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Atendendo a pedidos (na verdade apenas um pedido, do @netoazevedo), vamos à nossa tradicional thread sobre a adesão do Pará à independência do Brasil.

Segue o fio (+)
A história da Amazônia integrada ao Brasil se inicia em 1616, com a fundação de Belém por Francisco Caldeira Castelo Branco a partir de uma expedição vinda de São Luiz (MA).
O objetivo era ocupar a região para garantir sua posse, já que outros europeus já zanzavam por aqui (+)
Portugal e Espanha dividiram a América pelo Tratado de Tordesilhas (1494), porém no período Portugal e Espanha eram governados pelo mesmo rei (o da Espanha, Filipe III).
A linha de Tordesilhas cortava Belém, um monumento na atual Praça D. Pedro II marca onde a linha passava.
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O rei de Portugal e Espanha permitiu entrada de tropas portuguesas ao longo dos rio Amazonas e seus afluentes para a fundação de fortes militares de forma a repelir a presença de outros povos europeus.
A partir desses fortes surgiram Belém (PA), Manaus (AM) e Macapá (AP)
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A região amazônica era uma colônia à parte na América, denominada de Estado do Maranhão, depois renomeada para Estado do Maranhão e Grão Pará e finalmente Estado do Grão Pará e Maranhão, no século 18 quando Portugal estava sob o comando do Marquês e Pombal
Pombal é importante porque ele transfere a capital do Estado do Grão Pará e Maranhão para Belém, a cidade sobre algumas reformas para se adaptar ao novo posto, ganham destaque as obras do arquiteto italiano Antônio Landi
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A atual região norte do Brasil e grande parte do nordeste não possuíam a mínima identificação com o restante da América Portuguesa (Estado do Brasil), as regiões tinham em comum apenas o fato de serem súditas do mesmo rei.
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No final do século 18 e início do século 19 a economia do Grão Pará era predominantemente extrativista, principalmente das chamadas "drogas do sertão" (cacau, pimenta, guaraná, etc...) com a agropecuária em ascensão (+)
O domínio político do Grão Pará estava concentrado nas mãos de um grupo de comerciantes e militares identificados com Portugal, Belém era um dos portos mais ativos no comércio com Lisboa
Porém, o avanço da agropecuária criava uma elite "local" dona de terras.
Quando D. João e a família real portuguesa chegam ao RJ fugindo do Napoleão (1808), a situação no Grão Pará era de disputa política entre a "tradicional elite portuguesa" de comerciantes e a "elite local" dona de terras.
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O grupo identificado com Portugal era acusado de agir de forma violenta e criminosa contra opositores, é nesse contexto que chega de portugal, onde se formara em direito, Felipe Patroni.
Patroni trazia uma tipografia e iniciava a produção do "O paraense" (+)
O jornal de Patroni se posicionava a favor da "elite local", grupo que queria aumentar sua participação política e ocupar cargos importantes na província.
Enquanto a rivalidade entre "portugueses" e "paraenses" aumentava, em Portugal ocorria a Revolução do Porto.
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A Revolução do Porto (1820) representou a retomada do controle de Portugal pelos portugueses, as medidas mais importantes foram: a volta da família real portuguesa e a recolonização do Brasil.
O Grão Pará, que ficou isolado com a família real no RJ, comemorou a revoluçao (+)
o sudeste e sul, favorecidos com a liberdade comercial adquirida durante a permanência da família real, não aceitavam a ideia da recolonização.
No Grão-Pará tanto "comerciantes portugueses" quanto "paraenses" juraram fidelidade à Portugal.
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D. João voltou a Portugal mas deixou seu filho, D. Pedro, como seu representante na América. O Grão-Pará deixou D. Pedro no vácuo e se comunicava diretamente com Portugal.
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Contudo, internamente, o Grão Pará vivia uma disputa política intensa entre os "paraenses" e os "portugueses".
Excluídos dos principais cargos, os "paraenses" passaram a defender a adesão do Pará ao Império Brasileiro como forma de aumentarem a sua participação política
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É nesse contexto que estoura a primeira revolta local no dia 14 de abril de 1823, onde participaram personagens como Bernal do Couto, Boaventura da Silva, João Balbi, Domingos Marreiros, Diogo Moia e todas ruas do bairro do Umarizal.
Foi só a primeira faísca.
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O clima de tensão entre "portugueses" e "paraenses" só aumentava.
Em julho de 1823, tropas comandadas pelo mercenário inglês Thomas Cochrane chegavam a Bahia, eram enviadas pelo imperador do Brasil, D. Pedro I, com o objetivo de forçar a adesão das províncias rebeldes (+)
Cinco províncias nao aderiram à independência do Brasil: Ceará, Bahia, Piauí, Maranhão e Grão-Pará.
Os mercenários ingleses forçaram a adesão da Bahia (2 de julho) e do Maranhão (28 de julho), Ceará e Piauí aderiram após guerras civis entre grupos pró e contra independência.
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Faltava apenas o Grão Pará.
Para forçar a adesão da última região da antiga América Portuguesa, Cochrane mandou seu imediato, John Pascoe Grenfell até Belém para "negociar".
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Grenfell chega ao Grão Pará e encontra uma Belém dividida pelas disputas políticas entre "portugueses" (leais ao rei de Portugal e ocupando os principais cargos políticos) e "paraenses" (favoráveis à adesão ao império a fim de conquistarem maior protagonismo). (+)
Grenfell chegou a Belém e deu um ultimato à junta de governo (formada majoritariamente por "potugueses"): ou aderiam ao império ou seriam bombardeados por uma frota de navios de guerra posicionados estrategicamente.
Assustada, a elite "portuguesa" selava o acordo com Grenfell(+)
Em 15 de agosto de 1823 o Grão Pará era a última região a aderir ao império brasileiro.
A elite "portuguesa" caiu no golpe da esquadra de Grenfell, não havia navios pra bombardear a cidade.
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Contudo, a forma como a adesão se deu, sem qualquer tipo de mudança no comando do Grão Pará, irritou a população em geral e inflamou um clima antilusitano que já existia na cidade.
Em 15 de outubro de 1823 estourou uma revolta que exigia a saída dos portugueses do poder (+)
Os revoltosos também defendiam a nomeação de sua princial liderança, o cônego João de Batista Campos, pra governar a província.
A revolta expulsa os "portugueses" do palácio de governo e começa a montar sua própria junta.
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os "portugueses" expulsos do poder recorreram a Grenfell para restaurar a ordem, o mercenário inglês foi às ruas de Belém tocando o terror: meteu seis headshot de cara, amarrou a cabeça do Batista Campos na boca de um canhão e mandou prender 256 envolvidos no porão de um navio(+)
Os prisioneiros foram amontoados em um porão minúsculo do navio (brigue) Palhaço, onde ocorreram vários distúrbios.
Os soldados do navio atiraram no chão do convés (teto do porão) e no buraco das balas jogaram cal, matando asfixiados quase todos , apenas 5 sobreviveram (+)
O massacre do Brigue Palhaço foi um dos episódios mais sangrentos da história paraense e brasileira, marcou a memória da população, alimentou por anos as rivalidades políticas na província e influenciou na eclosão da maior guerra civil brasileira, a Cabangem, 12 anos depois.
FIM
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