Há um efeito tribo/bolha que não pode ser ignorado. E aqui falo também por mim. Eu sempre tive horror a Jair Bolsonaro, e meu próprio Twitter guarda até hoje registro das críticas duras que eu fazia. Mas...
Mas alguns amigos próximos surgiram ali por 2015 tecendo elogios a ele. Aquilo causava vergonha, mas a gente buscava respeitar para não perder o amigo. Em paralelo, sempre que alguém se decepcionava com “o sistema”, aderia ao discurso de que só um voto em Bolsonaro fazia sentido.
Uns dois anos depois, o sistema já tinha fracassado tanto que a turma que sentia vergonha já era minoritária na tribo. Por essa época, eu entrei numa de tentar enxergar a virtude que tanto viam nele. Mas não era fácil.
Minha esperança era de que o radicalismo dele fosse coisa do passado. Ele já não mais falava em bater num filho gay, por exemplo. E se aproximou de Paulo Guedes, o que soava um aceno a uma conduta política mais responsável.
Nessa época, ainda no esforço para manter as amizades, minhas críticas a ele passaram a ser respeitosas e construtivas. E nenhuma oportunidade para elogio era desperdiçada, o que reverberava de uma forma impressionante nas redes, e matava os tais amigos de orgulho.
Mas aqui e ali o disfarce caía. E ele ia se sentindo seguro para conjugar o verbo fuzilar, e apoiar manifestações criminosas, como motins policiais e a greve dos caminhoneiros.
Até chegar o ponto em que precisei escolher entre ser coerente e voltar às duras críticas que Jair Bolsonaro sempre mereceu, ou manter as amizades daquela tribo.
Foi quando precisei colocar as amizades à prova, e só uma minoria sobreviveu ao teste.
Foi quando precisei colocar as amizades à prova, e só uma minoria sobreviveu ao teste.
Da forma como relato, parece ter sido indolor. Mas ninguém abre mão de todo um grupo de amigos sem sofrer muito. No meu caso, por ter alguma visibilidade l, tudo se deu por um gigantesco processo de humilhação pública, com muitas mentiras espalhadas em linchamentos virtuais.
Hoje sei que parte dos amigos iniciou aquela onda ali por 2015 ao ser “comprada” por gabinetes ou empresários simpáticos ao bolsolavismo. Outra parte embarcou pela falta de caráter que eu evitava levar a sério por se tratar de amigos.
Um terceiro grupo aderiu por pela primeira vez na vida se sentir parte relevante de um projeto vitorioso.
E um naco final, claro, apenas deixou-se levar pelo efeito manada — afinal, quem topa perder a maior parte das amizades por causa de política?
E um naco final, claro, apenas deixou-se levar pelo efeito manada — afinal, quem topa perder a maior parte das amizades por causa de política?
Eles não sabiam quem era Jair Bolsonaro? Eu acho que sabiam. Mas nada é tão simples assim.
