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Apr 14, 2020 16 tweets 3 min read Read on X
Saiu o primeiro estudo que vi projetando como/quando podemos sair do problema da COVID-19. Lerei com mais calma e comentarei, mas as conclusões já são tensas (segue fio): projetam distanciamento e quarentena prolongada ou alternada até 2022.
Modelaram como desenvolvemos imunidade contra o Sars-CoV-2 e outros coronavírus. E na falta de outras intervenções, ele pode continuar sendo um problema até 2024(!). O que aceleraria o processo de forma não catastrófica seriam novos tratamentos e aumentar a capacidade de leitos.
Usando os dados de contágio atuais, projetam que o vírus pode circular a qualquer momento, em qualquer estação do ano. Calor poderia até atrapalhar a transmissão, mas não o suficiente para ajudar. Vide Manaus quente e úmida, mas entrando em colapso de saúde.
Com imunidade permanente, se ninguém pega o vírus mais de uma vez, ele desapareceria em 5 anos. Sem imunidade permanente, não se tem perspectiva de quando ele some. Ainda não sabemos qual o caso e o próprio estudo recomenda testes de imunidade das pessoas para saber melhor.
Em um cenário de imunidade protetora, projetam que quarentena em países de 1º mundo com boa capacidade de leitos precisaria durar até o meio de 2021 e relaxar gradualmente até o meio de 2022. Acelerar isso depende diretamente de aumentar a capacidade de hospitais.
Também reforçam a necessidade de distanciamento desde agora e produção de EPIs e testes para ajudar com isso. A dinâmica de espalhamento este ano dita como os países passarão pelo ano que vem com mais ou menos problemas. As projeções são feitas com base em países temperados.
Acrescentando mais detalhes, o estudo debate qual caminho de outros coronavírus humanos a COVID-19 pode seguir. Se o de imunidade protetora (como a SARS) ou o de imunidade parcial por um ano, como os coronavírus que causam gripe. O espalhamento já é mais compatível com o 2o caso.
Pelo perfil de sintomas e espalhamento até aqui, colocam os coronavírus humanos como mais informativos, pq já circulam todo ano causando gripe. Aí partem pra usar o que se sabe sobre eles (e é bastante) pra estimar como a COVID-19 poderia circular *sem vacina ou tratamento*
Algumas lições dessa extrapolação: COVID-19 pode circular em qualquer estação. Sem muita gente imune, o pico de inverno ou outono pode até ser maior, mas o vírus não some o resto do ano. Se a imunidade não for permanente, ele continua indefinidamente.
Se a imunidade só durar um ano, como pros coronavírus humanos que causam gripe, todo ano volta forte. Se durar dois anos, a cada dois anos volta forte. Sem imunidade permanente, não tem muita saída.
Mas mesmo se a imunidade for permanente, pela necessidade de não deixar o sistema de saúde colapsar com todo mundo doente, precisaremos de 5 anos, até 2025, pra ter a "imunidade de rebanho" que protege todo mundo. Isso contando com sistemas de saúde de primeiro mundo.
O que resolveria esse problema seria uma vacina. Na falta dela, tratamentos e aumentar o número de leitos pode acelerar a saída. E teríamos que alternar distanciamento mais forte com abertura econômica, aperta mais no inverno, pode abrir mais no verão.
Nesse cenário sem vacina e tratamento, mas com leitos expandidos, o distanciamento intermitente teria que ser mantido até o meio de 2022 a depender do quanto estações fazem diferença. Testes seriam fundamentais pra não precisar exagerar no distanciamento. Image
O estudo se aplica à países temperados, pros quais eles têm dados pra fazer a simulação. Não informa muito sobre a circulação no Brasil, mas se recebemos pessoas infectadas do mundo todo, estamos sujeitos a isso como todos.
Tudo pode ser melhor com vacinas e tratamento, mas não é um problema besta que passa em alguns meses. Pra ser algo mais simples, vamos precisar de muito distaciamento agora e muita ciência.

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Mar 30, 2023
Temos novas evidências da origem do novo coronavírus (e da COVID).

Vazamento de lab? Não, origem natural.

