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Daqui a oito minutos, o Castelo Rá-Tim-Bum completa 26 anos – a estreia foi no dia 9 de maio de 1994, às 19h30.

E por conta disso eu resolvi brincar de thread hoje: para cada curtida, uma curiosidade sobre o Castelo! Vamos lá?

#tvcultura #casteloratimbum #anos90
1) O Castelo Rá-Tim-Bum não ia chamar Castelo Rá-Tim-Bum. Ia ser Castelo Encantado, ou Mundo Encantado, de repente da fase do projeto. Mas para conseguir o apoio da Fiesp, o presidente da Cultura, Roberto Muylaert, teve de colocar o Rá-Tim-Bum no nome. #branding, eles dizem.
2) O Castelo também não ia ser só um programa... num castelo. A princípio, o Castelo era só um dos muitos ambientes que o Cao Hamburger e o Flávio de Souza bolaram para um novo programa, que ia substituir o Rá-Tim-Bum na grade da @tvcultura.
3) Os dois foram contratados para fazer só alguns quadros novos do Rá-Tim-Bum. Mas foram tantas ideias que acabou virando um programa novo – o Mundo Encantado, em que três crianças usavam portais para ir para uma escola, uma ilha, um castelo e até a "loja do Arquimedes".
4) Quando o Cao e o Flávio foram apresentar o projeto pros chefes na Cultura, era óbvio que aquilo ia estourar o orçamento. Aí eles decidiram que o novo programa ia se passar numa escola. Com bonecos. Tipo uma Escolinha do Professor Raimundo de espuma.
5) O Cao não ficou satisfeito. Passou uma madrugada toda batucando uma nova ideia, usando um dos ambientes do programa – um castelo, com um cientista maluco à la Victor Frankenstein, e bolou uma ideia de roteiro em cima dele.
6) Frankenstein não era uma referência nova pro Cao – nos anos 1980, ele e a Eliana Fonseca (que muita gente conhece como a Cacilda do Rá-Tim-Bum) dirigiram juntos um curta de massinha, o Frankenstein Punk. Dá pra assistir inteiro aqui (e e mó legal):
7) Aí deu certo. Mas nesse novo roteiro, as crianças viraram coadjuvantes. O protagonista ia ser o cientista maluco – o Doutor Victor. Mas não funcionou direito. Aí surgiu... o aprendiz de feiticeiro, o Nino – inspirado no Mickey de "Fantasia" (1940)
8) Já o nome do Nino veio emprestado da Nina, personagem da Iara Jamra em Rá-Tim-Bum. É aquela menina grande que brinca com a boneca Careca, lembra?
Parei pra jantar e BOOM, isso aqui explodiu. Arranjei o que fazer pelo resto da quarentena. Vamos lá...
9) Inicialmente, não ia ser o Cássio Scapin quem ia fazer o Nino. E nem era esse o primeiro nome dele. Era... Ari.
10) E quem ia interpretar o Ari era o ator Ary França. Aqui, ele junto com a Marisa Orth no "Durval Discos", primeiro filme da Anna Muylaert como cineasta
11) O Castelo tem uma série de "quase atores", inclusive. Quem ia fazer a Morgana não era a Rosi Campos. Numa primeira versão da sinopse, o papel era da Myriam Muniz – que acabou declinando.
12) Já a Penélope ia ser feita pela Denise Fraga! Ela chegou até a fazer alguns testes de figurino, como mostra esse croqui do Carlos Alberto Gardin (que me mandou a imagem quando eu tava fazendo o TCC sobre o Castelo)
13) A Denise acabou desistindo do papel porque ia fazer uma novela no SBT, Mariana, a Menina de Ouro, que acabou nunca indo ao ar.
14) Eu fico curioso pra saber como seria Mariana, a Menina de Ouro. A direção ia ser do Fernando Meirelles, o roteiro do Flavio de Souza (o mesmo do Castelo, hehe). A princípio, ia passar por volta das 19h – junto com o Castelo, inclusive. Mas o projeto não deu certo.
15) Alguns atores, porém, já estavam destinados para o Castelo desde o início. É o caso do @LucianoAmaral, que já tinha feito O Mundo da Lua. Ou o Sérgio Mamberti, primeira escolha para o Doutor Victor
16) Doutor Victor, aliás, que era para ter sido mais Frankenstein e acabou virando uma espécie de Leonardo da Vinci bruxão. A referência é tanta que o Castelo tem até um episódio só sobre o Da Vinci. É bem bom:
17) Quem também foi convidado desde o início foi a Patricia Gasppar, que estudou com o Cao e era amiga do Flavio. Ela faz a Caipora, claro – caracatau!
18) Alguns atores, porém, tiveram de fazer testes para os seus papéis. Henrique Stroeter, que acabou sendo o Perônio, foi um dos que fizeram teste para Nino
19) Já o querido Dr. Abobrinha, Pascoal da Conceição, nem ia fazer o teste. Ele fazia dublagens para a Cultura na época e um amigo pediu uma carona pra ir para a Água Branca. Acabou sabendo do teste e fez – e assim o Dr. Pompeu Pompílio Pomposo finalmente ganhou seu rosto.
20) Philippe Barcinski, que depois virou um grande diretor de TV e cinema, era o estagiário do Castelo – mais especificamente, o assistente de direção do Cao , enquanto fazia cinema na ECA-USP. Sem ele, o Castelo teria sido bem diferente.
21) Jovem e com algum tempo livre, ele vivia indo ao teatro na época em que o Castelo tava escolhendo elenco. E foi assim que ele encontrou três atores diferentes pra série. O Cássio Scapin, por exemplo, foi um deles.
22) Os outros dois foram o Wagner Bello (que fazia o Etevaldo) e o Fredy Allan, que dividia a cena com o Luciano Amaral e a Cinthya Rachel numa peça chamada A Fuga do Planeta Kiltran.
23) Por conta do entrosamento, as três crianças acabaram sendo escolhidas para o Castelo. A Cinthya, porém, já andava pela TV Cultura: ela era parte da série O Professor, que a emissora exibiu ali no começo dos anos 1990. Essa era a abertura:
24) Ela teve que fazer o teste escondida porque o diretor de O Professor, Fernando Rodrigues de Souza, não queria perdê-la pro Castelo. (Fernando acabou sendo diretor de cena no Castelo, ou seja...)

