A nossa hemorroida. A liberação do vídeo da reunião ministerial de Bolsonaro por Celso de Mello, na sexta-feira, às 17h, foi o último grande evento nos grupos bolsonaristas no WhatsApp. Mas se alguém esperava tensão e desilusão na base do atual presidente, apostou muito errado +
A reação foi de júbilo generalizado. As falas de Bolsonaro parecem grotescas a vocês, mas são como néctar para bolsonaristas, q entendem a metáfora proctológica construída para representar a nossa liberdade. Em alguns grupos, o presidente foi saudado como um Bocage à brasileira +
Desde que Moro pediu demissão do Ministério da Justiça, os grupos bolsonaristas têm passado por um processo de decantação, uma espécie de separação do trigo do joio. Eles têm se tornado mais radicais e personalistas no apoio ao presidente. E isso ficou claro neste episódio +
O WhatsApp é uma espécie de hub bolsonarista. Ele permite q conteúdos da extrema-direita ganhem capilaridade. Por isso é comum q conteúdos publicados no YouTube ou no Twitter sejam rapidamente levados para msgs privadas, fechando um circuito q se beneficia da opacidade da rede +
É possível identificar o aparato de guerra montado para a liberação do vídeo a partir da intensidade da troca de mensagens nos grupos. A média de mensagens enviada por hora em cada um dos grupos, entre 0 e 17h, era de 6. No período posterior, tem-se um incremento para 22 msgs/h +
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É certo que menos de 25% dos usuários participam efetivamente enviando mensagens, e há sempre aquele que, sozinho, dispara algo em torno de 160 mensagens, o que lhe renderia uma média de 32 mensagens/hora +
Mas o fato é que o tema realmente mobilizou a comunidade bolsonarista. Se antes das 17h, era possível notar a ocorrência de termos relacionados à cobertura sobre a pandemia, como hidroxicloroquina, covid19, e saúde, depois, esses temas somem completamente +
Entre os 25 links mais compartilhados, 13 são de vídeos do YouTube, e há ainda presença marcante de conteúdos de canais como DunaPress, Terça Livre, Jovem Pan e Nação de Direita. Em alguns, eram compartilhados trechos da reunião ministerial apendidos de elogios ao presidente +
O destaque fica para um vídeo de cerca de 1min publicado por Olavo de Carvalho, entre 19 e 20h da sexta-feira, dizendo que Moro e Celso de Mello "não valem o que peidam". No que me compete, cabe dizer q o comentário de Olavão foi uma peça produzida para circular rapidamente +
Nesse sentido, Olavo e outros influenciadores políticos municiam a base bolsonarista no WhatsApp produzindo conteúdo just-in-time e com evidente caráter multiplataforma. De resto, a psicanálise pode explicar melhor do q eu a fase anal q aparentemente inocula os círculos do poder
[Uma parte desses dados foi apresentada nessa matéria da @bbcbrasil da ótima @julianagragnani: bbc.com/portuguese/bra…]
