Thread by @djmangueira

Sobre a discussão sobre rodízio/troca de jogadores: minha formação esportiva é do futebol de salão/futsal. Joguei localmente dos 8 aos 28 anos; com 23, já tinha virado treinador de equipes femininas (sim, sou treinador há metade da minha vida). Então, tô mais que habituado.

Na atual regra do futsal, o time pode ter até 9 reservas. As possibilidades de trocas são infinitas, já que não tem limite de substituição. Por eu ter dirigido, prioritariamente, equipes sub20, minha ideia de jogo passava pela utilização de 3 quartetos de linha

No 1º tempo, em jogos normais, todos os 12 atletas de linha jogavam pelo menos 5 minutos. Essa estratégia já era combinada previamente e, nos treinamentos, o desafio era montar os quartetos que mais se encaixavam

(eu já tive uma formação Matheus: os 5 tinham o mesmo nome)

No futebol, a cultura do revezamento entre atletas é ainda um tabu por aqui. Durante muito tempo, a ideia vigente era de ter dois times: o principal, pro torneio onde o clube briga com mais chances pelo título; e o "B", pras demais competições

Felipão usou esse expediente no Palmeiras em 2018 e foi campeão brasileiro, basicamente com um time "pros domingos" e um time "pros meios de semana" (alguns atletas repetiam de acordo com a necessidade).

Já Renato tem apostado no time forte nas copas, deixando o BR "de lado"

Jorge Jesus veio no ano passado com uma estratégia diferente: trocas pontuais jogo a jogo, usando o intervalo entre os jogos como descanso/recuperação. Sampaoli, no Santos, com um elenco mais curto (quali/quanti), explorou ao máximo as trocas que conseguia fazer, e foi 2º lugar

O calendário maluco desse ano tem um componente importante que não pode ser desprezado: a pandemia do covid-19 (que não acabou, embora já se discuta a presença de torcida nos estádios). Muitos atletas foram infectados, ainda que assintomáticos ou com sintomas leves.

Não sabemos ainda quais as sequelas que o vírus deixa nos organismos (mesmo nos dos atletas). Some-se a isso o acúmulo de jogos com pouco tempo para repouso/recuperação, viagens longas e pouco tempo para ajuste e treinamento: está desenhado um cenário caótico

Coudet, no Inter, teve problemas (lesões+covid) e vem tentando encontrar um time que seja competitivo dentro e fora de casa. Thiago Galhardo em grande fase, de meia virou atacante 'fazedor' de gol. Zé Gabriel, de volante, virou zagueiro. E as trocas são inevitáveis.

Sampaoli continua com seu estilo agressivo fora e dentro de campo. Já jogou com 3 zagueiros, com zagueiro de volante, com 3 atacantes. Vai girando as peças que a MRV ofertou ao Atlético. Troca lá seus 3, 4 jogadores em quase todo jogo.

Domènec topou o desafio de vir para o Flamengo e eu não tenho muitas dúvidas de que será bem sucedido. Não só por ter um elenco de alta qualidade, que possibilita muitas trocas sem aparente perda de nível. O time entendeu que mais difícil que ser campeão é ser bicampeão

Não ter tempo para treinamento é uma realidade dos 20 clubes da série A. Alguns, como o Atlético, que disputa o torneio de forma exclusiva, pode ter vantagem a partir deste mês, com mais folgas. Estamos em uma corrida onde todos trocam os pneus com os carros em movimento.

O campeonato vai ter um nível técnico baixo por conta de tudo que foi exposto neste fio. O mais importante neste instante é vencer os jogos. Cada torcedor tem suas predileções em relação ao time titular, e isso não pode ser desrespeitado ou ignorado.

Porém, para o torcedor do Flamengo, eu deixo algumas opiniões:

1) o time vai encaixar, mais rápido do que se acredita
2) não pode existir cadeira cativa
3) acomodação é inimiga do sucesso
4) elenco é pra ser utilizado sim
5) a quem interessa um Flamengo fragilizado?

#SRN