O Professor não teve vida longa - até pq parecia bastante com O Mundo de Beakman
25) Ainda sobre nomes e escolhas de personagens. A ideia é que a Caipora não fosse um bicho do folclore, mas sim um índio. E ele ia se chamar Ubiratã.
26) A Cultura, porém, teve dificuldades para escalar um ator índio para o papel. E aí surgiu a Caipora. Já os índios foram contemplados na série com os Curumins.
27) Eram dois indiozinhos que viviam aventuras na mata, com as aventuras narradas pela Caipora. A Patricia Gasppar não gosta do trabalho – ela estava gripada quando gravou as narrações. Lembra aqui:
28) Ainda sobre a Patricia, ela tem uma história curiosa: é uma das poucas pessoas que viu o Vila Sésamo, de 1972, a cores. O pai dela apresentava um programa na Cultura e ela participava fazendo desenhos. Nos intervalos, ia brincar no estúdio do Vila.
29) (O Vila Sésamo, vale lembrar, foi o primeiro programa infantil de peso que a Cultura fez, numa versão brasileira do Sesame Street americano. Eu vou falar mais dele na thread, mas só queria deixar essa foto da Sonia Braga aqui <3)
30) Pra encerrar as primeiras 30 curiosidades, vamos DESMISTIFICAR uma lenda urbana: não, a @sandraannenberg não foi uma das passarinhas do Castelo. É parecido, mas quem fez esse papel foi a Ciça Meirelles, que é... esposa do Fernando Meirelles.
31) A Ciça também fez várias outras participações em quadros do Castelo, como o da Pianola e o da Caixinha de Música. Aqui, ela junto com o Fernando, hehe.
32) Ela conta que pra limpar toda a tinta do quadro do Pentagrama (a Pianola), onde os dançarinos tomavam um banho de tinta preta, só mesmo com esfregão.
- pausa para os nossos comerciais, por favor -
(se você não leu a bio nem consegue ver a foto, eu só sei esse montão de curiosidades porque eu escrevi um livro sobre o Castelo, o Raios e Trovões. Saiu no ano passado pela @gruposummus. Tá em todas as livrarias. :D)
33) Ok, a gente já falou sobre nomes de alguns personagens. Mas vamos de alguns mais. Perguntaram aqui sobre a origem das fadinhas Lana e Lara. Os dois nomes são homenagens que o Flavio de Souza quis fazer.
34) A Lana era uma referência à Lana Turner, atriz de Hollywood na Era de Ouro. Aqui ela, ó, tentando te ENFEITIÇAR.
35) Já Lara era uma homenagem a Lara Antipov, personagem do romance – e do filme – Doutor Jivago, de Boris Pasternak. Aqui, ela interpretada pela Julie Christie no filme dos anos 1960
36) As duas fadinhas foram criadas para ser uma atração para as crianças pequenas dentro do Castelo – quem tá ali na faixa dos 2 a 5 anos.
37) Já o figurino delas tem muito a ver com estilistas franceses como Thierry Mugler e Paco Rabanne. Olha só aqui o croqui original do Carlos Alberto Gardin.
38) Ah, vale dizer: as duas moram no Castelo e são parentes do Nino, do Dr. Victor e da Morgana. (É até por isso que elas dão bronca no Nino no começo do primeiro capítulo do Castelo, "Tchau não, até amanhã")
39) Outra coisa que é legal contar: sabe qual o sobrenome da família Nino-Morgana-Dr. Victor? É Stradivarius, uma homenagem aos famosos violinos.
40) Na série, em nenhum momento se fala sobre a mãe e o pai do Nino. Era uma sacada proposital: assim, qualquer criança em qualquer desenho familiar podia se identificar com o Castelo. O Dr. Victor e a Morgana eram figuras masculina e feminina, mas não tinham isso de "pai e mãe"
41) Mas a mãe do Nino, pelo menos, existe sim! No UNIVERSO EXPANDIDO DO CASTELO, que compreende também uma série de 12 livros lançada pela Companhia das Letrinhas, a mãe do Nino dá uma entrevista pra Penélope.
42) Tá nesse livro aqui – As Reportagens da Penélope.
(é uma pena que eu não tô na minha casa pra fazer fotos da entrevista).
43) A mãe do Nino chama Ninotchka – outra homenagem à Hollywood clássica. No caso, a um dos meus filmes favoritos da vida, Ninotchka, com a incrível Greta Garbo.
44) A série de livros do Castelo, inclusive, é uma das relíquias mais legais que eu tenho. Foram 12 livros, inspirados nos personagens, escritos pelo trio Cao, Flavio e Anna Muylaert entre 1995 e 1999.
45) O lançamento dos dois primeiros livros é a primeira vez que os atores e envolvidos com o Castelo se dão conta de que o programa é um sucesso. Foi em 1995, no Museu da Casa Brasileira, e a fila chegou a parar o trânsito da Avenida Faria Lima.
46) A história é melhor contada pelo Luiz Schwarz, dono da Companhia das Letras, nesse texto aqui para o blog da @cialetras. Tem até uma foto rara do @lucianoamaral nesse dia: historico.blogdacompanhia.com.br/2011/09/desast…
47) (A ideia é que a coleção dos 12 livros do Castelo fossem encerrados com um Livro de Ouro do Castelo, a ser escrito pelos três cabeças...
48) ... O problema é que quando ele ia ser lançado, Cao e Flavio já tinham rompido artisticamente... e nem a @LiliaSchwarcz, que editou a coleção, sabe dizer hoje o que ia ter nesse livro de ouro. Uma pena, né?)
*CORREÇÃO: é SCHWARCZ, não SCHWARZ.
-- eu fui fazer um chá, mas vamos lá: se vc tem alguma coisa do Castelo que você quer MUITO MUITO SABER, me fala que eu escrevo aqui. --
49) Tá, vamos falar da ABERTURA. Eu gosto demais dela. E ela nem devia existir: a primeira ideia é que ela fosse feita em computação gráfica. Mas aí apareceu o Silvio Galvão...
50) Silvio Galvão é um dos personagens mais importantes do Castelo. Era o cara que fazia os efeitos especiais da Cultura – autodidata, foi ele que fez a Lua do Mundo da Lua. Essa aqui:
51) Sem ninguém exatamente pedir, o Silvio resolveu fazer uma maquete do Castelo. Era inspirada nas maquetes de pirâmides egípcias: elas não só mostravam o todo, mas também as partes e os detalhes da construção.
52) Assim, a abertura foi toda gravada de trás para frente! Em vez do Castelo ser montado, na verdade ele está sendo desmontado. Repara só:
53) A foto de cima da maquete é uma maquete que pouca gente viu. Na verdade, é a maquete original – e que tava na abertura da exposição do MIS em 2014. Mas eu tive a honra de visitar o ateliê do Silvio enquanto ele restaurava tudo. Olha só eu e o Porteiro original, hehe.
54) O Silvio, diga-se de passagem, é um cara incrível. Quando acabamos a entrevista, eu e ele estávamos chorando. Além da maquete, ele também fez a árvore da Celeste.
55) Outra coisa que ninguém queria. Não era pra árvore existir, mas ele inventou. E funcionou – a ponto de, no "mito de origem" do Castelo, ele ter justamente sido erguido em torno dessa árvore, que já era enorme.
56) Aqui, o Silvio, no ateliê dele em 2014, do lado do Relógio.
57) (Pra quem mora em São Paulo, o Silvio também é o cara por trás de uma das obras mais... intrigantes da cidade: o Dom Quixote que fica no Conjunto Nacional de tempos em tempos. Ele saiu da Cultura em 1994)
58) Mas vamos voltar pra abertura! O fundo dela, com o céu e tudo mais, é reaproveitado do cenário do Metrópolis, o programa de cultura da @tvcultura. O Cao não tinha pensado nisso, mas achou ótimo, porque além da abertura, a maquete e o fundo ajudaram nas 'passagens de cena'
59) Já a música da abertura é basicamente vinda de um SUPERGRUPO da vanguarda paulistana da época. O André Abujamra tinha feito o Mulheres Negras e tava começando o Karnak, junto com o Luiz Macedo. Já o Hélio Ziskind era do Grupo Rumo.
60) O Mulheres Negras, vale dizer, era o Abu-filho com o Maurício Pereira, pai do Tim Bernardes d'@o_terno. Aqui, deles "Sub". O Abu-filho, na época, era casado com a Anna Muylaert, inclusive.
61) Já o Rumo também tinha o Paulo Tatit, o Luiz Tatit, a Ná Ozzetti e uma galera. Era realmente uma banda enorme. O Hélio foi parar na Cultura por indicação da Beth Carmona, que era diretora de programação – o marido da Beth tocava com ele no Rumo.
62) A primeira coisa que ele fez na Cultura que chamou atenção foi a trilha do Glub Glub. Duas características marcantes: os sintetizadores e o uso de uma sílaba só. GLUB.
63) Depois do Glub Glub, o Hélio Ziskind também fez outra canção muito bacana pra Cultura: o tema de "Um Banho de Aventura", a primeira aparição do Júlio, do Cocoricó, bem antes da Fazenda. Eu adoro essa: "cadê o Léo, cadê o Léo, o Léo onde é que está?"
64) Juntos, Hélio, Luiz e Abu começaram a tramar a trilha da abertura. O Abu tinha que ir viajar, mas deixou o trio com três ideias:
a) o 'bum-bum-bum, castelo-rá-tim-bum'
b) o ritmo da bateria crescendo antes do refrão
c) um riff de guitarra meio "tim-tam-tum'
65) Aí o Hélio resolveu pirar na ideia das sílabas e inventou uma letra que tem apenas os fonemas de 'cas', 'te', 'lo', 'ra' 'tim' 'bum'. Sente a doideira e confere: letras.mus.br/castelo-ra-tim…
66) O Luiz conta ainda que para conseguir fechar o arranjo da música, ele ouviu muita coisa – tipo trilha de desenho animado, filmes como Star Wars e até mesmo seriados japoneses.
67) Vou falar mais da trilha e, especialmente, das ideias maravilhosas do Hélio, mas antes queria lembrar que ele é também o culpado por uma das melodias mais marcantes do Brasil. Ó O GÁS!
68) Sim: a música tema do caminhão da Ultragaz é do Hélio Ziskind. Volta lá na abertura do Glub Glub e repara como o som de sintetizador é o mesmo. Já a voz é da Vânia Bastos, que tocava com o Arrigo Barnabé.
69) Isso faz o Hélio Ziskind 'parceiro' do @dennisdjoficial, que produziu... 'Olha o Gás'. Olha aí o Castelo te acompanhando pela vida toda.
-- acabei de perceber que chegamos a mais de 1 mil curtidas. é o ponto que eu tenho certeza que não vou cumprir a promessa. mas vamos em frente até eu cansar de falar do Castelo (ou esgotar tudo que eu sei sobre, risos) --
70) O Hélio Ziskind ainda tem pelo menos duas contribuições inesquecíveis pra trilha sonora do Castelo. Uma é a música do "Passarinho, que som é esse?". Não era só uma coisa fofa: era para que a criança aprendesse os sons de diferentes instrumentos.
71) Assim, o Hélio teve o trabalho de compor uma música que explorasse o máximo de um instrumento.
Tinha uma frase comum "passarinho! que som é esse?", depois uma parte com notas graves, médias e agudas. Aí, um momento em que o instrumentista fazia um solo... e volta pro refrão.
72) e isso era com TODOS os instrumentos.
Olha só aqui... o Sax:
O Clarinete:
e até a bateria, por que não?
73) E só tinha fera nos instrumentos. Quem fez a cítara foi o Alberto Marsicano.
O baixo era o Swami Jr:
A guitarra era o Mário Manga, do Premê e pai da @marianaaydar:
A viola caipira era do Passoca:
74) A questão é que... o músico tinha que gravar o áudio. E depois ir fazer o vídeo com as Passarinhas. E não dava para fazer tanta roupa diferente assim pros músicos, cada um tinha um tamanho. Resultado? O figurinista, o Gardin, inventou uma roupa de lycra!
75) Assim, do músico mais pequenino ao grandalhão, todos iam caber na roupa. Já as Passarinhas tinham um visual inspirado no clipe da Grace Jones, "Slave to the Rhythm". Olha só:
76) Aqui, o croqui do Gardin, desenhado para a Ciça Meirelles e pra Dilmah de Souza. Não, não era pra Sandra Annenberg, eu já disse!
77) A outra grande contribuição do Hélio Ziskind pra trilha do Castelo é a música do Ratinho Tomando Banho. De novo, é importante lembrar que o Castelo era um programa com fins EDUCATIVOS. E ensinar a tomar banho e hábitos de higiene conta muito.
78) A ideia do Hélio era que a música fosse como um brinquedo pra criança levar pro banho, dando instruções pra ela se ensaboar. O problema foi... falar do órgão genital. Como fazer? Pintinho, pipi? E pras meninas? Era tudo muito complicado, ainda mais pra criança.
79) E para um programa que se pretendia universal – uma das coisas bonitas da Cultura é que ela conseguia falar com a criança rica e com a pobre, ao mesmo tempo.

