Escolas particulares de Manaus estão há mais de dois meses em aulas, aparentemente sem problemas. Mas se a notícia é boa demais, ela é dada com o asterisco: "experiência não serve de parâmetro". Nenhum especialista ouvido explica por que não serve. +
Quando Manaus anunciou a volta nas particulares, em 3 de julho, registrou 321 novos casos. Ajustando por habitante, é um pouco mais que SP capital registrou em média na última semana. +
A reportagem é boa em descrever as medidas e os desafios. Mas o tom poderia ser "parece que é possível um retorno seguro com tais e tais medidas, dado o relativo controle da epidemia". Ao invés de jornalismo de soluções, parece haver foco no medo.
Aplicativos de entrega no Brasil empregam milhões e trazem comodidade. Mas me parece que as pessoas não tem uma noção muito clara do custo social de muito mais motos rodando em cidades grandes, especialmente em uma lógica de "quanto mais rápido, mais lucrativo".
Alguns dados: 🧵
Entre 2011 e 2021, a taxa de internação de motociclistas que sofreram acidentes no trânsito em hospitais da rede pública de saúde subiram de 3,9 por 10 mil habitantes em 2011 para 6,1 por 10 mil em 2021. Nesses 10 anos, o custo de serviços médicos e dias de trabalho perdidos passou de R$ 85 milhões para R$ 167 milhões.
2014: 95.373 motociclistas internados no SUS entre janeiro e novembro em decorrência de acidentes.
2024: 148.797.
"As motos foram as principais responsáveis pelos acidentes de trabalho em todo o Brasil. Em 2022 foram 24.642 acidentes envolvendo motociclistas no país. Para o Ministério Público do Trabalho, o aumento tem a ver com a situação econômica trazida pela pandemia, e esse número pode ser ainda maior. Márcia Kamei conta que acidentes envolvendo motociclistas informais não entra na estatística."
Jorge Pontual agora na Globonews falando que a "liberdade de expressão" sem as notas de checadores na Meta é na verdade "liberdade para apoiadores de Trump mentirem". Esse tipo de argumento (bastante repetido hoje) acaba por dar munição à guinada de Zuckerberg.
Porque ela confirma a impressão de que o alvo das checagens profissionais está majoritariamente de um lado do espectro político, o que pode ser visto como "censura". Melhor então, para uma plataforma que se quer neutra, abandonar essa forma de moderação em detrimento de outras, como as notas da comunidade.
Nota relacionada: vi 10 minutos de cobertura na GN e fiquei impressionado com a quantidade de desinformação. Um descreveu mal como funcionam as notas da comunidade no X, o outro mente dizendo que vai acabar qualquer tipo de moderação no Facebook (sobre drogas, sexo, etc) e a outra reforça falando de que por causa disso vai rolar "sexo explícito" nas plataformas da Meta, como no X...
E essa histeria também joga a favor de Zuckerberg: se os jornalistas que estão comentando o caso claramente não tem o monopólio da verdade e exageram para reforçar os seus argumentos, por que não tentar formas alternativas de moderar o debate público?
Aliás, acho que as pessoas (de esquerda e direita) superestimam DEMAIS o efeito tanto das notas da comunidade quanto das checagens no Facebook. Primeiro porque elas são atreladas a postagem (únicas) — e como sabemos as postagens tem trocentas variações.
Você pode influenciar a viralização de um grupo de mensagens com texto/imagens específicos — e há evidências de que as checagens limitam esse espalhamento. Mas é basicamente impossível limitar versões de uma ideia se há demanda por determinada narrativa. Vimos bem isso por exemplo na pandemia, onde o esforço de limitar desinformação (e coisas que nem eram desinformação, mas foram declaradas como tal) foi fortíssimo.
