1) No meu meio século de vida, o Brasil teve sete moedas. Salário recebi em seis. É natural que o anúncio súbito de nova cédula de R$ 200 provoque na juventude curiosidade, nos mais velhos, calafrio. Hiperinflação, quem teve tem medo.
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2) As projeções para o IPCA são tão baixas que devem obrigar o presidente do BC a explicar a Paulo Guedes, o motivo de a inflação de 2020 ficar abaixo do piso. O câmbio já desvalorizou uma barbaridade. Um ano atrás, um dólar custava R$ 3,79; ontem, R$ 5,15.
3) É verdade que acumular dinheiro sujo em notas maiores reduz o tamanho das malas, mas ninguém no Brasil jamais deixou de malocar reais porque o valor de face das cédulas era baixo.
4) Caberá à Casa da Moeda a produção das notas de R$ 200. A estatal, ainda na lista de privatizáveis do governo Bolsonaro, se livrou de perder o monopólio da produção de papel-moeda em abril, quando caducou a Medida Provisória 902/2019.
5) O BC, desde 2018, está liberado para encomendar no exterior moedas e notas, mas a alta do dólar e a urgência emprestaram competitividade à Casa da Moeda. No ano passado, um lote de moedas de R$ 0,05 e R$ 0,50 comprados da Holanda demorou quatro meses para chegar ao país.
6) Em plena pandemia, o Brasil bateu recorde de R$ 342 bilhões em circulação. Uma explicação é o pagamento a 65 milhões de brasileiros do auxílio emergencial de R$ 600. A Caixa optou por abrir contas digitais. Os beneficiários foram às agências. In cash we trust, ensinaram.
7) A possível ressurreição da CPMF na forma de contribuição sobre transações eletrônicas também tende a anabolizar o interesse por dinheiro físico. É colateral conhecidíssimo. Famílias — e até empresas — optaram por tirar recursos dos bancos para pagamentos e reserva financeira.
8) A autoridade monetária, então, desengavetou o lobo-guará para a nota de R$ 200. Ele foi o terceiro animal mais votado para estampar cedulas numa consulta popular de 2001, que deu vitória à tartaruga-marinha (R$ 2) e vice-liderança ao mico-leão-dourado (R$ 20).
