Quantas vezes você já foi o gato de Schrödinger?
Imagine que você recebe uma terapia médica desnecessária - que nem aumenta nem diminui suas chances de sobreviver. Você lembrará bem dela apenas porque sobreviveu. É o que eu chamo do viés cognitivo “do gato de Schrödinger”.
Imagine que você recebe uma terapia médica desnecessária - que nem aumenta nem diminui suas chances de sobreviver. Você lembrará bem dela apenas porque sobreviveu. É o que eu chamo do viés cognitivo “do gato de Schrödinger”.
Ponha-se na pele do gato: vai ser colocado numa caixa com material radioativo que pode (ou não, mesma chance) ativar um martelo que quebrará uma caixa contendo veneno. As chances do gato sobreviver ou morrer são as mesmas. O gatinho só lembrará do experimento se sair vivo dele.
A realidade paralela em que a cobaia morreu, por não existir do ponto de vista do sobrevivente, é facilmente negligenciada, mesmo que aquele risco real tenha ocorrido - e, para o gato, ocorrido com tanto "realismo" que, por alguns momentos, ele esteve “vivomorto”.
A vantagem do gato sobre você é que, caso fique vivo, ele sairá ileso do experimento. Você, possivelmente não.
As complicações das terapias médicas normalmente são bem toleradas exatamente pela ilusão que o paciente tem que aquela terapia o salvou.
As complicações das terapias médicas normalmente são bem toleradas exatamente pela ilusão que o paciente tem que aquela terapia o salvou.
É esse o viés cognitivo que ocorre quando supervalorizamos uma terapia que não nos trouxe benefício estatístico. Como só existimos na realidade em que sobrevivemos, tendemos a ficar gratos mesmo que a terapia tenha trazido riscos ou determinado adversidades.
