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O MUNDO PÓS-PANDEMIA, SEGUNDO BRANCOS:

REFLEXÕES SOBRE UMA NOVA VIDA BRANCA

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“Primeiro, será mesmo que eu deveria ocupar meu tempo falando desse desserviço?”

Sim, pois acabei de ver mais uma vez ele sendo anunciado na TV em programa nacional. Sim, pois foi feito por uma grande editora, a @ednovafronteira. Sim, pois são 50 autores responsáveis.
Este é um livro com 50 autores brancos que se pretende debater o mundo pós-pandemia. Mudanças de consumo “da arte e do humor ao poder judiciário e economia”.

Com “Nomes de peso”, “estas páginas constituem o que já de mais qualificado a respeito do mundo que nos espera”
O MUNDO PÓS-PANDEMIA desse livro é um mundo que ignora pessoas não-brancas e pobres. É um mundo que representa o 1% mais rico do Brasil.

Um mundo que ignora que as manifestações nos EUA pós morte do George Floyd foram as maiores desde o assassinato de Martin Luther, em 1968.
O MUNDO PÓS-PANDEMIA desse livro ignora que o movimento Vidas Negras Importam também tomou o centro das discussões no Brasil, inclusive na TV aberta.

“Mas e se o livro foi fechado antes dessas manifestações?”

Bom...
1. O Brasil é um país majoritariamente negro não é de hoje. Pelo menos desde o CENSO 2010 e alguns dos autores convidados se dizem publicamente sensibilizados pelo debate sobre representatividade.
2. As manifestações foram em início de junho. Não seria um pouco precoce um livro que propõe reflexões sobre uma nova vida que sequer saberemos como será, já que por aqui nem chegamos no tal pico ou estabilização?
Que MUNDO PÓS-PANDEMIA é esse que não ouviu comunicadores e ativistas de favelas que foram os agentes ESSENCIAIS pra driblar minimamente a FOME que a ausência de governo operante e os ricos jamais seriam capazes de contornar?
Que MUNDO PÓS-PANDEMIA é esse que desconsidera metade da população do país que se dispõe a debater?

ESSE MUNDO PÓS-PANDEMIA NÓS JÁ CONHECIMOS.

O mundo em que os brancos só ouvem e leem os brancos, que só os brancos tomam decisões existe muito ANTES de pandemia.
Que MUNDO PÓS-PANDEMIA é esse que ignora que as maiores vítimas da pandemia são pessoas negras e pobres? Vítimas da fome, morte, falta de assistência em saúde, do desemprego.

Negros e pobres não podem ser protagonistas sequer dos eventos que os atingem mais profundamente?
É uma doce ilusão do ego branco acreditar que o mundo anterior foi criado a partir de suas reflexões.

Quem botou o Brasil de pé foram os negros e indígenas. É quem produziu e produz ferramentas, tecnologias sociais de sobrevivência, comidas, festas, quem movimenta dinheiro.
O anterior não foi. O próximo não será.

O MUNDO PÓS-PANDEMIA será um mundo ainda mais desigual, com aumento da fome, da precariedade e isso tudo é resultado de políticas segregacionistas BRANCAS.
O MUNDO PÓS-PANDEMIA se preocupará mais com representatividade e proporcionalidade, infelizmente não pelo imenso mérito de pessoas negras, indigenas, LGBTs, PCDs, mas porque os patrões estão com medo da patrulha virtual. O racismo está sendo filmado e está doendo no bolso.
Esse livro representa TUDO do mundo pós-pandemia que eu não quero viver, porque é a repetição do mundo que eu já vivemos. Se o destino continuar esse, somente pessoas brancas tendo direito a falar, não há novidade e não precisa de livro novo pra ditar regras que já existem.
Eu acho uma vergonha e desde que esse livro chegou na minha casa na semana passada, estamos em estado permanente de constrangimento. Vergonha alheia, por uma equipe de mais de 60 cérebros, os “mais qualificados” terem produzido algo tão intelectualmente pequeno. minúsculo.
Responsabilizo não somente a @ednovafronteira e o organizador do livro por esse projeto, mas também cada um dos 50 autores que aceitaram participar.

É obrigatório no mundo que vivemos, questionar e cobrar proporcionalidade. Caso contrário, a vergonha é exclusivamente de vocês.
Quero viver no MUNDO PÓS-PANDEMIA em que eu possa me apoiar nas reflexões de

Sueli Carneiro
Jurema Werneck
Raull Santiago
Ailton Krenak
Emicida
Flávia Oliveira
Winnie Bueno
Morena Mariah
Ale Santos
Babá Adailton Moreira

e tantas outras que nos direcionam para um NOVO mundo.
E fica o convite para outras editoras lançarem livros com reflexões de pessoas negras, indigenas e pobres.

“O pequeno manual antirracista” foi o livro mais vendido do Brasil por três semanas consecutivas.

O mundo mudou. Só vocês não querem ver.
Por fim, se você que também acha esse projeto um acinte e alguem que você admira participou dele, vale cobrar e questionar essa pessoa, sim. Não eram as vidas negras e indigenas que também importavam?

Nem entrei no mérito de serem 13 mulheres e 37 homens, mas fica a info. É como se a população só Brasil fosse composta por 26% de mulheres e 74% de homens.

Mas, no caso, nossa população é majoritariamente feminina. (E mulheres negras são maioria).
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