Bem, aí que o Hélio teve o estalo: FAZEDOR DE XIXI. Afinal, é pra isso que serve quando a gente é criança!
80) Tem duas coisas que eu gosto na música ainda: o uso da palavra "tórax". "É pra criança ter o que perguntar pra alguém, é importante isso", diz o Hélio. E a hora que ele imita o Orlando Silva no "meu pé, meu querido pé". Se liga:
81) Já o Ratinho em si, tem nome: é Rá-Tim-Bum! Ele é, supostamente, o mesmo ratinho da abertura do Rá-Tim-Bum, o programa "pai" do Castelo. Lembra da abertura? É do... Silvio Galvão!
82) O visual do Ratinho, em massinha, foi feito pelo artista plástico Marcos Magalhães – cada minuto da animação custou US$ 2 mil, em valores da época. (Vale lembrar que o Castelo estreou quando ainda estávamos na gloriosa... URV!)
83) Já o Ratomóvel é mesmo do Silvio Galvão, e os dois foram feitos em partes separadas, porque ninguém sabia como a animação ia ficar. É um carrinho de controle remoto de verdade, fantasiado de rato cinza.
-- antes de eu ir além, mais uma pausa pra um chá e... um pedido! se você já leu o livro, quero muito saber o que achou! e se quiser, também pode deixar um post no insta, um comentário na amazon, no skoob, no goodreads! o boca a boca ajuda muito <3 --
-- e uma informação importante: todos, eu disse TODOS!, todos os episódios do castelo tão disponíveis no youtube. são 90, ao todo! aqui o link: youtube.com/playlist?list=…

espero que, se você assistir um por dia, no final da maratona já tenhamos deixado a quarentena pra trás --
84) DE VOLTA! Ok, vamos lá. Me pediram para falar sobre o Quarto do Nino – o quarto que, aparentemente, toda criança dos anos 1990 queria ter.

Mais uma das coisas que NEM DEVERIAM EXISTIR, acredita?
85) O quarto do Nino era para ter sido um portal mágico. É por isso que ele tinha uma porta que girava – porque era para as pessoas desaparecerem ali e surgirem em outro lugar.
86) Na verdade, também rolou uma falha de projeto: os cenógrafos do Castelo desenharam todo o Castelo, mas ficou faltando justamente um quarto para o Nino. Aí quando perceberam que ia ser difícil inventar esse portal... ficou sendo o quarto do Nino mesmo ali embaixo da escada
87) Sim, MAIS UMA COISA EM QUE HARRY POTTER COPIOU O CASTELO. Porque é óbvio que o menino feiticeiro tinha que dormir EMBAIXO DA ESCADA.
88) Ok, mas aí o quarto do Nino tinha que existir. E o orçamento era limitado. O que o pessoal da cenografia fez? Saiu comprando gibi em sebo e forrando as paredes com gibis!
89) Improviso, aliás, era o que não faltava no cenário do Castelo. Na biblioteca do Gato Pintado, por exemplo, a Cultura recebeu uma doação de mil livros do Círculo do Livro. Não encheu nem 10% da biblioteca.
90) Pra resolver, a equipe de cenografia saiu fazendo livro de isopor pra colocar nas paredes. Olha aqui como foi a montagem.
91) O próprio Castelo era para ter tido uma cara diferente. Quando bolou a série, o Cao Hamburger tinha imaginado um casarão no Bixiga, como os do tio dele, o Flávio Império – que foi cenógrafo do Arena e do Oficina.
92) O pessoal da cenografia, liderado pelo Marcelo Oka, não se animou: o Castelo precisava ser mais luminoso, mais colorido, pra ser atraente pras crianças. E aí veio a referência do Antoni Gaudí – sim, o arquiteto catalão que fez um monte de coisa doida tipo a Sagrada Família.
93) Duvida? Olha só a comparação!
94) Outra referência que os cenógrafos usaram foi a do Palácio das Indústrias, de um arquiteto chamado Gino Coppede. Dá pra imaginar o Nino correndo e tropeçando no Bruno Covas, vai?
(quer dizer, o Palácio das Indústrias era onde ficava a Prefeitura de São Paulo, mas não mais)
95) (Já o filme do Castelo foi mais esperto e usou o Museu do Ipiranga como cenário. Ó só, que belezinha:
96) Ao todo, o cenário do Castelo tinha 250 metros quadrados, ocupando um estúdio inteiro da Cultura.
97) E teve o dia que ele ENCHEU d'água. Vamos lembrar que a Cultura fica ali no bairro da Água Branca, e, portanto, na várzea do Rio Tietê. Um dia, no meio das gravações, o rio encheu e... PLUFT
98) Isso fez as gravações do Castelo pararem por duas semanas – e fez toda a equipe de cenografia repintar o chão, de joelho e tudo.
99) Aliás, descobrir a data exata das gravações foi bem complicado. Ninguém se lembra direito, mas o consenso é de que os primeiros ensaios aconteceram em maio – quando Globo e Folha contaram que as gravações já tinham começado.
100) Segundo os atores, eles ficaram cerca de um mês ensaiando já dentro do cenário. Tinha que ter sido entre maio e junho. Por que em julho o Bongô precisava ter gravado seus episódios.
101) Mas por quê isso, exatamente? Por que o Eduardo Silva, o ator que fazia o Bongô, era professor de biologia no cursinho Anglo. E ele só podia gravar as cenas dele durante as férias!
102) CORRIGINDO A 95) como bem alertou o @cesargaglioni, não foi no Museu do Ipiranga não!
102 de verdade, sem roubar) O Castelo teve poucas locações fora de estúdio. Mas algumas são bem especiais.
A cena da escola, por exemplo, foi gravada no Colégio de Santa Inês, no Bom Retiro.
103) Aqui a fachada da escola, pra quem quiser comparar. (Essa dica foi da @CeciliaCussioli, que estudou lá, hehe)
104) Já as cenas seguintes, em que as crianças correm atrás da bola, foram gravadas NO MEU BAIRRO. Sim, o Castelo é #santacecilier. Ou seria #camposelisers?

Enfim, o Castelo da Morgana fica na Vila Parque Savoia, ali na rua Vitorino Carmilo. pt.wikipedia.org/wiki/Parque_Re…
105) A Vila Parque Savoia é também onde ficava a Casa de Cultura Digital, numa conexão @EstadaoLink. :D
106) Mas os episódios que mais mostram como o Castelo é um produto da cultura paulista são esses dois aqui. Em um, o Nino faz a excursão que todo ano a criança paulistana (e da grande SP também) fazia pro Zoológico:
107) Em outro, em que ele fica mudo e só consegue cantar, tudo acaba com um recital com "Tico Tico no Fubá" no Theatro Municipal! Eu nunca entendi pq só a Biba teve de trocar de roupa, mas beleza.
108) Ainda falando em "locações", tem o episódio aleatório em que o Nino vai pra um navio?
109) Tem também outro episódio maravilhoso em que o Castelo sai do Castelo. Chama "Leite", e é sobre o Nino e o Bongô indo visitar os pais do Bongô pra buscar leite pro Nino fazer um bolo especial pro Dr. Victor.
110) Mas uma lista de "cenários" do Castelo nunca estaria completa se não fosse o episódio em que o Nino e o Etevaldo fazem uma participação especial no fundo do mar, com os peixinhos do Glub Glub!
111) Ao contrário de muitas séries americanas, o Castelo não teve um piloto gravado primeiro e depois os outros capítulos.
112) Na verdade, o primeiro episódio a ficar pronto foi o de número 16, "É taça, é raça, é graça" – que tem a participação do Bongô.
113) Já o roteiro do primeiro episódio foi só feito lá no final, quando o Flavio de Souza já tinha voltado pro Castelo.
114) Pois é, ele foi e voltou: depois de criar o Castelo com o Cao no final de 1992, ele aceitou o contrato pra escrever a novela no SBT, Mariana, A Menina de Ouro (já falei dela no começo da thread!). E aí acabou ficando um ano na geladeira.
115) No final de 1993, ele voltou pra Cultura e aí sim pode escrever roteiros. Enquanto isso, ele também fez as gravações do Tíbio como ator – o que era OK, uma vez que o contrato dele com o SBT era só de roteirista
116) Normalmente, cientistas de laboratório evitam usar barba, por conta da assepsia. Mas o Flavio estava com a barba para ensaiar uma peça com a Marília Pera e assim ficou mesmo.
117) Solução? Botar barba no Perônio, o Henrique Stroeter. Eles não tiveram muito tempo para gravar: duas semanas, justamente antes de começarem os ensaios dessa peça com a Marília Pera.
118) Além disso, o laboratório do Tíbio e do Perônio ocupava o mesmo espaço do cenário do Castelo. É por conta disso que, nos últimos episódios, tem quadros repetidos dos cientistas.
119) Eles tinham sido criados originalmente para o Rá-Tim-Bum e rejeitados. A inspiração? Os irmãos Dupond e Dupont, de Tintim.
120) Hora de responder PERGUNTAS!

