Fiz um post há 4 dias em que mencionei “as trombetas do apocalipse” . Acho que foi uma expressão infeliz que dá margem para um entendimento errado do que queria dizer. Quero me retratar. Segue o fio..
Jamais achei que pesquisadores brasileiros ou instituições sérias como Imperial College tem por objetivo gerar o pânico.
Minha crítica, ainda que num tom infeliz, foi aos que escolhem entre os estudos, apenas os mais alarmistas independentemente da qualidade. O ideal seria mostrar ao público todos os relevantes que estão sendo feitos, sem viéses. Sei que não é tarefa fácil.
O próprio Imperial College por exemplo tem mais de 20 reports e dezenas de modelos, o que mostra que modelar não é tarefa fácil, nem isenta de erros. Todos erram, mas o foco é sempre aperfeiçoar. Nosso objetivo é o mesmo. Encontrar soluções que preservem vidas.
Para quem conhece meu trabalho e me conhece, sabe que jamais ofenderia pesquisadores sérios ou brincaria com vidas. Além disso, nos últimos 10 dias (antes da postagem) falei praticamente diariamente na Jovem Pan, no Investnews e em outros veículos que:
a) Modelos probabilísticos não devem ser vistos como verdade científica estática, mas como uma ferramenta adaptativa que pode ser útil para orientar decisões de curto prazo nas políticas de saúde e sociais quando combinadas a um contexto epidemiológico mais amplo.
b)Erros de modelagem fazem parte do processo de evolução da ciência. Ou seja, é normal pegar um modelo, discordar ou relaxar uma premissa, e criar outro Inclusve o modelo do report 13 do IC nos serviu como base
c)Todos resultados do modelo BRAM-COD são decorrentes da premissa MANTIDAS AS CONDIÇÔES DE ISOLAMENTO. Ou seja, não modelamos (ainda) o que acontecerá quando sairmos. Porém, se a contaminação aumentar de forma significativa o número de mortes pode explodir.
Quem quiser acompanhar um exemplo, veja a participação e o posicionamento hoje no programa pânico a partir de 1h03 a 1h25
Friso também que os ataques que sofri aqui, muitas vezes injustos e excessivos, ferem tambpem aos meus colegas que tem carreiras em universidades de renome e se dedicaram dia e noite nesses últimos dias para fazer um trabalho de qualidade. Ninguém está brincando aqui.
Por fim, qq medida contra o isolamento precisa ser muito estudada – os resultados podem ser catastróficos. Se, por exemplo, a contaminação(Rt) subir para 2, podemos ter centenas de milhares de mortos (veja a figura no final do fio).
Nossa equipe está estudando e modelando os impactos de desconfinamento e afrouxamento do isoalmento. Assim que tivermos o resultado, apresentaremos.
Figura prometida 
Em uma pandemia, é melhor pecar por excesso de informação. NOSSO MODELO (ainda) NÃO PREVÊ mortes no caso de o relaxamento - esta é uma questão complexa .
O poder público precisa usar técnicas científicas para estimar e conduzir suas políticas - não dá para usar o ACHISMO mexendo na vida de milhões de pessoas. Se solta de forma errada, o resultado pode ser catastrófico. Se prende demais, tb.
A figura postado é apenas um EXEMPLO MERAMENTE ILUSTRATIVO do que aconteceria se o contágio (RT) fosse para 2 . Até onde eu sei não há boas estimativas para o contágio , se tem, não disponibilizam.
Mesmo em intuiçlões sérias , é uma pergunta complexa . Por exemplo, na semana passada o Imperial College falou que o Brasil tinha o maior contágio (Rt) do mundo 2,8 Já essa semana , sem grandes mudanças nas políticas de isolamento, estimaram 1,49 (11º do mundo)