Segundo porque política e "notícias" em geral são um assunto bastante minoritário nas redes sociais abertas. Checagens que limitam a circulação de algo que já têm circulação limitada têm um impacto pequeno no todo. O foco na cobertura hoje foi no impacto *político* de relaxar a moderação. E a desinformação/fake news sobre o affair de um subcelebridade no Choquei ou sobre a série correta pra malhar o abdômen tem alcance significativamente maior, mas não é algo visto como alvo de checagens, na média.
Veja, acho que há lugar e valor para checagens de notícia. Eu compartilho boas checagens quando avisto uma notícia falsa compartilhada em meus grupos com frequência. Também sou entusiasta das notas da comunidade. Mas acho que o povo tá exagerando os efeitos — positivos ou negativos — da medida.
Pra não ficar só nas críticas à mídia de maneira geral, achei bem boa e completa a reportagem do New York Times sobre o caso.
De um lado, um post da atual Secretaria de Vigilância em Saúde feito durante a pandemia; do outro, trecho do editorial da Folha de hoje intitulado "Governo Lula erra na gestão de vacinas".
"Outras enfermidades também são afetadas. Estudo da Confederação Nacional dos Municípios mostra que 6 em cada 10 cidades relatam falta de vacinas para o público infantil contra doenças como meningite, sarampo, catapora e rubéola, além da Covid."
A sorte do atual governo é que quando morre gente nunca vai ser por conta do "negacionismo do governo". Dá pra colocar a culpa na mudança climática, em bolsonarista que não toma vacina, "sorotipos que não circulavam há muito tempo", etc.
ONGs americanas fundadas por bilionários influenciam a política mundo afora? Sim. Você por argumentar inclusive que Lula não seria presidente hoje não fosse o investimento de uma delas: o Omidyar Group, que literalmente pagou o salário dos repórteres da Vaza-jato. +
O Intercept representava os "interesses do governo estadunidense", dado que era financiado por bilionário americano? É óbvio que não. Presidente era Trump, aliado de Bolsonaro. Não tenho qualquer dúvida que jornalistas ali tiveram independência para ir atrás da reportagem +
que julgaram relevante. E isso acontece absolutamente todos os dias. ONGs americanas dão dinheiro para organizações que não necessariamente se aliam ao governo daquele país. Em parte porque há uma (surpreendente, para muitos) grande variedade de ideologias entre bilionários. +
"As pessoas mais envolvidas na vida cívica e política são justamente as que tem a visão mais distorcida sobre o que o outro lado pensa/acredita." Essa é uma das ótimas conclusões deste paper sobre polarização nos EUA. Diria que vale pro Brasil também.
Outra questão interessante. Fala-se muito do efeito dos "algoritmos" em acirrar a polarização, mas o grupo demográfico que mais se "radicalizou" foi o de americanos com mais de 65, que consome mais TV e rádio. No Brasil o WhatsApp (sem algoritmo) também acelerou o processo.
O paper olha para várias intervenções possíveis para diminuir os efeitos mais deletérios da polarização, como a violência política. O que parece funcionar mais: reduzir a percepção de que o outro lado quer transformar o país em uma ditadura.
O maior feito do Alexandre de Moraes é, de longe, em storytelling. De convencer as pessoas inteligentes que suas ações foram eficazes em diminuir o sentimento conspiracionista/golpista. Algum efeito nesse sentido ele provavelmente teve, talvez em prevenir algumas ações. +
Mas acho que uma outra hipótese não é suficientemente considerada: a do quanto que a sua atuação ENCORAJA pensamentos golpistas. O quanto que cada decisão do vítima/promotor/juiz FORTALECE a ideia do pessoal que acha que estamos virando uma Venezuela, consequentemente +
justificando ações mais e mais extremadas. É bom lembrar que durante o reinado de Alexandre tivemos acampamentos em quartéis, bloqueios de estradas e o 8/1. O que pra mim sugere um FRACASSO no enfrentamento de malucos. Mas ele vendeu a ideia de que os fins justificam os meios, +