Sobre a história da Naja que picou um estudante de Medicina Veterinária em Brasília, informações que eu consegui há 9 anos podem explicar o submundo que trouxe essa cobra até aqui.
Para quem não sabe como uma Naja chegou aqui, adianto que provavelmente ela nasceu no Brasil. Em 2012, consegui informações sobre uma rede nacional de tráfico de répteis. As Najas eram trazidas e reproduzidas aqui por um único criador, que fazia as transações pela internet.
O negócio envolvia desde troca com outros criadores por espécies brasileiras, até venda para serviços de feitiçaria. Uma Naja albina para feiticeiros chegava a custar R$ 50 mil. Pasmem, amulta máxima que um traficante pega por bicho é de 5 mil.
Na época, o Ibama foi informado, mas desconheço o desenrolar da história. E cabe dizer que esse submundo de criadores ilegais de exóticos não é novidade. É muito fácil achar grupos no Facebook, por exemplo.
Nesse meio, onde os criadores reproduzem ilegalmente as espécies, rolam muitas permutas. Pode ter sido o caso desse estudante. Desses anos pra cá, as Najas caíram na mão de muita gente e é bem provável que não seja mais um ponto central de distribuição.
Essa história é um combo de absurdos. Além do tráfico e do manejo manual de uma espécie estrangeira altamente letal sem soro disponível no Brasil, o animal ainda foi abandonado em área pública. Mesmo dentro da caixa, o risco é enorme.
Essa irresponsabilidade esgotou a única dose de soro disponível no país, reservada ao Instituto Butantan, que mantém um exemplar. Isso coloca tratadores em risco até que a importação de uma nova dose chegue. E, infelizmente, o rapaz não reagiu bem ao soro.
Digo infelizmente, porque espero do fundo do coração que ele sobreviva. Família nenhuma merece essa torcida pela morte, por um erro que deve ser corrigido pelas vias legais. Que ele saia dessa, pague pelos erros e ajude a desmontar o esquema. Essa Naja é só a ponta do iceberg.