Essa aqui é uma grande dúvida. Mas a versão mais aceita é mesmo "Klift Kloft Still, a porta se abriu". É como está em outros locais, incluindo a série de livros do Castelo.

121) Aliás, vale dizer: o Porteiro não era feito de lata. A base era de acetato e a cobertura era de papel contact, bem brilhante. Quem fez foi esse gênio da raça chamado Jésus Seda. Ele é o pai de quase todos os bonecos do Castelo. Vou falar dele depois, hehe.
122) Quem interpretava o Porteiro, por sua vez, era o Cláudio Chakmati, chamado pelos amigos de Cheque. Ele também fazia o Mau. Aqui, ele, de vermelho!
123) Essa história da @janapbianchi não é do Castelo em si, mas é maravilhosa e tão curiosa que eu vou considerar como parte da thread, tá.

124) O Thiago perguntou como foi feita a trilha e a sonoplastia. Já falei um pouco da trilha, mas a sonoplastia era também feita pelo Luiz Macedo e pelo André Abujamra. Eles editavam tudo na raça – cada episódio tinha 25 minutos, então...

125) A conta é de que o Castelo equivale a mais ou menos 45 LPs, com um episódio de cada lado. A edição de som era a última coisa que era feita.
126) A @soullisa_ perguntou sobre o Ilha Rá-Tim-Bum. Na verdade, não, não foi do Castelo Encantando que veio o Ilha. Ele foi inventado quase dez anos depois disso, numa ideia de aproveitar a marca Rá-Tim-Bum. Antes dele, quase rolou Fazenda e Planeta RTB

127) A @livialaranjeira falou aqui sobre o Banho de Aventura e chegou a hora de falar mais dele. Foi o Especial de Natal da Cultura em 1989 e é uma das coisas mais legais que a emissora já fez.

128) A gente lembra do Banho de Aventura por duas coisas: a música tema e a primeira aparição do Julio, já feito pelo Fernando Gomes – intérprete de sempre dele. Repara como o Julio era mais "improvisado" aqui – no link, tem o filme inteiro.

129) O Banho de Aventura também é marcante porque tem uma história maravilhosa de doida – o Leo é o leãozinho de pelúcia do Julio e a mãe manda ele pra lavanderia. O Julio sai em resgate NO MEIO DA NOITE e os dois passam por várias aventuras até voltar pra casa.
130) Um dos meus detalhes favoritos do "Banho", que a Pixar devia MUITO transformar num filme dela, risos, é o personagem do Pato Que Ri. É uma piada com o restaurante O Gato Que Ri, no Arouche. Mas também tem o Chakmati já ensaiando a GARGALHADA FATAL

131) Sinto que é hora de falar dele... um dos personagens mais legais do Castelo... O MAU!

O intérprete dele é o Claudio Chakmati, que faz o Porteiro e também o Pato Que Ri (hehe).
132) O Claudio foi uma das entrevistas que eu MAIS QUERIA ter feito pro livro, mas infelizmente não deu: ele morreu em 1997, em Bali, de uma parada cardíaca.
133) O visual do Mau tem uma inspiração óbvia nos bonecos dos Muppets e do Vila Sésamo – afinal, o Jim Henson talvez seja o pai do "boneco moderno". Ele era todo feito de EVA picado.
134) Para manipular o Mau, o Cheque usava as duas mãos. Ele ficava sentado numa cadeira e erguia o Mau. O mesmo valia pro Godofredo, feito pelo Álvaro Petersen. Para se movimentar pelo cenário, os dois usavam cadeiras de rodinha. (Tem um vídeo disso em algum lugar, mas não acho!)
-- decidi que hoje vamos até o 150, porque eu já digitei demais --
135) Muita gente pedindo pra falar do filme. Vamos lá: o filme sempre foi um projeto do Cao Hamburger depois que o Castelo acabou e fez sucesso. Ele demorou pra sair do papel: só chegou ao cinemas em 1999 (em 31 de dezembro, logo antes do ~bug do milênio~)
136) O primeiro relato sobre o filme é de 1995! E coincidência das coincidências: era para o filme chamar Raios e Trovões – o que eu só fui descobrir quando tava revisando o livro e não só o nome, mas também a capa já tava escolhida. <3
137) A princípio, o Cao e o Flavio iam fazer o filme juntos. O Flavio chegou a escrever alguns roteiros, inclusive, mas o Cao não gostou. Foi um dos motivos pelos quais os dois acabaram rompendo a parceria.
138) O Cao acabou então tocando o filme sozinho e fez várias escolhas sobre como o Castelo ia ter que mudar na telona. O Nino ia ter que deixar de ser feito por um adulto, por conta da verossimilhança.
139) As crianças foram embora e, no lugar delas, surgiu um novo trio. Dos personagens secundários, só aparecem o Doutor Abobrinha, que ganhou um assistente – o Rato, vivido pelo Matheus Nachtergaele. E a Penélope, de cabelo preto (?), numa participação especial.
140) Os bonecos também foram trocados. E o filme tem uma vilã clara: Losângela, vivida pela Marieta Severo.
141) A maioria dos atores do Castelo e de quem trabalhou na produção da TV não gosta muito do filme. Eu, particularmente, tenho problemas com algumas escolhas estéticas ali. Mas fiz as pazes quando revi o filme recentemente, acho que faz sentido considerando...
142) ...algo que o Cao sempre disse e que faz todo sentido. Se fosse para fazer um filme igual o Castelo, ele seria basicamente o 91º episódio. E isso não teria graça.
143) O Cao até queria fazer outros filmes do Castelo. Tem muita história boa pra ser contada ali. O problema é que aí apareceu um certo bruxo chamado Harry Potter. E aí a rivalidade mágica era demais.
144) O que não quer dizer que o Castelo não tenha um 91º episódio. É: é o Hora de Dormir, um especial de Natal feito em 1994, quando o cenário e os atores ainda estavam "próximos" da Cultura.
145) É a história de um menino que é fã do Castelo e tem problemas pra dormir – e entra no Castelo por meio da TV. É bem doido.
146) Quem faz o pai do menino é o Theo Werneck, que fazia a bota Flap. Ele também marcou sua infância sendo o DJ do H – sim, o programa que revelou Luciano Huck, Tiazinha e Feiticeira. Aqui, já na fase Otaviano Costa:
147) O Hora de Dormir também tem duas participações especiais. A Iara Jamra faz a Bela Adormecida. A Grace Gianoukas, que depois fez o Terça Insana, é a bruxa má. E o Henrique 'Perônio' Stroeter vira o Príncipe.
148) Segundo documentos que eu achei na Cultura, o Hora de Dormir custou US$ 15 mil. Parece até uma pechincha, vai. (na época, o dólar era R$ 1, sdds)
149) O Hora de Dormir só passou duas vezes na TV. No Natal de 1994 e no Dia Internacional da Criança, em 1995. Agora, porém, com feitiçaria e tecnologia, ele tá aí no YouTube pra todo mundo ver.
150) Pra fechar o dia: o Ari França não foi o Nino, mas apareceu na série sim, como mostra o grande @ppacheco1!

-- vou dormir aqui. amanhã tem mais <3
obrigado por me ajudarem a esquecer que tem quarentena, vírus e gente doida no poder desse país. feliz dia das mães pra vocês. <3. e pra dona silvina, também, que me pegava na escola e me botava na frente da TV pra ver o Castelo. --
antes de ir, porém, só ia dizer duas coisas:
a) tô anotando sim os temas que vcs querem saber e amanhã vamos falar deles <3
b) aqui tá o livro, tem em versão física e digital, pra quem tá perguntando. aqui tá a dedicatória pra dona Silvina, hehe <3
(Ludy é meu pai, Bia é minha irmã)
a thread continua por aqui, caso você se perca!
-- eu quero muito continuar essa thread, mas ACABOU A LUZ em casa. e eu preciso do PC porque lá é onde estão as fotos que eu fiz de coisas legais. aviso vocês quando voltar! mas sério, que loucura ver como vocês gostam do Castelo, eu sinceramente achei que a thread ia flopar.. --
-- E ESTAMOS DE VOLTA...
a eletropaulo que não é mais eletropaulo colaborou e a thread vai continuar... vamos ver até onde eu consigo ter curiosidades, hehe! --
151) Uma das coisas que cês mais gostaram de ver foi a Denise Fraga como Penélope. Vou dividir mais algumas fotos que eu tenho aqui dela, então...
152) Quando a Denise recusou o papel, rolaram testes. E aí quem se deu bem foi a @angeladip, que já tinha participado do Rá-Tim-Bum como parte da Família Teodoro.
153) Quando fez o teste, a Ângela tava ardendo de febre. Mas não parava quieta, tentava mostrar que sabia fazer de tudo. (Isso foi ela mesma quem me contou, numa entrevista que rolou no Violeta, ali na rua Augusta. Sdds bar </3).
154) Depois que a Ângela já tinha conseguido o papel, saiu uma nota meio estranha na Folha de São Paulo, dizendo que a Denise tinha sido preterida por ela. A Ângela chegou até a ligar pra Denise para falar que não tinha nada a ver.
155) Ainda sobre o que QUASE FOI e acabou não sendo: em uma primeira versão do roteiro, era para o Lucas Silva e Silva, do Mundo da Lua, ser um dos personagens do Castelo.
156) Tem uma explicação meio doida pra isso: o primeiro projeto que o Cao e o Flavio fizeram juntos foi o Lucas e Juquinha, um spin-off (chique!) do Mundo da Lua sobre... primeiros socorros. Olha só.
157) O Mundo da Lua tinha dado super certo e o cenário ainda existia... e aí o Cao resolveu inventar essa série de esquetes, com uma pegada que lembra bastante os desenhos animados da Looney Tunes.
158) O Juquinha era um primo mais novo do Lucas, que servia de babá pro moleque. E por pouco, os dois não fizeram parte do Castelo.
159) Teria sido o início do Universo Cinematográfico da Cultura, mas vocês não estavam preparados para essa conversa.

