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Foucault e Agamben estão mais atuais do que nunca, e a nova geração de filósofos recorre a eles sem pestanejar. O Youtuber exposto em um suposto caso de pedofilia é uma demonstração clara da chamada sociedade da intimidade - para usar uma expressão do Byung-Chul Han. +
Ele consegue como poucos ligar os pontos da contemporaneidade a começar pelo capitalismo neoliberal, que transforma tudo e todos em mercadoria. A intimidade, na era da exposição, da transparência, também vira mercadoria. E a ciência da exatidão, do cálculo, guia nosso tempo. +
A intimidade está para todos a qualquer momento, de modo acelerado, geralmente em tempo real. O passar do tempo das redes sociais desafia o tempo natural. Nossa intimidade exposta pode ser assistida e julgada por todos, independentemente do lugar. Quando e onde confundem-se. +
Segundo Richard Sennet, a modernidade é uma vitrine na qual se expõem e se vendem intimidades. A vida nua de Agamben exposta por essa vitrine neoliberal exige de todos nós um imediato julgamento, e o fazemos como fôssemos pan-ópticos com poderes soberanos sobre a vida do outro. +
A relação entre exposição, intimidade, observação e julgamento imediato do corpo e da vida do outro é uma consequência do biopolítico nos tempos das novas mídias. O Estado e a lei são entregues ao poder social, onde indivíduos observam e julgam uns aos outros o tempo todo. +
Até mesmo o kafkianismo ronda o espectro da sociedade da intimidade e da observação do outro. Quando julgamos o suposto, que pode ser o 'fake', o forjado, colocamos o outro numa situação de desamparo que beira o desespero. A distância entre o acusado e os julgadores é anulada. +
O íntimo, seja ele um crime ou uma 'fake news', é transformado em produto de acusação e punição. Vigiamos e punimos em tempo cada vez mais recorde, sem auxílio da justiça e do estado. O julgamento social contra o 'suposto' é soberano, mesmo que tudo possa ser revisto. +
Cabe a nós entendermos o papel das redes sociais e da exposição em tempos de fetiche da imagem e da intimidade. Ao contrário do que parece, não somos livres, nunca fomos. Entender o poder do olhar do outro sobre nossa vida nos faz sermos mais conscientes e responsáveis.
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