1 - Em 2009 nosso sonho no departamento de marketing do Flamengo era lançar o programa de sócio torcedor do Clube. O Inter havia feito um trabalho espetacular e atingido recentemente o patamar de 100 mil sócios. Mas havia um grande obstáculo.
2 - O Marketing não tinha acesso aos ingressos que eram controlados diretamente pelo departamento de futebol. Na verdade, o Flamengo não tinha nenhum controle sobre seus ingressos, porque eles eram operados por uma empresa prestadora de serviços.
3 - Essa empresa adiantava recursos para o clube pagar suas constantes dívidas de curto prazo, com a garantia de ter os ingressos para sí até que a divida fosse quitada. Naquela época essa era praticamente a única forma do Flamengo obter algum tipo de empréstimo no curto prazo.
4 - O problema é que o clube ficava refém do prestador de serviço, já que quando quitava uma parte, logo precisava entregar os ingressos pelos próximos meses para obter outro adiantamento. O clube vendia o jantar para comprar o almoço, e isso era interminável.
5 - Na prática o Clube não tinha nenhum controle sobre sua bilheteria, o que inviabilizava qualquer decisão interna como política de preços, controle de gratuidades, e claro, a criação de um programa de sócio torcedor.
6 - Na época, o máximo que conseguimos lançar, no final de 2009, foi o Cidadão Rubro Negro, um sistema de cadastro que deveria dar origem a uma comunidade com premiações, sem pagamento por parte do torcedor, mas sem benefício de ingressos.
7 - O Cidadão Rubro Negro chegou a ter 750 mil cadastrados, e anos depois foi a partir desse cadastro que o Flamengo lançou o Nação Rubro Negra, no início de 2013. Contei toda essa estória para traçar um paralelo com o que acontece com os direitos de transmissão de TV no Brasil.
8 - Quando você aliena o controle sobre uma determinada linha de receita através de antecipações seguidas (como o Flamengo fazia em 2009 com bilheteria), você perde 2 vezes.
9 - Primeiro porque essa antecipação tem um custo financeiro. Quem antecipa desconta um bom pedaço pelo favor de antecipar. Segundo porque você perde a liberdade de gerir esse ativo. Quem antecipa passa a gerir por você, mas segundos seus próprios interesses, não os do Clube.
10 - Essa é a história da relação entre os clubes e a TV no Brasil. Através de antecipações que se sucedem ininterruptamente, a TV passa a controlar as decisões estratégicas dos clubes.
11 - A partir daí, as decisões são tomadas por ela, segundo suas próprias conveniências (o que é lícito) não as conveniências dos Clubes. Isso causa uma perda de receita, que por sua vez, obriga os Clubes a tomar novos adiantamentos.
12 - Esse ciclo de dependência é extremamente difícil de romper, causa no longo prazo um prejuízo enorme a quem está preso a ele. Enquanto os Clubes não se libertarem do sistema de adiantamentos de TV, jamais entenderão que são eles os verdadeiros criadores de riqueza, não a TV.
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1 - Recentemente, em reunião do CODE, um conselheiro questionou presidente sobre preço dos ingressos, alegando que já que receita orçada de matchday havia sido atingida antecipadamente, porque não baixar preço e permitir que mais pessoas pudessem ter acesso aos jogos do Flamengo.
2 - O presidente respondeu que, na sua visão, Flamengo deve sempre perseguir maior receita possível, independente de ter superado orçado. O raciocínio é perfeito, mas ignora um ponto crucial. Um clube de futebol é uma operação de exploração de propriedade intelectual, sua marca.
3 - Ocorre que essa exploração se dá em unidades de negócio que tem em comum apenas o fato de explorarem o mesmo conteúdo/marca. Operacionalmente unidade de negócios de licenciamento tem pouco em comum com a de patrocínios, de mídia e conteúdo digital, ou de estádio (matchday).
