"Gostaria que meus compatriotas levassem em consideração que, qualquer que seja a lei humana, não há um indivíduo sequer, ou uma nação sobre a Terra, que possa cometer o mais mínimo ato de injustiça contra o mais obscuro dos indivíduos sem sofrer um castigo por isso. Um governo que deliberadamente pratica a injustiça, e nela persiste, acabará por se tornar alvo do sarcasmo do mundo."
Henry David Thoreau, in A Desobediência Civil
"O resultado de um bom governo é tornar a vida mais valiosa — o de um mau governo é torná-la menos valiosa. Podemos suportar que as ferrovias, e todos os outros bens meramente materiais, percam um pouco de seu valor, pois isso só nos obrigará a viver de modo mais simples e econômico; mas suponham que o valor da própria vida tivesse que ser diminuído! Como querer menos do homem e da natureza, como viver de modo mais econômico do que fazemos no que diz respeito à virtude e às qualidades nobres? De um mês para cá tenho vivido — e creio que todo homem de Massachusetts capaz do sentimento de patriotismo deve vivenciar uma experiência semelhante — com a sensação de ter sofrido uma perda enorme e indefinida. Não identifiquei de início o que me afligia. Ocorreu-me, por fim, que o que eu perdi foi um país. Nunca respeitei o governo sob o qual eu vivia, mas pensei tolamente que pudesse viver aqui, ocupado com meus assuntos pessoais, e esquecê-lo. De minha parte, minhas velhas e mais valiosas atividades perderam não sei dizer quanto de seu atrativo, e sinto que meu investimento na vida aqui vale muitos pontos percentuais a menos desde a última vez que Massachusetts mandou deliberadamente de volta à escravidão um homem inocente, Anthony Burns. Antes disso eu vivia, talvez, na ilusão de que minha vida se passava em algum lugar entre o céu e o inferno, mas agora não posso me convencer de que não vivo completamente dentro do inferno. O território dessa organização política chamada Massachusetts está, para mim, coberto moralmente de cinzas e lava vulcânica, tal como Milton descreve as regiões infernais. Se existe um inferno mais desprovido de princípios que os nossos governantes, e que nós, os governados, sinto curiosidade em conhecê-lo. Se a vida vale menos, todas as coisas que fazem parte dela, ou que para ela concorrem, também perdem valor. Suponhamos que o senhor tenha uma pequena biblioteca, com quadros para adornar as paredes e um jardim ao redor, e que tenha aspirações literárias, científicas etc., e que descubra de repente que sua propriedade, com tudo o que há nela, está localizada no inferno, e que o juiz de paz tem o casco fendido e um rabo bifurcado — essas coisas todas não perderiam subitamente seu valor a seus olhos?"
Henry David Thoreau, in A Desobediência Civil
"Fico surpreso ao ver homens cuidando de seus afazeres como se nada tivesse acontecido. Digo a mim mesmo: Infelizes! Não ouviram as notícias. Surpreende-me que o homem que acabei de ver montado sobre o seu cavalo empenhe-se tão seriamente em arrebanhar suas vacas desgarradas, já que toda propriedade é insegura e, mesmo que não se desgarrem, elas podem ser tiradas dele a qualquer momento. Tolo! Não sabe, por acaso, que suas sementes de milho estão valendo menos este ano? Não sabe que todas as boas colheitas malogram à medida que a pessoa se aproxima do império do Mal? Nenhum homem prudente construirá um depósito sob tais circunstâncias, ou se empenhará em um empreendimento pacífico que demande um longo tempo para vingar. A arte é duradoura como sempre foi, mas a vida está mais truncada e menos disponível para as atividades respeitáveis de um homem. Esta não é uma época de tranqüilidade. Já esgotamos toda a liberdade que herdamos. Se quisermos salvar nossas vidas, devemos lutar por elas."
Henry David Thoreau, in A Desobediência Civil
O Telecine agora costuma passar, madrugada adentro, filmes soviéticos (isto é, propaganda soviética), uma coisa linda de se ver. Anteontem foi este aqui: "Kino Eye" (1924), de Dziga Vertov.