(usei certo o meme?)

Nas entrevistas, o Flavio nega isso. O Cao diz que poderia ter sido sim, mas "seria uma loucura". Mas os documentos existem na @tvcultura.
160) Já pensou? Doutor Victor consertando o gravador do Lucas?
161) Vi várias pessoas comentando que não sabiam que o Cao fez o Castelo. Confesso que fiquei surpreso, mas olha que coisa boa -- isso é, quanta coisa boa ele já fez. Os próximos tuítes vão ser sobre outras coisas que ele fez antes e pouco depois do Castelo
162) Depois de fazer o Frankenstein Punk, que tá no item 6 dessa sequência, ele fez outro curta em massinha, chamado A Garota das Telas. É lindo.
163) O Cao continuou com a massinha. E abriu uma produtora só para fazer filmes e comerciais com animação em stop motion. Por conta do confisco do Collor, a produtora acabou fechando. E aí ele foi bater na porta da TV Cultura.
164) Conseguiu um contrato pra tocar uma série de massinha sobre trânsito e vida nas grandes cidades. Era Os Urbanoides.
165) Eram esquetes de 30 segundos, que ele levou um ano para fazer. Tudo no menor estúdio da Cultura, com menos de dez metros quadrados, em uma maquete completa.
166) Depois disso, ele fez o Lucas e Juquinha e o Castelo... e aí veio esse curta aqui, "O Menino, a Favela e as Tampas de Panela".
167) E em 2014, com o revival do Castelo já rodando e a exposição no MIS em alta, ele lançou Que Monstro Te Mordeu?, que tinha direção do Philippe Barcinski e também passou na Cultura. Aqui dá pra ver a série toda, mas não é um canal oficial: youtube.com/channel/UCDRqa…
168) Teve também Pedro e Bianca, uma série adolescente da Cultura que ganhou o Emmy. Foi também quando eu fiz minha primeira entrevista com ele. E quando nasceu a ideia do livro, hehe. jovem.ig.com.br/cultura/series…
169) Além disso, ele também fez os filmes Xingu e O Ano Em Que Meus Pais Saíram de Férias. E Malhação, mas isso vocês já sabem, claro.
170) Aliás, uma coisa que me espanta é como saiu filme bom das pessoas que estavam por trás das câmeras no Castelo. A Anna Muylaert, claro, vocês conhecem de Que Horas Ela Volta?. Ela fez também o Proibido Fumar e o Mãe Só Há Uma.
171) O Philippe Barcinski, o "estagiário", hehe, foi o cara que fez um dos meus filmes favoritos passados em São Paulo: Não por Acaso. E também dirigiu séries como Carcereiros, da Globo.
172) E o Fernando Meirelles, que é quase um agregado do Castelo – ele foi diretor do Rá-Tim-Bum e foi quem indicou o Cao para assumir o RTB 2 – é só um dos maiores diretores brasileiros. Ele fez Cidade de Deus, Domésticas e o filme dos papas que gostam de futebol, hehe.
173) Eu demorei pra falar dele porque o assunto sempre me deixa triste, mas vamos a ele: o Etevaldo! O querido ET do Castelo era feito pelo ator Wagner Bello. Olha ele aqui num teste de figurino.
174) O primeiro rascunho do que seria "a cara" do Etevaldo foi do enteado do Carlos Alberto Gardin, o figurinista do Castelo. Eles estavam brincando de desenhar e o menino desenhou um ET, que era mais ou menos assim...
175) A partir disso o Gardin entrou com tudo e resolveu deixar o Etevaldo supercolorido. Era um personagem muito útil pra "educar" as crianças: como era um ET, tinha a licença poética de não saber o que eram algumas coisas óbvias para quem mora na Terra – mas não pra criança.
176) O Wagner Bello foi escolhido, já contei aqui, por conta da participação dele numa peça – Enq, o Gnomo, pela qual ele ganhou o prêmio de Melhor Ator Infantil da Apetesp em 1993.
177) Ele mal conseguiu sentir o gosto de fazer sucesso com o Castelo. Em agosto de 1994, quando o Castelo tinha três meses no ar, ele foi pro hospital e acabou morrendo por insuficiência respiratória, em decorrência da AIDS.
178) O Castelo ainda estava sendo gravado – as gravações do programa foram até outubro de 1994, segundo lembram os atores. O Flavio de Souza acabou tendo que mexer nos roteiros e criou a Etcetera, a irmão do Etevaldo, que veio visitar o Castelo.
179) Ela era vivida pela atriz Siomara Schroeder e, na hora de explicar porque o Etevaldo não tinha vindo, deu uma das explicações mais bonitas possível. "Ele está brincando com as estrelas", disse ela. Aqui, o episódio:
180) Aliás, me perguntaram ontem sobre o fim do Castelo... bem, as gravações ocorreram entre maio de 1993 e outubro de 1994. Isso significa que quando o Castelo foi pro ar, ainda tinha gravação rolando.
181) Mais: que ainda tinha gravação rolando quando começaram as reprises.
182) Mas o Castelo, desde sempre, teria um começo, um meio e um fim. A princípio, ele ia ter só 70 episódios, mas acabou sobrando verba e deu para fazer 90.
183) Depois que as gravações acabaram, o cenário do Castelo ainda foi usado na gravação do especial de Natal, o Hora de Dormir. E ficou um tempão montado na Cultura -- o que não era comum, na verdade.
184) O que aconteceu foi que, logo depois do Castelo estrear, rolou eleição e o Mario Covas (PSDB) venceu o governo do Estado de São Paulo. E uma das coisas que ele fez foi fazer um corte no orçamento da TV Cultura. E aí não tinha grana para fazer novos programas.
185) E é por isso que o cenário do Castelo ficou de pé. Ele quase foi parar no Playcenter e quase foi vendido para uma emissora de Portugal, mas acabou sendo desmontado mesmo. Hoje, calcula-se que 2% do material do Castelo esteja preservado.
186) E isso inclui os figurinos que o Gardin criou e estavam na exposição do MIS e também alguns objetos de cena, resgatados pelo Silvio Galvão. Lembra desse dragão aqui? E da cadeira?
187) O Carlos perguntou sobre o incêndio na Cultura. Ele aconteceu em 1986, mas tem muita relação com o Castelo. É como eu abro o segundo capítulo do livro, inclusive.