Novas sequências de material genético que foram coletadas no mercado de Wuhan mostram o SARS-CoV-2 junto de cães-guaxinim
theatlantic.com/science/archiv…
O cão-guaxinim não é nem cão, nem guaxinim. Tá mais próximo de raposas e é um animal que não poderia ser vendido lá no mercado de carnes de Wuhan. E as amostras são de uma coleta feita em gaiolas e no ambiente depois do fechamento do mercado, em janeiro de 2020.
Elas não mostram definitivamente que eles tinham o coronavírus, mas que estavam pelo menos próximos. Cães-guaxinim são um intemediário bem plausível (sua parente, a civeta, foi a ponte do SARS-CoV-1) e já foram bem documentados em venda ilegal nesse tipo de mercado.
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Mar 4, 2023
Voltamos a ver um aumento de casos em um período onde já era para estarem caindo. E ainda veremos as hospitalizações dos casos do carnaval.

Acho que é a 1a vez que vemos essa onda dupla com uma variante emendando na outra (BQ.1 e XBB). Segue um fio sobre o que parece diferente.
A XBB que circula agora é uma variante ainda mais transmissível da Omicron que há foi vista nos EUA desde o fim do ano passado. Ela surgiu no meio de uma onda de outra variante, a BQ.1, que foi a que causou nossa onda de novembro a janeiro aqui.

Em várias ondas passadas vimos uma segunda variante ainda mais transmissível surgir. Mas até aqui elas não tinham causado outra onda no Brasil.

Quando enfrentamos a Gamma aqui (novembro/20 a janeiro/21), quem causou uma onda um pouco mais tarde no resto do mundo foi a Delta.
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Dec 20, 2022
Pra quem pergunta o que acontece na China, segue um fio resumo do que expliquei no @XadrezVerbal

Uma população de 1,4bi vacinada ano passado, com vacinas inativadas, agora encontra a variante mais transmissível da COVID até aqui. Verão em 2-3 meses uma versão "branda" de 2020/21
Com o fim da COVID Zero, em poucos dias o vírus já tomou conta dos grandes centros urbanos. A vacina reduz a chance de hospitalização e casos graves. Mas mesmo 10x menos casos graves em uma cidade de 22 milhões de hab. são muitos casos.

npr.org/sections/goats…
Ainda tem o agravante que, sem COVID até agora, muita gente não via necessidade de tomar 3a dose – menos da metade dos mais idosos tomou. Ou seja, mesmo com vacina disponível, ainda tem muita gente vulnerável. E deu tempo de a imunidade cair entre quem se vacinou ano passado.
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Dec 7, 2022
Saiu uma compilação de dados da COVID bem interessante para explicar quando e como transmitimos o vírus, além da melhor estratégia de testes e do efeito da vacinação. Segue um fio rápido comentando.
nature.com/articles/s4157…
Primeiro comentário que achei legal: testes de RNA como o RT-PCR são tão mais sensíveis que detectam o vírus antes da transmissão e por vários dias depois de a pessoa deixar de ser infecciosa.
Já o teste de antígeno (teste rápido), se bem feito, pega justo o período infeccioso da doença. De novo, se bem feito (coleta no fundo do nariz e garganta) e com boa sensibilidade, é um bom indicativo de quando acabar isolamento.
Conhecem algum comparativo de testes de farmácia?
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Oct 30, 2022
Não temos vacinas da COVID pra crianças e bebês e falta vacina para adultos em alguns pontos.

Mas como o governo sabe que vacinar é muito mais seguro e eficaz do que pegar a doença, em novembro tem campanha nacional e não vai faltar vacina… pro gado. gov.br/pt-br/noticias…
O Brasil segue sendo exemplo de teste, rastreio de contatos, passaporte vacinal, produção nacional de vacinas e campanhas nacional de vacinação. De bovinos.

Legal quando entregam que não tem vacina da COVID porque as pessoas não tem valor pra quem tem essa mentalidade. Tuíte:  Que comparação mais sem noção.  Ótimo não vac
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Oct 26, 2022
"Ah, mas não dá pra falar que o governo* é responsável pelas 700 mil mortes da COVID"

Um número certo, é difícil de estimar mesmo. Mas tem uma parcela aí que dá para inferir. Segue o fio.

*governo, pq presidente não age sozinho
Primeiro tem a questão de incompetência vs. plano executado de promover contágio e mortes. O Brasil se enquadra no segundo caso, promoveu mortes intencionalmente, segundo análises como da @Deisy_Ventura, que analisou leis aprovadas e vetadas pelo governo.

scielo.br/j/rdp/a/7WGyph…
Isso fica bem claro no timing das mortes pela COVID. Enquanto boa parte dos países viu mais gente morrer em 2020, quando se organizavam e fechavam (ou não) para combater o vírus

O Brasil está entre os países que perderam mais vidas em 2021. Depois disso.
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