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Evito muito debater por aqui, mas hoje vale trocar essa ideia sobre policiais antifascistas e o corporativismo:

O argumento de que não é possível criticar determinadas funções dentro da sociedade porque isso as afasta, não apenas é limitado, mas é conservador... segue o fio...
Sou Ecossocialista. Isso demanda uma radicalidade imensa no sentido de doar o melhor da sua energia de vida pra acabar com a exploração, com todas as opressões e com a destruição do planeta.

A existência da polícia Militar e a função que cumpre se relaciona com todas as três. +
Reorganizar totalmente nossa sociedade nas suas formas de produção e reprodução da vida não é algo utópico: é o único caminho possível pra gente evitar o colapso ambiental (pela emergência climática e outros limites) e a barbárie completa em nossa sociedade.

Daí o desafio... +
Como em outras categorias de trabalhadores (e, sim, policial militar é trabalhador precarizado) as condições de trabalho que são IMPOSTAS pelo andar de cima (seja o Estado ou os grandes capitalistas) muitas vezes são degradantes e o próprio fruto do seu trabalho também. +
Ninguém escolhe ser treinado sob tortura nem escolhe sofrer uma doutrinação contra-insurgente formatada pelos EUA na Escola das Américas pra transformar nossas forças de segurança em aparelho de manutenção neocolonial, que criminalizam a pobreza na lógica de inimigo interno +
A desmilitarização da polícia militar e a mudança pra uma polícia de ciclo completo, com mentalidade servidora comunitária e de base popular interessa, antes de tudo, aos próprios trabalhadores e às pessoas mais pobres das periferias que são alvo na sua “guerra aos pobres” +
Falar de desmilitarização implica falar de mudanças profundas concomitantes e uma retaguarda de investimento social pra tratar as demais questões de precarização, exploração, racismo, lei de drogas e tantas outras que violentam nosso povo diariamente. São várias ações conjuntas +
Entre essas ações está a necessidade de uma transição justa para os trabalhadores da polícia militar. Que mantenham sua garantia de sobrevivência, que possam ser formados para essa nova atuação e reparados pelos anos que passaram (eles também) por essas violações... +
Às pessoas que estão fora dessa categoria mas entendem a necessidade de mudança nela, é necessário empatia pra pensar uma transição justa e sabedoria para dialogar sobre isso da melhor forma.

Quem está atuando por dentro, requer ainda mais sabedoria e consciência de classe +
Isso porque apenas a POLITIZAÇÃO pode te dar os instrumentos para lutar em defesa dos trabalhadores por questões importantes como salário, segurança no trabalho e etc mas, SEM deixar de conectar essa luta à construção de uma nova sociedade no geral. +
É o que faz, por exemplo, sindicalistas do carvão, óleo ou gás lutarem por transição energética e empregos verdes. É o que faz estivadores de portos se recusarem a descarregar navios do sionismo e apartheid israelense. É o que faz até motoristas de ônibus liberarem a catraca... +
CONSCIÊNCIA DE CLASSE e solidariedade revolucionária internacionalista🐜🌎

É a única coisa que pode fazer com que uma categoria lute por menos sofrimento de ser classe, em si, mas não abra mão da totalidade e de pensar uma sociedade nova que finalmente seja para essa classe... +
Quando vejo trabalhadores tentando mudar a polícia militar por dentro, eu admiro bastante. É uma sensibilização de longo prazo e que pode ter pequenas vitórias interessantes. Mas acabar com a guerra aos pobres e a repressão estatal é um debate também de toda a sociedade... +
Quando quem está lá alega que quem não vive a dinâmica da corporação não sabe (ou até não pode) opinar ignora que essa polícia militar, além de ser a que mais morre, é tambem a que mais mata... Ignora o genocídio negro que é resultado sistêmico da função social dessa corporação +
Não tem atalho: se a ideia é fazer da sua atuação interna algo de verdade a serviço da luta dos povos, é necessário politizar e tratar os temas difíceis sem paternalismo ou corporativismo.

A forma de diálogo precisa ser sempre a melhor, mas precisa existir de forma franca +
Em ocupações e resistências ao longo da vida, eu sempre fui daquelas pessoas que dialoga com a polícia (tanto negociando com comandantes quando necessário como trocando ideia mesmo com trabalhadores de baixa patente). Sempre falei abertamente sobre a função social que cumprem +
Não consigo nem contar a quantidade de vezes que policiais com quem tínhamos diálogo se envergonhavam das ações que eram ordenados a fazer.

Não consigo contar os pedidos de desculpas ou até as vezes que choravam enquanto cumpriam ordens sob pena de prisão por insubordinação. +
Sempre falo abertamente da necessidade de desmilitarização da polícia (portanto, sim, o fim da Polícia Militar) e o quanto isso é importante pra categoria. E não apenas os policiais não costumam achar ruim, mas criam respeito genuíno por quem está ali fazendo esse diálogo. +
Acabar com a Polícia Militar, desenhar uma nova ideia de segurança pública adequada e conectada a uma sociedade justa igualitária e integrada com a Natureza é a missão mais importante de quem se dedica a fazer trabalho por dentro, ou quem debate e constrói por fora da categoria +
Abrir mão desse debate porque “quem tá dentro hoje não vai entender e vai criar rejeição” é abandonar sua maior missão de início.

É colocar a polícia militar numa caixinha à parte do resto da população de 212 milhões de pessoas que precisam de segurança pública de verdade +
É necessário politizar. É necessário criar vínculos e proporcionar experiências de comunhão e convergência entre as lutas e as construções de mão na massa.

Fortalecer os vínculos genuínos com os territórios, com a luta dos 99% pra derrotar a doutrinação de inimigo interno +
Uma referência (posso dizer liderança) nessa construção precisa, entre todas as pessoas, exercitar mais ainda a capacidade de dialogar os temas difíceis com empatia e acolhimento.

Precisa despertar nos irmãos ao lado a mesma vontade de uma transformação radical da sociedade. +
As coisas podem ser totalmente diferentes do que são hoje. Elas precisam ser para que evitemos a barbárie e a extinção.

Vale a pena exercitar esse senso de urgência e essa consciência de classe tambem no importante debate de segurança pública. :)

Só assim a gente vence!
Um grande abraço pra cada uma e cada um de vocês. Espero que essa reflexão agregue de forma positiva ao debate.

Vambora transformar esse mundo! 🌎💜
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