EUA ameaça impor sanções em empresas que participam da construção do gasoduto russo para a Europa - Nord Stream 2. Vamos entender as razões e contexto. Thread 👇🏼:
A política externa russa na Europa tem uma grande força motriz: gás natural. O gás russo impede milhões de europeus de congelar no inverno e mantém várias indústrias rodando.
25% do gás natural consumido na Europa vem da Rússia. Metade do gás alemão é russo, 60% do gás da Grécia e Áustria, 80% da na República Tcheca, 100% na Finlândia e Bálticos entre outros.
Isso explica um pouco a reação apática de vários países europeus quando a Rússia anexou a Crimeia e a Europa ficou de boa, reclamando de longe.
O gasoduto Nord Stream liga a Alemanha. O Blue Stream no sul leva gás a Turquia. O gasoduto Yamal atende a Polônia e a Rússia. Todos se ampliam para atender outros países europeus.
O Nord Stream 2 vai aumentar o abastecimento para a Alemanha, Áustria, Hungria e outros países europeus. Esse aumento na dependência do gás russo é o que incomoda os EUA. Pq?
Os EUA vivenciaram uma explosão na produção de gás de xisto e se tornaram auto-suficientes. Resta exportar essa energia e capitalizar não só financeiramente mas politicamente. Para transportar, esse gás precisa ser liquefeito = LNG (Liquefied Natural Gás).
No entanto, quem recebe esse LNG precisa de uma infra específica. Sem terminais portuários específicos, esse gás não pode ser convertido para uso. Assim, os EUA buscam matar dois coelhos com uma “caixa d’água só”, como dizia Dadá Maravilha:
O desenvolvimento de infra para receber o LNG americano faria o investimento na ampliação do Nord Stream 2 perder valor. Além disso, ofereceria um canal alternativo de energia que poderia finalmente enfraquecer o peso russo na política europeia.
A Alemanha não gostou muito dessa ideia, e segue firme no objetivo do Nord Stream 2. Assim, os EUA cogitam sanções contra empresas que estão no projeto: Gazprom, Engie, Uniper, Wintershall e OMV.
O que está em jogo é a capacidade histórica que a Rússia tem de dar as cartas na política energética da Europa. Os EUA podem finalmente interromper isso, mas as controvérsias de Trump com aliados da Otan não ajuda nesse momento (isso inclusive gera antipatia em Berlim).
A RUS não irá deixar barato as ofensivas americanas no campo energético. A ALE tem um papel crucial: estimular o avanço do Nord Stream 2, frear e partir com tudo para terminais LNG ou ficar quieta e deixar rolar? O mais provável é que a Europa seguirá se aquecendo com gás russo.
