Série de reportagens da Agência Pública com o The Intercept Brasil revela detalhes da atuação dos Estados Unidos e do FBI na Lava Jato: por que procuradores brasileiros se encontraram com americanos e qual o interesse dos EUA na operação. 
Com a participação do FBI em investigações envolvendo a Odebrecht, a empreiteira brasileira pagou a maior multa mundial de corrupção: um valor de US$ 2,6 bilhões.
Especialistas ouvidos pela reportagem destacaram problemas em cooperar com autoridades americanas sem passar pelas vias oficiais.
"Há elementos muito sensíveis, como a soberania nacional e questões de relacionamentos entre Estados que órgãos do sistema de justiça de menor hierarquia não estão preparados para avaliar”, diz o prof. Eduardo Pitrez, da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande.
O envolvimento nebuloso do FBI na Lava Jato foi questionado pelo procurador Vladimir Aras: "A questão não é de conveniência. É de legalidade", ele afirma em uma das mensagens recebidas e analisadas pela reportagem. agen.pub/LJeFBI
Entre policiais que têm até página no LinkedIn e outros com nomes genéricos e desconhecidos, apuração da Agência Pública e do The Intercept Brasil identificou 13 agentes que participaram das investigações para o governo americano em solo brasileiro. agen.pub/Agentes
Um desses agentes é George “Ren” McEachern, que nunca escondeu sua relação com a Lava Jato. "Ren" se descreve no site da empresa de consultoria Exiger, onde trabalha atualmente, como aquele que implementou uma nova estratégia global no FBI para investigar temas de corrupção.
Com o envolvimento na Lava Jato, diversos agentes americanos foram promovidos e os recursos do FBI aumentaram 300% para investigar a corrupção em outros países. Além disso, novos escritórios da agência estadunidense foram abertos para tratar de crimes financeiros.
A legalidade da intervenção do FBI é questionada, pois é proibido a qualquer polícia estrangeira realizar investigações em solo brasileiro sem autorização expressa do governo brasileiro. Polícias estrangeiras não têm jurisdição no território de outros países.
A influência do FBI e do governo americano na Lava Jato envolve também a repartição da multa dos Estados Unidos à Petrobras e encontro com agentes americanos fora dos registros oficiais.
Em 2015, o coordenador da Lava Jato Deltan Dallagnol recebeu em Curitiba uma delegação dos EUA composta por 17 pessoas, entre procuradores americanos e agentes do FBI. Não foram emitidos documentos oficiais sobre essa visita. agen.pub/DeltaFBI
Então ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo foi surpreendido pela presença dos americanos. Nem mesmo os nomes dos presentes foram repassados ao MJ: “Eles consultem o DOJ, porque eles pediram que mantenhamos confidencial”, responde Dallagnol.
Depois do encontro, houve uma articulação dos procuradores com os americanos para que os principais delatores da Lava Jato fossem interrogados nos EUA. Na prática, informações sensíveis sobre a Petrobras ficaram em mãos americanas. “Estão com faca e queijo na mão”, afirma Deltan.
As negociações envolveram uma multa que os EUA deveria impor à Petrobras. Assim foi feito: em 2018, a empresa assinou um acordo com o DOJ e pagou US$ 862.560 milhões. A expectativa dos procuradores brasileiros era de ter parte nesse dinheiro. agen.pub/LJPetro
80% do valor da multa veio ao Brasil. Quanto à destinação, um mês antes de assinar o acordo a com Petrobras, Deltan e o Procurador da República do Ministério Público Federal Roberson Pozzobon planejaram criar instituto ou empresa e dar palestras anticorrupção.
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