🇧🇷 A história de Mahommah Baquaqua, um homem sequestrado em Delta do Níger na África e vendido como escravo é um dos poucos relatos da escravidão no Brasil pela perspectiva de um ex-escravo.
Ele chegou ao Brasil em 1845 e foi inicialmente escravizado por um padeiro em Recife:
Ele chegou ao Brasil em 1845 e foi inicialmente escravizado por um padeiro em Recife:
"Quando estávamos prontos para embarcar (para as Américas), fomos acorrentados uns aos outros e amarrados com cordas pelo pescoço, e, assim, arrastados para a beira-mar.
(...) Uma espécie de festa foi realizada em terra firme naquele dia. Não estava ciente de que essa seria minha última festa na África.
Feliz de mim que não sabia.
Feliz de mim que não sabia.
(...) Sabia apenas que era um escravo acorrentado pelo pescoço, e devia submeter-me prontamente e de boa vontade, acontecesse o que acontecesse."
"(...) aqueles horrores, ah! Quem pode descrever. (...) Nós fomos empurrados para o porão do navio em um estado de nudez, os homens sendo amontoados de um lado e as mulheres do outro; o porão era tão baixo que não podíamos levantar;
(...) dia e noite eram os mesmos para nós, o sono nos era negado devido à posição de nossos corpos, e ficamos desesperados pelo sofrimento e cansaço;
(...) Oh! o cheiro repugnante daquele lugar horrível nunca será apagado da minha memória; pelo contrário, enquanto a memória ocupar seu lugar nesse cérebro distraído, lembrarei disso.
Meu coração até hoje dói ao pensar nisso;
Meu coração até hoje dói ao pensar nisso;
(...) A única comida que recebemos durante a viagem foi milho cozido. (...) sofremos muito por falta de água, mas nos foi negado tudo o que precisávamos. Uma caneca por dia era tudo o que era permitido, e nada mais; e muitos escravos morreram na passagem;
(...) Quando cheguei à costa, fiquei agradecido à Providência por ter mais uma vez a oportunidade de respirar ar puro; (...) permaneci nesse mercado de escravos por um ou dois dias, antes de ser novamente vendido a um traficante de escravos na cidade;
(...) ... que novamente me vendeu a um homem; um padeiro que não residia a uma grande distância de Pernambuco.
Outro trecho:
(...) "Fui levado para a casa de meu mestre, que amarrou minhas mãos atrás de mim, colocou meus pés juntos e me chicoteou sem piedade, me batia na cabeça e no rosto com um pau pesado, depois me sacudiu pelo pescoço;
(...) "Fui levado para a casa de meu mestre, que amarrou minhas mãos atrás de mim, colocou meus pés juntos e me chicoteou sem piedade, me batia na cabeça e no rosto com um pau pesado, depois me sacudiu pelo pescoço;
... e bateu minha cabeça contra o batente da porta, me cortando e machucando as têmporas; as cicatrizes desse tratamento selvagem são visíveis neste momento, e permanecerão assim enquanto eu viver. "
Em 1847, Baquaqua ficou sob a propriedade de Clemente José da Costa, capitão e co-proprietário do navio Lembrança.
Em abril de 1847, o Lembrança deixou o Brasil para comercializar produtos em Nova York.
Em abril de 1847, o Lembrança deixou o Brasil para comercializar produtos em Nova York.
Tendo consciência de que Nova York era uma "terra de liberdade", Baquaquqa escapou do Lembrança. Mais tarde, ele foi enviado para a prisão, escapou da cela e, com "a assistência de ... amigos", fugiu para Boston.
De Boston, ele recebeu passagem para o Haiti. Foi lá que ele se familiarizou com o Reverendo William L. Judd, um missionário batista, e se converteu ao cristianismo.
No final de 1849, ele navegou com a esposa de Judd para Nova York, onde se matriculou no New York Central College. Com sua educação, Baquaqua esperava retornar à África como missionário.
Embora Baquaqua desapareça do registro histórico após 1857, a narrativa registrada de sua experiência como homem livre e escravizado sobrevive.
Foto: Retrato de carregadores, Bahia, 1900.
Foto: Retrato de carregadores, Bahia, 1900.
