Não há um povo no poder. Um país é povoado por um conjunto heterogêneo de pessoas, com interesses difusos e por vezes contraditórios. Tal conjunto abarca diferentes visões sobre o exercício do poder, com parcelas sub-representadas pela corrente dominante.
Nunca um presidente assumiu o poder no Brasil eleito pela maioria da população apta a votar. Presidentes sobem a rampa do Planalto com o apoio de uma maioria mínima dos votos válidos. A diferença é significativa porque escancara o quão limitada é a representação do seu poder.
Em 2018, o Brasil tinha 147,3 milhões de eleitores. Bolsonaro foi eleito por 39% da população apta a votar. Ou seja: 61% do país não o elegeu. Quase 2/3.
Em 2014, num conjunto de 135,2 milhões de eleitores, Dilma não recebeu o voto de 62% do país.
Em 2014, num conjunto de 135,2 milhões de eleitores, Dilma não recebeu o voto de 62% do país.
É também por isso que nenhuma eleição é um cheque em branco. A separação de poderes exerce um controle indispensável sobre os ímpetos autoritários porque cria um sistema de freios e contrapesos para que a parcela dominante não engula as demais.
E é aqui que entra o palanque.
E é aqui que entra o palanque.
No populismo, "povo" é uma abstração retórica que identifica a corrente dominante como a única identidade nacional, condenando as demais à posição de anti-povo, adversárias do poder, à margem das instituições.
Não é apenas autoritário. É flagrantemente equivocado.
Não é apenas autoritário. É flagrantemente equivocado.
É esta concepção política a mãe de uma sociedade radicalizada, intolerante com suas dissidências, paralisada pela imaturidade de líderes megalomaníacos incapazes de reconhecer a legitimidade de vozes dissonantes.
E é este artifício que cria uma horda de fanáticos, não mais dispostos a debater ideias e a negociar eventuais consensos com diferentes setores da sociedade, mas a encampar uma luta moral do bem contra o mal, personalista e messiânica.
É o DNA do nosso atraso.
É o DNA do nosso atraso.