188) Pra não estragar a leitura, vou dizer que o incêndio aconteceu alguns meses antes do Roberto Muylaert (pai da Anna e um dos brasileiros mais incríveis que eu já conversei) assumir a presidência da Fundação Padre Anchieta.
189) Quando ele chegou na Cultura, viu que tinha que reconstruir a emissora. Saiu fazendo reformas e criando programas -- ele é o responsável por Roda Viva, Ensaio, Metrópolis, Jornal da Cultura, Planeta Terra, Repórter Eco... e pelos programas infantis quase todos.
190) O primeiro que ele realmente fez foi o Rá-Tim-Bum - quer dizer, que foi feito na gestão dele. O resto eu explico no livro, mas dá pra dizer que sem o Rá-Tim-Bum e o sucesso dele, não teria Mundo da Lua, nem Castelo, nem essa thread, nem nada. Aqui o Muylaert, em 2014.
191) Ele também me deu a honra de ir na noite de autógrafos do Raios e Trovões. Junto com outros convidados muito especiais... mas isso eu vou guardar pra thread mais pra frente, porque não é sobre o Castelo, é sobre mim =P
192) Lembram que eu falei da entrevista com a mãe do Nino? O @Dr4ude publicou ela aqui. Feliz Dia das Mães pra vocês, mesmo se vocês tiverem 300 anos...
193) Aliás, explicando as relações familiares do Castelo: o Dr. Victor é tio do Nino. E a Morgana é tia-avó do Nino... e TIA DO DOUTOR VICTOR. O que é meio doido, na real.
194) Porque na época das gravações, o Sérgio Mamberti tinha 55 anos. Já a Rosi tinha 40.
195) O cabelo da Morgana, vale dizer, era natural! Dá-lhe laquê pra deixar ele todo espetado para cima. A Rosi conta que, quando saía das gravações, aí sim é que o cabelo dela ficava paracendo o de uma bruxa.
196) O figurino da Morgana, inclusive, era um dos mais caros do Castelo. Custou quase US$ 2 mil, segundo documentos que eu achei na Cultura. Vamos lembrar que na época o dólar custava R$ 1, ok?
197) Olha aqui que coisa maravilhosa os testes de figurino da Morgana. <3
198) Por falar em testes de figurino, vou fechar 200 curiosidades com eles. Olha aqui o Sérgio Mamberti em versões alternativas do Dr. Victor. Meio Einstein? Ou Salvador Dalí?
199) E o Nino de chuquinha e sardas?
200) Uma das coisas que eu mais adoro nos croquis do Gardin são os detalhes, dele descrevendo os figurinos. Olha esse aqui da Biba.
-- vai ser impossível entregar 7,6 mil curiosidades sobre o Castelo, mas a gente vai tentando. =P. vou fazer uma pausa aqui pra aproveitar o fim da luz do dia na rede, mas volto mais tarde <3 --
-- ok, vou continuar aqui até as 18h, que o @ViniciusFeIix vai me chamar já já pra gente gravar um podcast, hehe. quantas será que eu consigo até lá? --
201) Tá na hora de falar dela, a cobra mais amada do Brasil -- e para muita gente, a verdadeira dona do Castelo: a Celeste. Primeira coisa que eu queria falar é que ela pertence a uma família de cobras.
202) A Celeste é prima da Silvia, que era a cobra do Rá-Tim-Bum.
203) E também é prima da Suzana, que veio no Ilha Rá-Tim-Bum.
204) Ao contrário do que muita gente pensa, a Celeste não é dublada por uma mulher, mas sim por um homem. É o Alvaro Petersen, esse cara aqui da foto.
205) O Alvaro já tinha participado do Bambalalão e já estava escalado para fazer o Godofredo, o assistente do Mau. E a Cultura tentou porque tentou que fosse uma mulher com a Celeste, mas não tava rolando.
206) Aí o Alvaro resolveu tentar. No que ele colocou a mão na cobra e botou pra fora da árvore, o câmera levou um susto. "Tá viva!", teria dito ele.
207) Pra voz da Celeste, o Alvaro se inspirou na Bia Rosenberg, que era diretora de programação infantil da TV Cultura. E sim, ela tinha um sotaque beeeem específico e falava o Noooooooossa!
208) Quem criou a Celeste, porém, foi o Jésus Seda. E, bem, hora de eu entrar na história. Eu tinha entrevistado o Jésus em 2014, quando o Raios e Trovões era só um TCC. A entrevista foi incrível, no meio da exposição do Castelo no MIS.
209) Corta para 2019, quando eu finalmente consegui lançar o livro. Avisei todos os entrevistados de que o livro ia sair, mandei uma cópia autografada e convidei para o lançamento, na @livrariadavila. Foi num dia de chuva pesada em novembro -- afinal, Raios e Trovões.
210) Tô lá autografando um monte de livros (o que me deixou bem feliz) e do nada, o Jésus e o Alvaro aparecem pra me dar um abraço. Eu já fiquei feliz demais, mas eles disseram que tinham uma surpresa pra mim. Deu uma meia hora e...
211) Do nada, o Porteiro, o Mau e a Celeste entraram no meu lançamento. Eu nem sei o que dizer sobre isso até hoje. Mas tem vídeo da cena (graças ao @bferrari!) Ó só. instagram.com/p/B5f2H5enKPz/
212) Pensa que acabou? Não. Depois dessa zoeira maravilhosa, o Jésus ainda me conta que a Celeste que tinha participado desse momento incrível era um presente pra mim. E sim, eu tenho uma Celeste em casa. <3
213) Olha ela aqui mandando um oi pra vocês <3
-- cês desculpem a cara de sono e a barba de quarentena, hehe --
214) Ontem, também me perguntaram aqui sobre a audiência do Castelo. É doido: no começo, o programa fazia coisa de 6, 7 pontos no Ibope -- o que era um pouco melhor que a média que a Cultura fazia naquele horário.
215) Com o tempo, porém, ele foi ganhando tração. O sucesso não foi imediato, dizem quase todos os atores que eu entrevistei. Em julho de 1997, porém, o Castelo chegou a fazer 12 pontos no Ibope.
216) Não incomodou a Globo, mas sim o SBT. Não é à toa que, anos depois, a gente viu um programa como o Disney Club... mais conhecido como CRUJ! O Cao e a Anna Muylaert participaram, bem como a Claudia Dalla Verde (que foi roteirista de quadros do Castelo) e a Regina Soler.
217) O CRUJ teve seu nome inspirado no livro O poder ultrajovem, do Carlos Drummond de Andrade. A referência é da Anna Muylaert. E foi a edição mais anárquica e legal que o Clube do Mickey já teve.
218) (Antes do Cruj, que é de 1997, porém, o SBT investiu em várias novelas para crianças, incluindo Carrossel e Chiquititas. Era uma forma de frear um pouco a Cultura).
219) Ainda sobre audiência, uma coisa bem curiosa: o Castelo não foi o programa infantil que deu maior audiência para a Cultura. Não em picos, ao menos: o recorde pertence ao Mundo da Lua, que chegou a marcar 14 pontos no Ibope.
220) Uma rapidinha sobre o Mundo da Lua. A casa do programa existe de verdade: fica na rua Zapará, 97, em São Paulo. Antigamente era toda aberta, mas aí subiram um muro... goo.gl/maps/k2B3oMJcB…
221) (O que ninguém explica é como a família Silva e Silva, que vivia apertada de grana, conseguia morar numa casa enorme daquelas).
222) (Ou quase: em uma primeira versão do Mundo da Lua, tudo ia se passar num apartamento. Mas o cenário era uma confusão e tinha várias coisas meio atrapalhadas na série. E aí eles refizeram vários capítulos até chegar no formato que a gente conhece, com o gravador e tudo mais).
223) O gravador do Mundo da Lua também existia de verdade: era da marca italiana Geloso. Mas ele não funcionava de verdade, então o Silvio Galvão fez uma réplica, que acendia a luz. Quando o gravador está ligado, é a réplica que aparece. Quando não, é o de verdade.
-- hora de parar pra gravar com o @ViniciusFeIix! volto mais tarde. :D --
223b), com uma correção que pode ter ficado perdida – o Palácio das Indústrias não é do Coppede não.
224) Agora sim, retomando! Pediram pra eu falar do CD do Castelo. Ele saiu em 1995, por iniciativa dos músicos que já tinham feito a trilha do Castelo. Aqui tá o disco completo pra cês já irem ouvindo.
225) Além das músicas que já tocavam no programa, como as do Ratinho, do Passarinho e a Abertura, tinha várias músicas inéditas. A maioria delas, porém, não era exatamente inédita: eram aproveitamentos dos temas instrumentais que acompanhavam os personagens.
226) Repara em "Zeca, Nino, Pedro, Biba": ela é baseada em uma frase instrumental que rola TODA HORA na série. Foi feita pelo Luiz Macedo, que se juntou com o Fernando Salém pra fazer as letras:
227) O Fernando Salém também fazia parte da cena underground de SP. Ele tocava com a Marisa Orth na banda Vexame (aqui, numa reunião recente da banda).
228) Nessa trilha, tem algumas coisas incríveis – e outras nem tanto. Eu amo de paixão a moda de viola que o Pena Branca e o Xavantinho cantam pra "Caipora".
229) Tem esse reggae também do "Bongô" com o Skowa (aquele mesmo de "Atropelamento e Fuga") <3
230) Ainda no quesito trilha, tem também o disco do Hélio Ziskind, "Meu Pé Meu Querido Pé", que reúne músicas que ele fez pro Castelo, pro Cocoricó (tem "Tu Tu Tupi", que eu amo de paixão), pro X-Tudo e também pra uma série de programas especiais. open.spotify.com/album/4qbLfP9W…
231) O disco do Hélio também tem TODAS as versões gravadas do "Passarinho, Que Som é Esse?". Foi ainda o que catapultou a carreira dele como cantor/compositor infantil, em uma trajetória bem bonita.
232) Outra coisa legal sobre o Castelo é que havia desde o começo uma preocupação forte com representatividade. O trio de crianças tinha de ter uma menina. E desde os primeiros rascunhos, a Biba seria "mulata ou nissei".
233) Além disso, o Bongô foi justamente criado para também ter mais dessa representatividade entre os visitantes. E ele vestia uma pizza, porque, bem, ele era entregador da pizzaria. (Aqui, uma prova de figurino do Bongô, que eu acho bem parecida com o Aladdin?)
234) E que tal essa Caipora meio Tina Turner?
235) E esse... Telekid?
236) O Telekid, que nem apareceu na thread ainda, tadinho, era o Marcelo Tas. Foi um convite do Cao Hamburger direto pro Marcelo, que foi um dos principais responsáveis pelo Ra-Tim-Bum.
237) O Telekid foi um dos poucos quadros do Castelo que teve uso mais forte de computação gráfica e cromaqui.
238) Ele foi todo gravado de madrugada, no estúdio em que era feito o Jornal da Cultura, ao longo de um mês, mais ou menos.
239) A roupa do Telekid, no fim das contas, acabou sendo bastante inspirada na do Elroy, dos Jetsons. Definitivamente, o futuro não é mais como era antigamente.
240) Já a sacada do "por que sim não é resposta" veio do fato do Tas sacar que o Zequinha sempre perguntava tudo, mas não tinha ninguém pra responder. Era o nosso Google ancestral – o Google mesmo só surgiria em 1998.
241) Tem um capítulo todo no livro sobre a rotina de gravações, então não vou dar spoilers – é onde estão a maior parte das curiosidades. Mas te dizer: a rotina era puxada!
242) As crianças iam pra escola todo dia e um motorista já buscava elas da aula direto pra Cultura. Era raro que eles fossem juntos – até porque estudavam em partes diferentes da cidade.
243) Chegavam na Cultura por volta das 13h, almoçavam e depois já começavam a gravar – e isso ia até as 20h, pelo menos. Claro que tinha pausas para lição e para descansar, mas era corrido.
244) Também perguntaram sobre outras crianças no Castelo. Sim, é verdade! Elas aparecem em alguns episódios específicos – e são, na maior parte, atores que foram reprovados nos testes para ser Zeca, Biba e até mesmo o Pedro.
245) Uma delas, em especial, fez parte de um episódio muito muito incrível. A @jujucat fez teste pra Biba, mas não foi aprovada. Acabou virando a "Zula, a Menina Azul".
246) A Zula é uma menina que aparece do nada no Castelo, mas ninguém quer brincar com ela – só porque ela é azul.

