Thread by @samydana

Quase quatro décadas atrás, aumentar preço era assunto de polícia. Durante o plano cruzado, em mil novecentos e oitenta e seis, gerentes de supermercado eram presos se consumidores denunciavam que algum valor desrespeitava o congelamento de preços.

Eram os tempos da tabela da antiga SUNAB - Superintendência Nacional de Preços. Essa tabela apontava o valor máximo que um produto podia custar e era publicada nos jornais. As pessoas iam ao supermercado com ela e verificavam. Se fosse o caso, podiam denunciar abuso.

Em alguns casos supermercados foram fechados ao som do hino nacional. Pareciam tempos remotos, que ficaram no passado. A SUNAB, afinal, não existe mais desde mil novecentos e noventa e sete - foi extinta pelo governo.

Mas essa quarta-feira deixou um cheiro de anos oitenta no ar com o anúncio de que a secretaria nacional do consumidor - SENACON, ligada ao ministério da justiça, notificou supermercados, associações de produtores e distribuidores a se explicarem sobre a alta dos alimentos.

Tivemos também governadores apoiando medidas do tipo como o João Dória em SP.

Como todo mundo deve estar acompanhando, os preços de um grupo de produtos da cesta básica, principalmente arroz, feijão e óleo de soja, subiram em agosto. As razões são conhecidas: aumento da demanda com a pandemia, mais exportações e a alta do dólar.

Isso não impediu o governo de dar cinco dias para que o setor de alimentos explique o que todos já sabemos. Os supermercados vão ter que listar quais produtos da cesta básica subiram mais no último mês e também quais foram os três itens com maior reajuste.

Já as cooperativas vão ter que comprovar o aumento nos custos de produção. Isto é, insumos, fertilizantes, combustíveis, etc - Não convencendo o ministério da justiça, a multa é de até dez milhões de reais.

É algo tão sem sentido que fica até difícil comentar. Infelizmente, não aprendemos com o passado. Mais irônico ainda que a iniciativa parte de governos com vários economistas liberais.

Ninguém está insensível ao impacto de uma alta dos alimentos da cesta básica sobre a população mais pobre. Mas a intervenção do governo, da maneira como está sendo feita, não vai solucionar o problema.

O lado bom é que o ministério da justiça pediu ao ministério da economia sugestões para baixar o preço do arroz. Quem sabe terão a chance de aprender como os preços se formam. E que o arroz não aumentou por maldade de ninguém. O

Bônus: Peguei o preço do contrato futuro do arroz pelo
@InvestingBrasil. Até final de agosto, a alta foi de 29,91% . Pelo IPCA, o arroz acumula alta de 19,25%.

O Flávio Dino governador do maranhão também acha que pode resolver na canetada. Uma coisa é certa: políticos adoram uma medida populista por mais insensata que seja.