No vídeo vazado da infame reunião, o ministro da educação do Brasil disse odiar os termos "povos indígenas" e "povos ciganos", porque "só tem um povo nesse país". Essa ideia, de inspiração fascista, foi até celebrada por Vargas na reinauguração do estádio do Botafogo, em 1938. 
O estádio de General Severiano, situado no bairro que dá nome ao famoso alvinegro carioca, foi inaugurado em maio de 1913. Com a força da sua torcida, em 1937, o Botafogo começou a chamada “Campanha pelo Cimento”, e arrecadou o suficiente para reconstruir o campo.
Naquele ano, o Brasil havia sofrido um golpe de Estado, supostamente para afastar a ameaça comunista (sempre ela). Vargas, no poder desde 1930, havia ampliado imensamente seus poderes e se convertido num ditador. O Estado Novo brasileiro em muito lembrava a Itália de Mussolini.
Entre as semelhanças, estava a ideia de uma união, uma identidade nacional coesa, indivisível e homogênea. Quando o Botafogo decidiu fazer uma cerimônia de reabertura para o estádio de General Severiano em 1938, Vargas viu ali uma oportunidade única para promover essa ideologia.
Portanto, foi feita uma apresentação simbólica: no centro do campo, um mapa do Brasil foi desenhado, usando porções de terra vindas de cada um dos Estados da nação. Era a representação física de que as identidades estaduais, na verdade, não faziam mais que compor um único povo.
O jogo marcado para aquele dia era entre o dono da casa reformada, o Botafogo, e o Fluminense, então o campeão carioca. Um jogo de alto apelo popular num estádio cheio. Em vez de lives no Facebook, o ditador de então usava o campo de futebol como sala de aula de suas ideias.
Não à toa, o Estado Novo baniu também as bandeiras estaduais. Não havia espaço para outra identidade que não a que Vargas imaginava como sendo a brasileira. Nessa época, aliás, o único local em que a bandeira de São Paulo sobreviveu foi no futebol, no distintivo do Corinthians.
Além, é claro, da popularidade do São Paulo FC, clube que representou a identidade paulista como algo separado da identidade brasileira varguista. Falamos bastante do Estado Novo por aqui recentemente, talvez pelas várias semelhanças com o atual governo...
