Sobre o artigo do Coalizão no NEJM: nejm.org/doi/full/10.10…
Louvável a honestidade dos autores em admitir com clareza as várias limitações do trabalho. Eles usaram odd ratios (razao de chances), que indicam quantas vezes a chance de alguém ter um desfecho pior tendo tomado HCQ é maior do que alguém que nao tomou.
Esse valor deu perto de 1, o que sugere nao ter diferença nenhuma. o problema é que, como os autores mesmo admitem, esse resultado é consistente com intervalo que vai de 0,69 até 2,11. Isso significa que pelo estudo, tomar HCQ pode ser melhor, reduzindo os riscos a 69%
ou ser muito pior, aumentando os riscos em mais de duas vezes. Segundo os autores, isso nao permite descartar nem dano nem beneficio substanciais. Ou seja, o estudo nao permite concluir nada. Além disso, nao foi cego, foi um estudo aberto.
e o grupo controle teve que incluir pessoas que já tinham usado HCQ, porque nao foi possível recrutar um grupo controle adequado. e a HCQ acumula no organismo, logo, pacientes podem ter entrado no estudo ainda com HCQ no corpo.
além disso, houve desvio de protocolo também, porque segundo os autores, foi dificil manter os pacientes dentro do protocolo indicado. Diante de tudo que já foi publicado até agora, esse estudo nao acrescenta muito.
Pode ter um efeito retórico importante para o Brasil, por ter sido feito aqui. Mas as limitações certamente serão exploradas pelos cloroquiners para dizer que o estudo nao diz nada. Dada a plausibilidade previa do fármaco e as dificuldades enfrentadas pelos autores,
é um estudo que nao deveria ter sido realizado...talvez alguns estranhem minhas criticas, mas eu nao posso deixar de apontar falhas em um trabalho só porque ele confirma o que outros mais robustos já demonstraram, assim como foi o caso da Lancet.
E claro que o fato de o estudo nao ter sido bem sucedido nao invalida os RCT anteriores e os excelentes estudos publicados na Nature essa semana de modelo animal e in vitro.