@pcfernandesjr@JPeraltaCRF@joaoholanda1000@eulucas_crf@womonteiro Vamos por partes. March day é uma receita importante. É difícil desagregar da receita de ST, já que estão intimamente ligadas. Mas é possível dizer que respondem juntas por cerca de 15 a 20% da receita total do clube. +
@pcfernandesjr@JPeraltaCRF@joaoholanda1000@eulucas_crf@womonteiro Dito isso, um impacto no curto prazo sobre essa receita não inviabiliza o clube. Haja visto o que ocorreu durante a pandemia. Respondendo, na minha opinião pessoal há uma perda líquida para o negócio Flamengo gerada pela atual estratégia de precificação de ingressos. +
@pcfernandesjr@JPeraltaCRF@joaoholanda1000@eulucas_crf@womonteiro Para quem me acompanha isso não é surpresa. No PDG foram dedicadas algumas páginas tentando fundamentar o conceito de que estádio dd futebol não é fim em si mesmo do ponto de vista de negócio. É também um meio de alavancagem de outras receitas. +
1 - Aproveitando a fritura de técnico da vez no Flamengo, gostaria de ser chato e insistir em um ponto em que batemos desde o PDG da eleição de 2021. A figura do Diretor Técnico (ou Esportivo), e como sua ausência coloca o técnico de campo em posição vulnerável.
2 - Antes de mais nada, por favor não confundam a figura do “diretor de futebol” que temos no Brasil, com o conceito europeu de Diretor Esportivo. Seria como comparar o nível de preparação média dos técnicos brasileiros e os das grandes ligas europeias. Só o nome se parece.
3 - JJ mostrou que um técnico europeu poderia revolucionar o futebol brasileiro. Mas lamento dizer que importamos o mestre de obras e esquecemos do engenheiro. Muitas das cobranças a técnicos no Brasil hoje, são sobre funções que não são deles, ao menos não deveriam ser.
1 - Debate sobre SAF no Flamengo vem ganhando força, impulsionada por palestras internas. Acho importante discutir alternativas de captação de investimento externo, em especial no momento em que entram vários investidores em outros clubes. A ordem do debate porém, está errada.
2 - Primeiro precisamos definir destino recurso captado. Flamengo ao contrário dos outros, não precisa vender equity para reestruturar seu passivo. Como também não faz sentido distribuir dividendos aos sócios, imagino que o recurso vá para investimento.
3 - Qual investimento? Estádio próprio? Sem dúvida um equipamento importantíssimo para crescimento do Clube. Mas ao contrário do que tem sido dito, não é necessário vender parcela da entidade para viabilizar um estádio próprio.
1 - Sobre o tema da vez, o novo perfil de torcedor nos jogos do Flamengo. Estamos desenvolvendo um novo estudo sobre o tema estádio/público/precificação. Vai demorar um pouco ainda, mas gostaria de antecipar alguns pontos básicos.
2 - Primeiro, é impossível um clube ser bem sucedido em campo e não atrair mais torcedores casuais. Acontece aqui, acontece no Palmeiras, no Bayern, no Barcelona. Quem lembra dos incidentes nos últimos anos com torcida de turistas no Camp Nou e Bernabeu?
3 - Antes que alguém proponha banir esse tipo de torcedor quero dizer que ele não apenas é bem-vindo, mas necessário. Normalmente consome mais e gera um ticket médio importante para o clube.
1- imagine que vc é um banco e quer comprar um negócio na sua cidade. Mas sabe que se for lá negociar diretamente vai ter que pagar caríssimo, porque o dono não quer vender. Aí vc se aproxima da empresa e ganha sua confiança. Como faz isso?
2 - Diz ao dono que a empresa dele é fantástica. Vai dominar todo seu mercado. Mas para isso precisa investir em melhores máquinas, pessoas, matéria prima…Só que o dono não tem capital pra investir. “Não tem problema”, vc diz. Estou aqui para isso.
3 - E vc começa a injetar recursos na empresa com juros baixos e carência longa. Com melhores máquinas e pessoal qualificado a produtividade aumenta. O faturamento aumenta. O dono se empolga, acredita que vai realmente dominar o mercado. Então vc aproveita a empolgação.