Você já aprendeu que aquele mal-estar ao ver sangue ou a outros gatilhos é o reflexo vaso-vagal (RVV), um resquício evolucionário de animais que reagem a perigos fingindo-se de morto.
Se esse reflexo não for interrompido, uma pessoa pode desmaiar.
Como interromper o reflexo?🧵
Só pra explicar pra quem perdeu o fio anterior:
- RVV é quando, pela ação exagerada do sistema nervoso parassimpático (SNP), a pressão arterial (PA) e/ou a frequência cardíaca (FC) caem.
- É uma estratégia de sobrevivência diferente da clássica “luta e fuga”.
É diferente da clássica “luta e fuga” porque:
- Na RVV, o animal tende a ficar imóvel, parado e caído
- Com poucas respirações e pulso fraco, simula melhor alguém que está morto
- Deitado, perfunde muito bem seus órgãos, pra que tenha explosão ao levantar-se e finalmente fugir
A maneira de interromper o processo é ativar o antagonista do SNP: o SNS (sistema nervoso simpático). Ele aumenta a nossa PA e a FC.
Só para vocês saberem, tanto o SNS como o SNP são autônomos: funcionam sem nosso comando. Não mandamos nosso coração bater mais forte.
Mas podemos induzi-lo a bater mais forte. Como? Com as manobras de contrapressão:
Você pode achar que esse senhor está sensualizando, mas ele está contraindo seus músculos para que mais sangue chegue ao coração, manobra que engana nosso sistema autônomo e ativa o SNS.
Ora, se o problema era o SNP muito forte, ative o SNS. Quando se sentir mal:
- Sensualize como o senhor da foto, contraindo seus músculos
- Coloque sal debaixo da língua
- Aperte com força contra uma bolinha
- Puxe com força uma mão contra a outra
- Deite e eleve suas pernas
Se os sintomas “prodrômicos” (aqueles que prenunciam o futuro desmaio - suores, náusea, pele fria…) começarem, realize essas manobras e procure se posicionar em um local onde a queda do desmaio não lhe cause danos:
- Se dirigindo, pare no acostamento;
- Deite-se numa cama.
Se as crises estiverem impactando na qualidade da sua vida, há diversos tratamentos, do mais simples ao mais extremo:
- Evitar gatilho
- Tilt training (feita com a turma boa da fisioterapia)
- Medicamentos
- Ablação de parassimpático
- Marca-passo
O profissional pra acompanhar esse e outros tipos de síncope (desmaio) é o arritmologista/eletrofisiologista.
Ele quem dá o diagnóstico diferencial e avalia a necessidade de exames (para muitas pessoas com RVV, o tilt test, p.ex., é desnecessário porque pode ser falso-negativo).
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“There is no need to change the STEMI-NSTEMI paradigm. I never see false negatives.”
We published the article “The no false negative paradox in STEMI-NSTEMI diagnosis” in Heart (BMJ), and I’ll explain this paradox with a story: José de Alencar sees a patient with angina. 🧵
José de Alencar does not know, but this patient has a thrombus acutely blocking one of his coronary arteries. Unfortunately, there is no ST-segment elevation.
José de Alencar, therefore, classifies the patient as NSTEMI. Could he have done differently?
Since the patient has NSTEMI, José de Alencar does not activate STEMI protocols. If the patient were lucky enough to show the sign that defines the disease, treatment would occur within 30-120 minutes.
But he’s unlucky and will be treated hours or even days later.
Mr. Uzendu estava jogando basquete quando caiu no chão. Os amigos achavam que ele estava fingindo de desacordado. Mas ele acabara de ter uma morte súbita.
Esta é a forma com que morrem 13% das pessoas do planeta.
Eu sou cardiologista e vou ensinar a reconhecer uma morte súbita.
Talvez por vermos tantas mortes na ficção, tendemos a pensar que a morte súbita é o simples e abrupto fechar dos olhos e perda do tônus muscular.
Mas, na vida real não é nada parecido com isso.
Primeiro, pode parecer com uma convulsão.
Muitos casos de parada cardíaca se iniciam com uma fase de elevado tônus muscular. A pessoa fica dura.
Isso ocorre em mais de 60% dos eventos de cessação da irrigação cerebral por causa definitivamente cardíaca registrados ao vivo em Tilt Tests.
O médico pede troponina, exame cardíaco que detecta infarto, e dá positivo.
Diagnóstico: Infarto.
Na verdade, Ednaldo tinha embolia pulmonar.
Os médicos nunca descobrirão este erro. Segue o fio para entender “a armadilha da troponina”.
Quando digo que “os médicos nunca descobrirão”, eu não estou falando dos médicos que o atenderam, mas me refiro a qualquer médico. O erro não é apenas diagnóstico, mas COGNITIVO.
A gênese do problema está em um viés chamado “viés da incorporação”.
Este viés existe quando o resultado de um exame dá nome a uma doença.
Lembra que falei que troponina aumentada aponta para infarto? "Infarto” é definido pelo aumento da troponina associado a clínica compatível.
Perceba que a troponina é o teste e é a definição da doença.
You've likely seen the term "slow R wave progression" in an ECG report.
But, is there a link to prior infarction? Our team conducted a Scoping Review to explore this.
Here's what we found in our study at @JElectrocardiol 🧵
Regarding accuracy, there are 4 studies (the most "modern" from 1981). After that, no further studies.
The main researcher, Zema, showed Sensitivity of 85-90% and Specificity of 56-75%. But don’t celebrate yet. We found a major issue in this analysis.
Zema's studies have a severe research bias: a selection bias where only people with slow progression were included. None of Zema’s studies is suitable for testing exam accuracy, which would compare people with the test versus those without.
Você certamente já viu o termo “progressão lenta de onda R” em um laudo de ECG.
Mas, existe relação disso com infarto prévio?
Nosso time conduziu uma Revisão de Escopo (Scoping Review) para revisar exatamente isso.
Eis o que descobrimos em nosso estudo na @JElectrocardiol 🧵
Pra termos mais robustez na análise dos estudos, sistematizamos a pesquisa da seguinte maneira: um dos pesquisadores (Eduardo Amorim) fez o que chamamos de title + abstract screening. Ele selecionou artigos que falavam sobre progressão lenta de R em doença coronária.
Depois, todos os pesquisadores avaliaram os estudos selecionados por Eduardo, determinando seus desfechos (acurácia, prevalência ou prognóstico), suas populações, vieses, etc.
Esta Scoping Review seguiu o Protocolo Prisma-ScR, uma diretriz para estudos com esta metodologia.