(zula, azul, sacou? Rá)

É um episódio bonito sobre preconceito.
247) A Julia me contou que ficou muito maravilhada quando foi gravar no Castelo. E que ela se divertia muito e não conseguia parar de rir – e até tomou bronca do diretor de cena, o Fernando Rodrigues de Souza.
248) Foi só quando ela tomou bronca que conseguiu entrar no nível de tristeza que o personagem pedia. No fim, deu tudo certo <3
249) Não falei que eu descobri boa parte dessas informações sobre as crianças terem motorista... com um deles. O glorioso Seu Caruso, que muitas vezes me levou pra casa nos pescoções do Estadão, foi motorista da Cultura nos anos 1990 e me contou várias histórias.
250) Seu Caruso, que eu nunca descobri o nome de verdade, porque Caruso era apelido (aparentemente ele gostava de cantar, me disseram), morreu antes do livro ser publicado. Fica aqui a homenagem <3
-- chegamos a 250 curiosidades e eu preciso comentar com vcs aqui que... o livro chegou no top 1 de e-books da amazon. feliz demais e obrigado, mesmo <3

aliás, na loja kindle dá pra ler quase os dois primeiros capítulos na íntegra... é uma amostra grátis, hehe --
251) Cês sabiam que o Castelo também virou videogame? Ele foi lançado em 1997, pela TecToy.
252) Era um jogo anacrônico: em 1997, o Dreamcast já tinha sido lançado, mas o game do Castelo saiu mesmo para Master System.
253) Mas é porque era um dos videogames mais vendidos no Brasil na época. Veio na sequência de outros jogos brasileiros da tectoy, tipo Mônica e o Castelo do Dragão e Sítio do Picapau Amarelo.
254) Eu nunca consegui juntar um cartucho e um Master System em bom estado pra jogar. Mas já achei o jogo pra baixar para emulador (o Google ajudará você nessa missão, aposto) e ele era... difícil.
255) Alguns dos comandos eram meio duros e precisava ser muito exato pra acertar o pulo e as plataformas. É um jogo no qual o Zequinha toma uma poção e vira bebê. Você joga com o Pedro ou a Biba e tem que achar ingredientes pra fazer uma poção que reverta o feitiço.
256) O enredo do jogo era baseado todo em um episódio do Castelo, "Sua Majestade, o Bebê".
257) "Sua Majestade, O Bebê" também era o nome de um dos últimos episódios de Mundo da Lua – no qual o Lucas Silva e Silva ganha um irmãozinho... que na vida real, é o filho do Flavio de Souza com a Mira Haar (que faz a mãe do @LucianoAmaral na série).
258) Aqui tem um trechinho do jogo:
259) E aqui uma matéria que eu fiz pro @EstadaoLink em 2014, na onda da exposição do MIS, falando sobre o jogo. Tem uma entrevista com um dos game designers e com o presidente da Tec Toy: link.estadao.com.br/blogs/que-mari…
260) Várias pessoas aqui me perguntando detalhes sobre o gibi do Castelo. Vou confessar minha ignorância aqui e dizer que NÃO SABIA DISSO.
261) Segundo o Guia dos Quadrinhos, o gibi durou 20 edições, entre 1997 e 1999. É também a época que esteve em cartaz... a peça do Castelo!
guiadosquadrinhos.com/capas/castelo-…
262) Aqui uma frustração de criança: eu não consegui ver a peça do Castelo. Minha mãe queria me levar, mas sempre tava esgotado e era longe. Eu sou do ABC e a peça era no TUCA, o teatro da @puc_sp, em Perdizes.
263) A peça chamava Onde Está o Nino e tinha quase todos os atores. Era Beatlemania pura, todo mundo conta: várias sessões lotadas e muita criança pra conversar com os atores após a sessão.
264) O ingresso custava R$ 20 (era uma grana, na época!) e depois de SP, a peça rodou o Brasil. Os números não são tão exatos, mas fala-se em pelo menos 600 mil pessoas tendo assistido. Essa foto aqui, do Gal Oppido (que tocou no Rumo com o Hélio Ziskind) é dessa época.
265) (Também foi a foto que ilustrou a matéria sobre o meu livro no @Estadao, hehe, por isso eu tenho um carinho enorme por ela).
264b) deu pau na foto, peraí:
266) Perguntaram dos Dedinhos! Eu adoro eles. A música foi composta pelo Fernando Salém, e a animação pelo Marcos Bertoni.

267) Eles eram literalmente... dedinhos, colocados na mão. Mas para o Fura-Bolos, que era feito pelo Fernando Gomes, tinha um truque: além do dedinho em si, tinha dois fios de náilon costurados no dedinho, que permitia ao Fernando manipular o boneco! Um no rosto, outro na boca
268) Cada boneco custou US$ 400, segundo orçamento enviado pelo Marcos Bertoni pra Cultura na época do Castelo.
269) E aqui tá o vídeo de "Somar é Legal", um rockabilly animado que me fez aprender a... somar com os dedos.
270) Essa aqui é uma dúvida bacana... e é o seguinte. Não foram todos adultos porque o Cao achou que não ficaria legal adulto fazendo papel de criança, como no Chaves.

271) A ideia inicial era que o Nino fosse uma criança. Mas tem dois problemas: o primeiro é que ele tinha muitas, mas muitas falas. E como é o personagem principal da série, ele tinha muitas cenas. Ia ser difícil achar um ator mirim com tanta agenda e com habilidade de decorar td
272) O fato do Nino ter 300 anos ajuda, nesse caso, né? No filme, porém, que tinha uma estética um pouco mais realista, isso não funcionava – e por isso o Cássio não voltou pro papel.
273) O Guilherme (que é meu veterano de ECA, hehe) perguntou do filme. O Cao é quem comandou a parada. O Flavio chegou até a fazer algumas versões do roteiro, mas o Cao não gostou.

274) Isso, inclusive, ajudou a relação entre os dois a se desgastar bastante. Segundo os amigos mais próximos, são personalidades diferentes: o Flavio é um cara de muita criação rápida, o Cao é perfeccionista. E isso atrapalhou as coisas.
275) No fim das contas, o roteiro do filme é assinado por uma galera. Além do Cao, tem a Anna Muylaert, o Fernando Bonassi (que também foi roteirista da série), o José Rubens Chachá e...
276) oê oê oê, sim, ele mesmo, João Emanuel Carneiro. O autor de Da Cor do Pecado e Avenida Brasil também assinou partes do roteiro do filme do Castelo.
277) O JEC, como muita gente chama ele, também fez alguns roteiros de cinema bem legais – incluindo Central do Brasil e A Partilha.
278) Vamos falar do Ilha? Vamos. É um programa de gestação complicada.

Antes do Ilha, a Cultura chegou a trabalhar em dois projetos no universo Castelo – em alguns deles, até os personagens seriam mantidos. Era o Fazenda e o Planeta Encantado RTB.