Há uma cena em que a militante mirim – de um grupo de "pioneiros", isto é, da "juventude leninista" – vai encher o saco de adultos que estão no bar bebendo e fumando. Entrega-lhes folhetos com a inscrição: "Adultos, vocês estão atraindo a tuberculose quando fumam e bebem".
Outra propaganda soviética que o Telecine passou numa dessas madrugadas: "Velho e Novo" (1929), de Sergei Eisenstein. Nele, tudo o que é velho (religião, tradições, etc.) é ruim; tudo o que é novo, isto é, comunista, é uma maravilha.
Durante anos, a KGB subornou roteiristas de Hollywood, não para que escrevessem histórias revolucionárias, mas para que metessem, em uma ou duas falas, uma idéia subversiva qualquer. Hoje, The Last Of Us possui zumbis graças ao... aquecimento global! Ai, meu saco.
Filme ou série de zumbi já é a coisa mais manjada do mundo. Zero de novidade.Logo, é preciso variar aspectos secundários, tipo, de onde vêm os zumbis? Neste caso, de um fungo que se tornou resistente à alta temperatura do corpo humano graças ao aquecimento global. Que "genial".🤦
Você tem conversado com adolescentes? "Coincidentemente", eles são o público alvo dessas patacoadas. A turminha realmente acredita em seus profe$$ore$ de Çiên$ia, esses que provam por A mais -A que o aquecimento é antropogênico. Beleza. A turma de Davos vai foder seu futuro, kid.
Imagine uma lagoa cuja água seja cristalina. Esse fato é a democracia. Se a água fica turva, não há mais democracia. Logo, é impossível ser democrático em meio à água turva. A democracia não é uma virtude cardeal e muito menos uma virtude teologal. Se a água está turva, é preciso
...mover-se em meio à sujeira. Não há um cantinho cristalino onde se esconder. Se o sistema não é mais democrático, tentar ser democrático, como se isso fosse uma virtude, é ser vencido na guerra assimétrica, onde os porcos podem tudo e os defensores da água limpa, nada.
Repito: ser democrático não é ser virtuoso. "Ser um democrata" é figura de linguagem. A democracia, aliás, é apenas o sistema menos ruim, e não passa de um ideal a ser perseguido. Quem leu Platão sabe: a democracia é o sistema meia-boca. Que virtude há em dizer-se meia-boquense?
(1/5 )Em vez de um cabo e um soldado talvez fosse mais útil um São Francisco Xavier. Fernão Mendes Pinto (1509-1583) conta que, quando os portugueses de Malaca se inteiraram da aproximação da armada do rei mouro de Achém, todos se entregaram ao sentimento de derrota.
(2/5)A armada era constituída por 70 embarcações que levavam 5 mil soldados inimigos. Padre Francisco, quando foram lhe dar a notícia, pediu para que tivessem calma, pois ele precisava concluir a missa. Em seguida, perguntou quantos navios havia para a defesa: só 7 e com avarias.
(3/5) Enquanto todos se desesperavam, ele instou aos capitães que fossem consertá-los. Pensaram que estava doido: sete navios contra setenta? Como nada fizessem, ele mesmo tomou das ferramentas para ir consertá-los. Envergonhados, substituíram-no no trabalho e, com as palavras...
Semanas atrás assisti ao filme "Mientras dure la guerra" (2019), sobre a relação entre o escritor católico Miguel de Unamuno e o General Franco, durante a Guerra Civil Espanhola. Mesmo com seu viés – ninguém pode negar o viés esquerdista do Amenábar – o filme é interessante.
O título faz referência ao espaço de tempo que o General Franco prometera manter-se no poder: apenas enquanto durasse a guerra. Claro, ficou mais de trinta anos governando a Espanha. Dois detalhes interessantes que são relevantes no momento:
1) A hesitação de Franco quanto a aceitar o que os acontecimentos lhe impunham: segundo o filme, ele foi praticamente empurrado para o papel central; 2) Unamuno se angustiava com a semelhança de métodos entre os comunistas e os anticomunistas.