Thread by @carloserxavier

Thread: Como o molinismo pode ajudar a resolver a suposta tensão entre onipotência divina e racionalidade. 1/18

[Uma intervenção a pedido do @lybrjack num debate com @wMesquita66 e @BloqueieMe. Marcando também o @AnarchyKratos a pedido]

Já se perguntou se Deus, sendo onipotente, estaria “limitado” pelas leis da lógica? Deus poderia, por exemplo, criar um quadrado redondo, ou ter conhecimento de uma proposição sem valor de verdade? Se você já teve uma inquietação desse tipo, “segue o fio”... 2/18

As aparentes perplexidades introduzidas por este tipo de questionamento não são resolvidas na perspectiva da onipotência (já que, vão afirmar os voluntaristas, Deus pode tudo, inclusive mudar as leis da lógica), mas na perspectiva da presciência divina. 3/18

E a corrente teológica que fez mais avanços na consideração da presciência divina é o molinismo. Por isso, vislumbrar a abordagem molinista dos “três momentos” do conhecimento de Deus pode ser bastante útil. 4/18

Esses “três momentos” não são cronológicos, mas lógicos. São etapas do conhecimento de Deus que necessariamente devem suceder-se uma a outra, ainda que isso tenha ocorrido fora do tempo - portanto, na eternidade. 5/18

O primeiro momento é o do conhecimento natural de Deus. Nele, Deus conhece todas as verdades necessárias, dentre as quais se incluem as leis da lógica. Esse conhecimento é essencial ao ser de Deus (Deus não seria Deus se não o tivesse) e não depende de sua vontade. 6/18

Ou seja, está ligado a quem Deus é, não ao que Deus quer. O conhecimento natural também contempla o conhecimento de todas as possibilidades, ou todos os infinitos mundos possíveis ... 7/18

... (contemplando todos os infinitos indivíduos que Deus poderia criar e todas as escolhas livres que estes indivíduos adotariam nas infinitas situações nas poderiam estar envolvidos). 8/18

Já o segundo momento diz respeito ao conhecimento médio, também chamado de conhecimento médio contrafactual. Nele, Deus conhece todos os mundos possíveis que estão ao seu alcance atualizar, ou seja, ... 9/18

todas as combinações de circunstâncias na quais as ações de agentes livres conduziriam ao cumprimento dos seus planos. Ao contrário do conhecimento livre, o conhecimento médio representa um tipo de conhecimento que não é essencial a Deus ... 10/18

(Deus continuaria sendo Deus se não o tivesse), mas, assim como o primeiro, este momento é logicamente anterior a qualquer decreto de criação divino. 11/18

Assim, apenas superados os momentos lógicos do conhecimento natural e do conhecimento médio é que acontecem os decretos divinos de criação. 12/18

Nestes, observadas as verdades necessárias (dentre as quais, reitera-se, as leis da lógica) e respeitadas as escolhas livres dos indivíduos nas mais variadas situações, Deus escolhe trazer um dos muitos mundos possíveis à existência - este. 13/18

Superados os momentos do conhecimento natural e do conhecimento médio, tem-se o momento lógico do conhecimento livre, o qual diz respeito ao mundo criado, a tudo o que é contingente. 14/18

Por ser relativo à coisas contingentes, o conhecimento livre, assim como o conhecimento médio, é não essencial a Deus (Deus continuaria sendo Deus se não o tivesse); ... 15/18

... mas, ao contrário do conhecimento médio, o conhecimento livre é logicamente posterior à decisão de Deus de criar todas as coisas. 16/18

O molinismo, e em particular o conhecimento médio contrafactual, explica como Deus pode agir de forma soberana por meio de agentes livres na perspectiva de sua presciência. 17/18

Mas não somente isso, também demonstra, ao considerar de forma apropriada a presciência divina, que não há qualquer incompatibilidade entre a onipotência e a racionalidade. 18/18

#Apologética #Teodidatas