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Vamos falar hoje do conluio latifúndio, militares, justiça e igreja? Então vamos falar do massacre do Caldeirão de Santa Cruz do Deserto lá no Crato, Ceará. A comunidade foi atacada por 200 militares e 2 aviões do exército em 1937. Segue o fio.+
Por que elas foram atacadas? Essa comunidade é a segunda formada por José Lourenço, beato, preto, filho de uma família alagoana que se mudou para o Juazeiro do Norte em 1890 (pós-abolição). Ali se juntaram ao louvor ao Padre Cícero.+
Ele recebeu o título de Beato no próprio Cícero. Em 1894 ele arrenda um sítio em Baixa da Anta e começa a receber pobres e flagelados, por vezes mandados do Juazeiro por Cícero. Acusado de fanatismo e culto a um boi que ganhou do Padre Cícero, foi preso em 1926.+
Pois bem, o proprietário vende o sítio e o novo dono expulsa a todos sem indenizar pelas benfeitorias. Cícero os envia para uma de suas muitas fazendas: Caldeirão de Santa Cruz do Deserto. Onde a comunidade se organiza com trabalhos coletivos e autosubsistência. +
"Havia no Caldeirão cerca de 5 mil almas e jamais houve um crime no povoado. As faltas e contravenções praticadas por alguém eram julgadas na própria comunidade". +
revistas.usp.br/revusp/article…
"a comunidade caminhou para a autossuficiência, produzindo quase tudo de que precisava: desde roupas e sabão até panelas, copos e baldes".
"transformou-se num oásis, sua paisagem verde e farta contrastava com o cenário de abandono das terras dos grandes latifúndios nordestinos"+
Enfim, muita gente, produção coletiva, ninguém passava fome, produziam suas próprias roupas. Aí o latifúndio pensou: porra, e os trabalhadores para eu poder explorar? FIzeram o que então? Acusaram de comunismo por conta da vida comunitária, igualzinho:+
Pois bem, esta comunidade de pretos, indígenas, marginalizados vai atrair a sanha violenta. José Lourenço se refugiou na Serra do Araripe em 1930 porque foi acusado de participar da Intentona Comunista. Marxismo prático, como chamavam na época.+
As pessoas pobres buscavam o Caldeirão e conselho do Beato e se admiravam com a vida comunitária e relativamente farta ante a pobreza e seca da época. Inclusive muita gente que peregrinava para Juazeiro passou a ir pra lá. Resultado? Mais perseguição.+
Com a morte de Cícero em 1934, a fazenda não foi doada para José Lourenço. Então a comunidade ficou desprotegida legalmente. A Igreja passa revindicar a posse. As autoridades querem uma intervenção para evitar uma nova Canudos.+
O pretexto foi uma caixa vinda da Alemanha que chegou na comunidade e os latifundiário e militares disseram que eram armas, quando era apenas uma NS das Dores. Em 11 de setembro (que data meus amigos) de 1936 policiais civis e militares destruíram 400 casas de taipa.+
O beato se refugiou nas matas do Araripe. Os bens saqueados e levados para o Crato, as casas demolidas. As autoridades diziam que o beato estava nas matas preparando emboscada, mas o fato é que a comunidade era pacifista e não reagiu.+
memorialdademocracia.com.br/card/comunidad…
O povo começou a voltar para a comunidade e um bando chefiado por Severino Tavares montou resistência contra militares que tentavam seguir intimidando as famílias que viviam entre as matas da região. Mataram um capitão (serasse a história tá dando um recado?) e outros.+
A 11 de maio de 200 homens e 2 aviões do exército atacaram milhares de pessoas que só queriam produzir seu próprio alimento. O pedido foi feito pela Igreja Católica. Quem autorizou? General Eurico Dultra. 7ª Região Militar, 23º Batalhão de Cavalaria quem cumpriu.+
Severino Tavares veio a morrer na fuga, mas já na Bahia. Os camponeses pobres morreram sem saber nem que iam ser atacados. Sem chance de defesa. Contam mais de mil mortos. José Lourenço tentou retornar para o sítio em 1938 e foi expulso pela Igreja. +
O beato entrou com ação na justiça contra o Estado para que pagassem as benfeitorias e seu pedido foi negado. Ele morreu em 1946 em Exu, Pernambuco.+
O Estado brasileiro é assassino aqui e em outro momentos da história. Alguns pontos. A autonomia precisa ser combatida para que sobre mão de obra precarizada disponível. Qual experiência que produza soberania alimentar é um risco para o latifúndio que produz miséria.+
Não é possível se refugir e tentar viver em paz. Há uma guerra contra nossos povos. Nosso caminho precisa necessariamente passar pela grande luta para derrotar o racismo, o capitalismo, o patriarcado. E a terra é o meio de produção que mantém o poder nas mãos dos mesmo aqui.+
É urgente dar centralidade a terra tomando-a e vingando nosso povo ao mesmo tempo que fazemos justiça social, produzimos alimento, renda, moradia para nossos povos. Não há saída que ignore o latifúndio tampouco desenvolvimento aliado aos filhos dos senhores de escravos.
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