direito e caminhando para mera filantropia. Bolsa Família com fila de mais de milhão, sequer esse conteúdo mínimo de sobrevida estava sendo respeitado. Informalidade ampliada. População desassistida.
6. É assim que a Covid-19 encontrou o Brasil: já com mais pobreza, mais desigualdades, mais desproteção social e laboral. Cada dia um desafio para garantir um alimento, pessoas com fome. Teto, só o dos gastos, a quantidade de pessoas em situação de rua muito maior.
7. E para enfrenta-la, as ações são muito lentas, descoordenadas, desproporcionais - beneficiam muito mais proteções financeiras que sociais; mais grandes do pequenas empresas; mais banqueiros que trabalhadores.
8. O pior é que o pós-pandemia já está em disputa. Enquanto agora até concordam em gastar para salvar vidas e garantir um mínimo de dignidade e condição de ficar em casa; já se organizam para o futuro são de volta forte da austeridade. Com mais cortes em direitos, em vidas.
9. Ou aproveitamos esse momento para propor mudanças estruturais ou sequer teremos a oportunidade de chegar à fase de dar significado a esse luto global que estamos vivendo com a pandemia. O mínimo é garantia permanente de proteção social (renda mínima e direitos) e ambiental.