279) Os dois aconteceram durante a gestão do Jorge da Cunha Lima, presidente que assumiu a FPA depois do Muylaert. Mas não eram exatamente projetos que foram pra frente. Já o Ilha, foi sim: o roteiro era do Flavio de Souza e um dos diretores era o Fernando Gomes.
280) Mas era uma época diferente pra Cultura: os recursos não eram os mesmos e o Ilha era um programa ambicioso – afinal, se uma ilha é um ambiente todo cercado de água, então é preciso ter como filmar essa água toda. É difícil. Na foto, a Angela Dip como a aranha Nhã-Nhã-Nhã.
281) A história era de cinco jovens que iam parar nessa ilha maluca – e tinham que passar um tempo pra descobrir como sair dela. O problema do Ilha, perto do RTB e do Castelo, é que ele era uma novela: se vc perdia um capítulo, era difícil acompanhar o resto da história.
282) Mas o Ilha tem coisas muito legais. Eu gosto bastante da música de abertura, que tem a @FernandaTakai:
283) Tem também essa versão de Pessoa Nefasta, do Gilberto Gil, que acabou sendo o tema do vilão Nefasto:
284) E não lembrava, mas tinha "Tribunal de Causas Realmente Pequenas" na trilha, uma das minhas músicas favoritas do Pato Fu. Isso aqui é formação de caráter.
285) O Ilha Rá-Tim-Bum também rendeu um filme, "O Martelo de Vulcano", que foi lançado em 2003. A direção foi da Eliana Fonseca. "Eu gosto do filme, mas não amo", me disse ela, que prefere que as pessoas assistam o Frankenstein Punk (item 6 da thread).
286) Ainda sobre a Eliana Fonseca, que foi a Cacilda do RTB e fez o Frankenstein Punk com o Cao... não dá pra acabar essa thread sem falar da Naná, a Babá. Ela aparece em um episódio em que o Dr. Victor contrata uma babá bem doida pra cuidar do Nino.
287) É uma personagem muito doida – e que tenta botar as crianças na linha. "Vamos bater palminha?"
288) Aí vocês me perguntam: essa thread tem fim? Olha, vai ter. E o Castelo, teve fim? Teve. Existe sim um "último episódio" do Castelo, chamado "O Dono do Castelo". Nele, o Dr. Abobrinha tenta aplicar um golpe dizendo que o Castelo estava cheio de impostos atrasados.
289) O valor é tão alto que a única saída pro Dr. Victor e pra Morgana é vender o Castelo.
290) É um dos poucos episódios em que quase todos os personagens se encontram – incluindo os visitantes. O tio Victor e a Morgana organizam uma festa de despedida, o Nino doa vários brinquedos e eles se preparam para mudar pra um apartamento.
291) Até que o Dr. Abobrinha entra na festa e revela que era tudo mentira. E é chamado pra participar da festa também. Mas ele encerra a série dizendo que "esse Castelo ainda será meu", quebrando a quarta parede e deixando um tom dúbio no ar.
292) É um episódio que mostra bastante uma das principais críticas que o Castelo traz: a especulação imobiliária. Afinal, o Dr. Abobrinha passa O PROGRAMA INTEIRO querendo derrubar o Castelo para fazer um prédio de 30 andares.
293) O que a gente não sabe é que, sem querer, o Pascoal da Conceição imitou o Silvio Santos pra compor o Dr. Abobrinha. E veio do subconsciente pq...
294) O Silvio Santos já foi meio Dr. Abobrinha – quando quis tirar do Bixiga o Teatro Oficina, do grande Zé Celso Martinez Correa. E do qual o próprio Pascoal participava. Foi justamente o Zé Celso que falou pro Pascoal que ele tinha incorporado o Silvio, uma coisa antropofágica
295) A história tá melhor explicada aqui, claro. Mas é isso, até o Homem do Baú apareceu no Castelo, hehe. cultura.estadao.com.br/noticias/teatr…
296) Eu não sei direito porque, mas nesse episódio 90, não tem trilha sonora de fundo. Só a voz dos atores. É bem doido. Outra coisa que acabei de perceber: não foi o último a ser gravado, porque o Etevaldo participa dele <3
297) E foi meio que foi assim que acabou o Castelo. Tem uma foto ótima dos últimos dias de gravação, a equipe toda reunida. Ou uma boa parte dela, pelo menos. Eu adoro essa foto <3
298) Foi um dia bem emocionante, me contaram os atores. Todo mundo chorou, claro. Mas todo mundo sabia que ia ter fim.
299) E é assim que eu também vou encerrar essa thread com... 300 posts de curiosidades sobre o Castelo. É humanamente impossível fazer 8,5 mil posts sobre o Castelo – talvez eu tivesse de começar a digitar o roteiro para cumprir a promessa. Mas acho que tá pago.
300) Eu ainda vou gastar uns tweets aqui de bônus track pra contar um pouco de mim, mas é isso. Obrigado a vocês todos pela companhia nas últimas 30 horas. Foi uma delícia contar muito do que eu sei sobre o Castelo pra vocês. Animou d+ um dos dias mais difíceis da quarentena <3
----- COMEÇANDO AS BÔNUS TRACK ------

Eu ia começar dizendo que 300 foi um número aleatório – só porque foi o número redondo mais bonito que eu cheguei a fazer antes de pensar "é tarde e amanhã é segunda-feira". Mas 300 também é o número de anos do Nino, então fica aí a poesia.
Muita gente me perguntou sobre meus personagens favoritos, inspirações e pq fazer o livro. Então vamos lá...
301? haha) meus personagens favoritos são "chatos". Eu amo o Gato Pintado e gosto muito do Pedro. Quando digo que são chatos, é porque... eles não são tão ousados e incríveis como a Celeste, a Penélope ou o Etevaldo. Mas são os que eu mais me identifico – desde criança. Nerd, né.
302) O Castelo era algo que eu gostava muito quando eu era criança. Eu via todo dia quando chegava da escola, como muitos de vocês. Vi o filme na época que estreou e visitei um pedaço do set que tava exposto no SESC Belenzinho.
303) Tinha a coleção inteira de livros (dois deles, inclusive, autografados pelo Flavio de Souza). Olha aqui eu, esperando meu autógrafo. Essa moça bonita de agasalho branco e azul é a "dona" Silvina, minha mãe, e a primeira responsável por me colocar na frente da TV pra ver.
304) Mas foi uma coisa que ficou "esquecida" durante muito tempo. Até quando eu tive que ir fazer meu TCC em Jornalismo. E eu precisava muito de um tema que eu não enjoasse em alguns meses. Aí entrou em cena a minha irmã, que é dez anos mais nova.
305) Eu conto a história direitinho nessa entrevista aqui do @_renanguerra pro @screamyell: screamyell.com.br/site/2020/02/0…
306) A primeira versão do livro acabou sendo meu TCC em Jornalismo na ECA-USP – e um dos meus maiores orgulhos de ter me formado lá é que, bem, foi onde se formaram gente como o Cao, a Anna e o Flavio. Aqui, o TCC e o livro, juntinhos: instagram.com/p/B4tSAqEH5LH/
307) O TCC é uma história de família. Na época de tirar as entrevistas, eu era estagiário do @EstadaoLink. Era puxado. Aí, meu pai e minha mãe resolveram entrar na força tarefa e me ajudaram a transcrever as entrevistas. Foi incrível: cada almoço era uma reunião de pauta.
308) Me formei, passei pelo @IGNBrasil e depois voltei pro @EstadaoLink. A ideia do livro ficou ali, sendo ruminada, por vários anos. Cheguei a escrever quatro versões diferentes, com muita ajuda de gente como o @daniel_lameira, o @ViniciusFeIix e a @__nacarol.
309) Em abril de 2019, eu tava de férias e vendo o Castelo completar 25 anos em breve. Resolvi que precisava de uma vez por todas dar um jeito de publicar o livro. E aí saí mandando propostas pra um monte de editoras. Acabei encontrando a @gruposummus e... cá estamos!
310) Escrever um livro é muito doido. Tem dias que eu até esqueço que ele existiu. Tem dias que eu não acredito em tudo que eu vivi nessa história toda – de conhecer ídolos de infância, ter uma Celeste em casa, ter virado entrevistado em vez de repórter...
311) E agora essa thread faz parte disso. Eu tenho escrito diariamente num jornal de grande circulação há alguns anos, eu falo na rádio, mas eu nunca tinha falado com tanta gente ao mesmo tempo. Teve mais gente curtindo esse fio do que no meu show favorito da vida (Bruce, 2013)
312) Foi uma honra, mesmo. Uma aula de como a internet é uma coisa linda e maravilhosa – e que a gente precisa defender que ela continue sendo preciosa assim.
313) Queria aqui deixar mais um pedido: pessoas, acreditem no seus TCCs. Tem muita coisa boa que precisa sair da gaveta e virar material bacana. Eu mesmo sei de uns cinco livros de amigos que poderiam virar best-sellers.
314) Não, não tenho um projeto de próximo livro nas mãos. (Uma ideia, no máximo... um sonho, quem sabe). Mas quem quiser me acompanhar fica ligado por aqui, hehe.
315) Além disso, vale o reclame: eu sou editor do @EstadaoLink, falo na @eldoradoradio toda segunda-feira, sobre tecnologia e também tenho o @indieeldorado com o meu querido amigo @igrmllr. E outras mumunhas mais.
316) Queria contar ainda que ganhei 700 novos seguidores com essa thread. Já vou avisando que aqui tem muita piada ruim, mas também tem muito papo sobre música e tecnologia. E, na medida do possível, bom humor. <3
317) Ah, mais uma coisa: quem quiser ler, tem duas entrevistas que eu fiz pro livro na íntegra publicadas no @screamyell. Aqui, a do Luciano Amaral: screamyell.com.br/site/2014/09/0…
318) E aqui, a do Hélio Ziskind, que tem muita coisa sobre o Rumo. (@LeandroGouveia, não sei se você leu, mas tem muita coisa boa aqui pra você)
screamyell.com.br/site/2014/09/2…
319) Uma nota de rodapé: eu já fui o louco que pediu pra @Netflix colocar o Castelo no catálogo. Mais especificamente, logo depois de acabar essa entrevista aqui. Netflix, ajuda nóis: link.estadao.com.br/noticias/geral…
320) And that's all, folks. Foi um prazer. Espero que cês tenham gostado (e tenham ficado com vontade de ler o Raios e Trovões). Ele segue à venda nas principais livrarias do Brasil. E aqui deixo um monte de links com entrevistas e podcasts sobre o livro: linktr.ee/noacapelas
O Bruninho de 1995 agradece <3
(olha a maquete aí de novo, hehe).
O de 2020 também <3
Boa noite!
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