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[THREAD] Nos últimos dias, surgiu uma treta na comunidade do autismo que ilustra bem uma discussão muito importante que a gente precisa ter: a participação de autistas em eventos de autismo.

Sim, agora temos que falar sobre isso.
Nos últimos anos, vários autistas, no ativismo local e na internet, começaram a exigir a participação de autistas como palestrantes em eventos sobre autismo. Até tempos atrás, autistas apareciam só em atos culturais, como um "bônus" em eventos.
Eu fiz parte entre essas pessoas que exigiram isso. Em Goiânia, durante uma audiência pública no início de 2018, questionei educadamente uma mesa formada só por profissionais e pais. Já era a segunda audiência sem qualquer autista discutindo os temas. Nem tinha o podcast ainda.
Mas, então, vamos a questão: As organizações de eventos reagiram abrindo espaço pra autistas num nível bem maior do que há uns 3/4 anos. E isso foi ótimo, abriu portas pra muita gente boa. Só que o foco apenas na representação criou um outro problema.
Qual foi o problema? Em muitos desses eventos (especialmente os especializados), autistas foram chamados para relatar apenas suas "experiências". E, bem, temos autistas de todos os tipos. Existem autistas pesquisadores, por exemplo. E eles só podem falar sobre suas experiências?
Note: Se um evento especializado em um tema chama um autista para falar suas experiências, de forma dissonante com as outras palestras, qual o ganho disso? Estamos sendo chamados pra cumprir uma cota para que não haja confusões/dores de cabeça?
Isso ocorreu comigo uma vez. Fui convidado p/ palestrar e o tema que eu tinha escolhido era autismo no ensino superior. Tenho alguns artigos acadêmicos e uma reportagem com base no tema há anos. Mas fui "sugerido" a deixar isso de lado e falar de experiências. Isso é violento!
A representação é importante, mas não é só a participação de autistas que vai resolver essa desigualdade na comunidade. Muito pelo contrário, ao meu ver, chamar autistas pra falar sobre autismo só pra cumprir uma "cota" é uma das formas de operação do capacitismo.
E aí vem a questão que eu tenho conversado com muitos autistas. Não dá pra pensar só em representação, temos que pensar a capacitação de autistas. Não há uma cena de autistas pesquisadores no Brasil. Nem no campo das ciências sociais, das ciências biológicas, na medicina.
Na minha concepção, autistas tem que estarem em eventos sobre autismo falando de igual pra igual com quaisquer outros pesquisadores, por exemplo. Há muita coisa pra ser feita. Eu acho que é possível avançar. Mas temos que pensar como está sendo feita essa "inclusão".
Mas aí tem outro perigo que a gente não pode cair. Entender que autistas não estão se encaixando em temas de alguns eventos não pode ser uma desculpa para que organizações de eventos não pensem ou não se preocupem com isso.
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