Thread by @carloserxavier

A FALÁCIA DO ABUSO

Certa bancada de vereadores publicou uma postagem intitulada “Os Perigos da Educação Domiciliar”, com um dado, supostamente do Ministério da Saúde, de que 69,2% dos abusos sexuais acontecem dentro de casa.+

Isso após apagar um post com outros dados (supostamente equivocados) e com a insinuação de que a educação domiciliar deveria ser proibida para proteger as crianças de seus abusadores. +

Na falta de argumentos coerentes, os opositores da educação domiciliar apelam para meras falácias. Em lógica, esse expediente especificamente utilizado é conhecido como “falácia do espantalho.” E o “espantalho” da vez é o abuso. +

A “falácia do espantalho” consiste em colocar um falso argumento na boca do adversário, ou criar uma questão inexistente a partir de seu raciocínio, e assim construir uma resposta. +

Afirmar que a educação domiciliar deveria ser proibida para evitar abusos intrafamiliares é uma falácia do espantalho. Embora isso seja evidente, vamos considerar o problema à luz da lógica aristotélica e da epistemologia kantiana. +

O espantalho leva à falácia do “termo médio não distribuído,” equívoco lógico já denunciado por Aristóteles há mais de 2.300 anos. +

Eis o silogismo que, implicitamente, se constrói:

- Premissa maior: pais educam seus filhos em casa;
- Premissa menor: 70% dos abusos sexuais acontecem dentro de casa;
- Conclusão: pais educadores abusarão de seus filhos em casa. +

Supondo-se que o dado esteja correto, nenhum por cento destes quase 70 é transferido automaticamente para a educação domiciliar. A estatística é transferida à educação domiciliar apenas pela identidade do termo “casa,” quando, na verdade, o único termo médio que poderia +

ser distribuído é o “abuso.” No entanto, apenas com a - suposta - informação de que 70% dos abusos sexuais acontecem dentro de casa não se pode concluir pela existência de um único abuso decorrente da educação domiciliar. +

Mas, por que não levar o raciocínio adiante? Quantos dos abusos sexuais acontecem nas escolas? O dado não foi apresentado, mas suponhamos que algo entre 10 e 20%... Não seria o suficiente para advogar-se que se fechassem as escolas também? +

O mesmo pode ser pensado a respeito de qualquer outro ambiente onde qualquer tipo de abuso acontece. +

A verdade é que os adversários da educação domiciliar deveriam mostrar quantos abusos sexuais acontecem em famílias educadoras. E, aqui, eles poderão procurar o quanto quiserem, pois não irão encontrar os dados. +

E não irão encontrar os dados por uma simples questão de natureza das coisas. +

“Família educadora,” por definição, é o oposto de “família abusadora.” As famílias educadoras, como já afirmou o pedagogo Lucas Bachmann, são famílias protetivas, o que é o contrário de uma família abusadora. +

Aqui, pode-se trabalhar com o que Kant chamava de juízo sintético a priori. Nenhum dado empírico é necessário para demonstrar a correção do raciocínio do pedagogo Lucas Bachmann. +

Uma família educadora, em raciocínio apriorístico, será uma família educadora, e não uma família abusadora. E uma família abusadora será, aprioristicamente, uma família abusadora. E, como já vimos, os termos médios não se distribuem. +

Tempos difíceis estes em que, para explicar o óbvio a pessoas mal intencionadas, temos que recorrer à lógica aristotélica e à epistemologia kantiana...