Uma das coisas que eu concebi lendo Demian foi a importância de dar o devido valor ao sofrimento.
Por motivos biologicamente óbvios, nós corremos atrás de uma visão hedonista da vida. Quanto mais prazer, melhor. E com isso vem todo aquele repúdio à dor.
Qualquer situação adversa é vista com pesar.
Qualquer coisa que vá em sentido contrário ao do pleno prazer é um estorvo — mais um momento ruim que teremos que superar, tornando a experiência de viver cumulativamente desgastante.
Nessa corrida hedonista, é comum ver pessoas entregando-se ao universo dos prazeres.
Comida em excesso, bebida em excesso, cigarros em excesso, fotos em excesso. Afinal, não seria essa a atitude mais racional? Perseguir cegamente tudo que nos concede prazer e refuta a dor?
A contradição torna-se clara quando observamos o que leva algumas pessoas aos extremos. A busca incessante por prazer torna a noção de monotonia muito mais comum. Na ausência de algo que a deixe imersa, embebida pela satisfação, todo resto se assemelha à dor.
Justamente aquela que ela tanto repudia.
A solução cômoda é aumentar a dose. Inicia-se o ciclo que todos conhecemos.
A menos óbvia, contudo, é aumentar o custo de oportunidade. Passar não só a abrir mão de demonizar o sofrimento, mas até mesmo a buscá-lo, em certas situações.
Ter ao seu lado o constante lembrete de que há situações extremamente desagradáveis torna o simples fato de não estar inserido em uma delas uma fonte de prazer.
Quanto mais baixa a régua, menor a necessidade do entretenimento barato pra se constatar feliz.
O sofrimento tem seu valor na vida.
Pesa a balança. Deixa explícito o que é ruim e, ironicamente, o que é bom.
Nos deixa mais impassíveis frente às aleatoriedades da vida.
E, acima de tudo, permite viver uma vida aprazível, mesmo com pouco.
That's it, acabou o horário de almoço. Voltarei ao trabalho.
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