Sobre a controvérsia Econ de hoje nas redes antissociais
Chega as ser engraçado que, sempre que alguém critica o "mainstream", aparece patrulha para dizer que não existe "mainstream".
A ironia é que a resposta evidencia o problema do "mainstream", qual seja...
... achar que quem não compartilha de suas preferências de tema e metodologia em economia não é economista.
Prefiro uma abordagem mais plural, pois economia é uma área de estudo (não arrisco chamar de ciência) bem complexa e diversificada.
No caso da macro, é natural que acabe dominando o debate, pois a maioria dos economistas no Brasil trabalha no mercado financeiro ou governo.
E o complexo macro-finanças, assim como esportes, gera notícias diárias. Outros temas nem tanto, mas não são menos importantes por isso
E ficando na macro, um debate recorrente, de Keynes vs Neoclássicos até hoje é, dado um choque ou crise, o governo deve fazer algo ou ficar olhando?
A resposta às crises de 1929, 2008 e de agora mostram quem venceu este debate na prática.
Mas na teoria...
Há uma discussão conceitual se o sistema tende a voltar ao equilíbrio após um certo tempo.
Para novos clássicos a resposta é sim e rápido! Daí seu desconforto em adotar medidas Keynesianas contra crises para atender às demandas da sociedade.
O desconforto fica visível quando...
...dizem que as açõe anticrise são temporárias, que tem que acabar logo (qualquer semelhança com a postura da atual ekipeconômica não é coincidência).
Voltando à pergunta, em contraste com os Novos Clássicos, os Novos Keynesianos acham que...
... a economia tende a voltar ao equilíbrio, mas que isto leva muito tempo. Daí a necessidade de políticas mais ativas de estabilização, ainda assim temporárias, se você entender como temporário algo que possa durar décadas.
E a crise de 2008 fez até alguns NK revisarem...
... suas posições, aceitando que choque de curto prazo podem alterar a tendência de longo prazo, logo não há que se falar de equilíbrio de longo prazo.
A visão acima aproxima os NK dos pós-Keynesianos, que desde sempre enfatizam não ser possível separar...
... demanda e oferta no longo prazo. Obviamente os NK não reconhecerão isso formalmente (olha aí existência do Mainstream), mas modelos com path-dependence e histerese são basicamente o que os PK dizem e fazem há muito tempo.
Mas estou escrevendo demais. O ponto principal é...
... estude o que você gosta, de modo honesto e objetivo. Seja macro, micro ou sei-lá-o-que, não se impressione com sumidades dizendo que somente isto ou aquilo é pesquisa séria ou de qualidade. Sempre haverá patrulha, e o progresso nunca vem da patrulha.
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2/Toda regra fiscal deve conter cenário de dívida pública e resultado fiscal (primário, corrente, operacional, nominal, estrutural, etc).
Mas meta de dívida pública é mais complicado, pois ela depende de juro e crescimento (r menos g), além de variações cambiais e esqueletos.
3/Colocar meta de dívida como gatilho para medidas automáticas de receita (tarifaço ou desoneração) e gasto (shutdown ou festa do centrão) é convidar problema.
Imagina uma variação súbita da dívida causada por choque cambial, ou por decisão do supremo.
"O professor da Universidade de São Paulo (USP) José Pastore afirma que a sanção da prorrogação da desoneração ainda neste ano é importante para não comprometer os planos de investimentos das empresas no ano que vem." g1.globo.com/politica/notic…
Há 10 anos: mudança da base de contribuição patronal ao INSS, da folha para o faturamento, inicialmente com desoneração. Na nova realidade do mundo do trabalho, esse é o caminho para evitar o fim do emprego formal. E em vez de debater o fim do sistema...
... seria mais útil discutir a elevação gradual da alíquota sobre o faturamento, de modo a aumentar os recursos para previdência social. Para quem acha que isso é coisa só do Brasil, segue o que o Japão fez em 2019 (depois de medida similar em 2014).
Regra fiscal problemática
+
Recusa em corrigir regra fiscal problemática enquanto havia tempo
=
Acúmulo de pressões econômicas e sociais que, quando explodem, geram saída desorganizada da regra fiscal problemática
Sobre tamanho do Estado do Bem Estar e nível de renda:
"There is no clear net GDP cost of high tax-based social spending on GDP, despite a tradition of assuming that such costs are large."
Do Peter Lindert, no NBER
rhttps://www.nber.org/papers/w9869
E o Lindert escreveu um livro sobre isso (por que tamanho de carga tributária e rede de proteção social é escolha política sem efeito negativo sobre nivel de renda)
Spoiler: democracias controlam excessos, para um lado ou para o outro.