Thread by @lucasmafaldo

Olavo falou um negócio muito importante nessa última entrevista que geralmente passa batido: o brasileiro, no fundo, é meio masoquista.

Eu acho que ocorre algo estranho na alma brasileira. Tem tanto sofrimento inevitável que as pessoas desenvolvem uma espécie de gosto pelo...

... sofrimento. Elas começam a achar que a melhor solução para qualquer problema é o que for mais sofrido, não o mais efetivo.

Por exemplo, esse negócio do coronavírus é exatamente assim: as pessoas ou acham que tem que deixar todo mundo pegar ou trancar todo mundo, sem...

... tentar enxergar medidas intermediárias.

Eu tenho parentes que estão em lockdown completo desde que isso começou (evitando até sair na rua para caminhar, por exemplo). Ou seja, são meses de um nível altíssimo de estresse, isolamento social, falta de atividade física e sol.

Obviamente, não estou falando que era para as pessoas estarem fazendo churrasco, indo para boates, etc., mas não dá para imaginar nada entre esse 8 e 80?

Eu caminhei todos os dias desde que esse negócio começou. Algumas vezes, encontramos amigos no caminho e conversamos...

... mantendo um pouco de distância. Alguns vizinhos faziam o mesmo, conversando à distância, cada um com um copo de vinho ou cerveja, no fim da tarde.

Para algumas pessoas, isso vai parecer irresponsabilidade. Eu acho justamente o contrário: irresponsabilidade é adotar...

... um nível de restrição insustentável.

Essas alternativas intermediárias aumentaram MUITO a nossa saúde nos últimos meses, nos permitindo inclusive dar apoio à pessoas que, sem o menor exagero, teriam se matado se não tivéssemos feito nada.

Obviamente, não nego a gravidade do vírus (que já me preocupava lá em janeiro), mas também não menosprezo a gravidade do isolamento completo.

E acho assustador a facilidade com que as pessoas aceitaram passivamente tudo isso.

No fundo, esse lockdown radical e indeterminado...

... parece ser realmente a próxima etapa lógica do desenvolvimento da sociedade brasileira.

Desde a escalada da violência nos anos 90, nós fomos perdendo os espaços públicos. Nós crescemos jogando bola na rua, e depois fomos migrando para videogames, condomínios fechados, etc.

O mundo do brasileiro se tornou cada vez mais restrito, mais asfixiante. Fora do núcleo estrito da família e amigos mais íntimos, havia sempre o medo de assalto ou golpes.

Esse processo de restrição existencial foi parcialmente aliviado pela internet (e, por isso...

... passamos tanto tempo online), mas a própria internet se tornou uma ferramenta de enlouquecimento, prendendo todo mundo em um ciclo constante de alarmismo político.

O lockdown, então, foi o coroamento final desse processo, o último grau de restrição: antes se saía de casa...

... apenas para ganhar dinheiro e trabalhar (nos tornando ainda mais um povo consumista, materialista, sem hobbies e sem contato com a natureza) e agora não se pode mais fazer nem isso.

Só assim consigo explicar que estão fechando praias e parques por causa de um...

... vírus que precisa de proximidade para se transmitir.

Não faz sentido como política pública, mas faz sentido em uma perspectiva de masoquismo generalizado. Se privar de parques e praias dói, então deve fazer bem. É que nem aquela ideia de que remédio bom é remédio amargo.

O que é de uma estupidez completa. Ser feliz não é um luxo desnecessário. As emoções positivas fazem bem à saúde física e te dão energia para trabalhar mais, para pensar com mais clareza, resolver problemas e enfrentar dificuldades.

Ou seja, sofrimento desnecessário não é...

... heroísmo. É, na verdade, uma irresponsabilidade, porque retira sua capacidade de agir no mundo com eficiência e ajudar os outros.

Inclusive, é esse o tipo de coisa que eu pretendo falar mais no podcast (que espero publicar semana que vem) e na newsletter.

Se quiserem acompanhar (tudo "di grátis", é claro), é só entrar aqui: subscribepage.com/o2p5z3