Vim de #AstroThreadBR dividir com vocês uma descoberta científica em tempo real, ao vivo
Tô aqui prestes a chegar num resultado e quero a companhia de vocês vibrando (ou não) comigo
O que eu tô fazendo? Analisando como o brilho de estrelas MUITO parecidas com o Sol se comporta
Essa não vai ser uma thread cheia de gifs e memes maneiros, é no improviso mesmo
Tô aqui focada no trabalho, prestes a fazer uma descoberta e resolvi que queria compartilhar com vocês, então agarra aqui comigo que eu tô tremendo doida pra saber o que vai sair
Vou explicar
Essas estrelas muitíssimo parecidas com o Sol a gente chama de gêmeas solares
Elas são ~idênticas~ (tipo clones) do Sol e são muito importantes pra uma cacetada de estudos, tipo, caçar e estudar exoplanetas, conhecer o futuro do nosso Sol e da Terra, entender surgimento da vida
E daí que existe uma grande discussão na astrofísica estelar que é:
O Sol é uma estrela especial? E por isso tem vida aqui na Terra? Mas será que ele é especial mesmo?
Se a gente comparar o Sol com os seus "clones" (as gêmeas) ele vai ser especial em quais aspectos?
E isso tudo diz muito sobre a gente também se ver como especiais de alguma forma? Tipo coisa humana de se colocar "no centro do Universo"?
Por que o Sol seria diferente? E se ele não for? E se ele for uma estrelinha comum como qualquer outra que tenha as mesmas características?
Daí que chego onde eu quero a companhia de vocês:
Minha pesquisa inteira de mestrado foi usar algumas dezenas de estrelas gêmeas solares pra entender como o brilho delas muda através do tempo
Explico melhor:
Eu quero descobrir como o brilho delas varia (muito ou pouco) medindo matematicamente.
Como essa variação do brilho pode se relacionar a idade de cada estrela. E também ao quanto elas são ativas magneticamente.
Pra isso tô usando um telescópio espacial da NASA, o TESS.
Essa coisa variação do brilho tem a ver com a idade, isso todo mundo da área sabe. Mas o que eu tô caçando é COMO usar essa variação de brilho pra PREVER a idade dela
Idade de estrela é um troço chatão de achar. E essa minha análise ajuda a colocar uma pecinha do quebra-cabeça.
Com isso eu vou saber também como a variação de brilho se relaciona com o quão magnética aquela estrela é
Porque com a idade, as estrelas vão perdendo a capacidade de produzir campos magnéticos muito intensos
São ímãs que vão ficando velhos e perdendo a força, isso é fascinante
Daí que eu encontrei pras gêmeas uma relação BEEEEM forte e consegui fazer um bom avanço em como prever essa idade usando o brilho de cada estrela
Fiz uma relação que usa dados espectroscópicos de um instrumento bem preciso pra "cruzar" com os dados do telescópio espacial
O que isso significa?
Sabendo como o brilho dessas estrelas varia (apenas observando o brilho indo e vindo) conseguimos saber que idade ela deve ter e também o quão magnética ela é
Isso tudo matematicamente, ali num valor certinho com as barras de erro e incertezas calculadas
BELEZA E DAÍ?
Agora chegou a hora de pôr o Sol na equação e descobrir se NESSE ASPECTO ele é comum ou realmente especial.
Se ele se comporta como uma estrela "qualquer" que tenha as mesmas características físicas. Ou se ele vai ser totalmente diferentão da galera.
Não foi fácil ter certeza de quais dados eu deveria usar, precisei estudar muito e correr atrás de literatura, fiz muitas reuniões e discussões com colegas e professores. Fazer a "conversão" dos dados do Sol para comparar com outras estrelas (mesmo muito parecidas) não é simples.
Depois de saber quais os dados usar, tem que correr atrás de consegui-los. Nem sempre você tem acesso ao instrumento ou base de dados daquele telescópio que vc precisa. Mas eu consegui!
Depois tive que ver quais dados são fisicamente compatíveis, remover vieses. São meses nisso.
Eu acabei de fazer os últimos ajustes no meu código e ele está rodando agora, processando os resultados. Enquanto não sai, eu vim aqui escrever pra vocês esperarem comigo.
Assim que acabar de rodar, vamos ter JUNTOS a resposta.
Eu tô bem ansiosa... Seja lá qual for o resultado
O que vcs acham? O Sol vai ser especial ou não?
AINDA RODANDO
Essa célula danada que não termina de rodar
100% atenta e descabelada
Primeiros plots saindo, vou mostrar alguns aqui (que não comprometem "a exposição" do trabalho)
Não tem problema eu contar pra vocês o que encontro, mas não posso dar detalhes demais (tipo os nomes das estrelas, equações que criei, dados medidos) porque vou publicar o trabalho
Digo publicar é em revista científica internacional arbitrada. Outros astrofísicos (muito experientes) vão conferir se tudo que fiz está certo e sugerir alguma mudança, se necessário. Isso vai levar semanas ou meses. E só depois é que pode ser publicado.
E daí fica tudo público
Só dizendo mesmo que esse processo de detalhamento precisa ser mantido em segredo até a publicação na tal revista, e o que estou mostrando aqui é só o que realmente posso compartilhar publicamente no momento, sem problemas
Então vamos do que já tá saindo do forno
Aqui um preliminar do brilho do Sol variando nos ciclos e umas partes que estou pegando do ciclo 23 para medir e comparar com as gêmeas
Preciso mostrar isso pra quem for ler tecnicamente o trabalho pra entender a metodologia, do porque essas regiões, pq esses intervalos
Agora o restante segue rodando, volto com mais novidades já já
Uma curiosidade
Tá vendo ali aquela queda enorme de brilho no gráfico do Sol que mostrei acima?
Essa queda aconteceu porque apareceram várias manchas na superfície do Sol, o que fez o brilho dele cair um bocadão
A foto do Sol quando aconteceu isso, próx ao dia 29/10/2003
Deu erro numa célula importante do código mais abaixo, tô consertando ¬¬
Não posso mostrar detalhes do plot final pelos motivos que já mencionei
Mas aqui está um pequeno zoom tirado tremido na empolgação com o celular mesmo mostrando o circulo azul com ponto no meio (sempre simboliza o Sol) passando coladinho na relação de idade (vermelha) esperada
Talvez esse resultado dê treta quando publicado?
TALVEZ
Tem pessoas (fora do BR) que defendem MUITO INTENSAMENTE que o Sol é especial sim nesse quesito
Porém alguns que li têm sérios problemas de metodologia
Todo esse ciclo, testa, faz, refaz, compara
É a beleza da ciência 😍
Assim que eu puder dar todos os detalhes da análise (quando publicar), eu venho avisar aqui.
Acho que vale gravar um vídeo e contar o passo a passo (digerido) pra vocês sentirem a mesma emoção que eu no processo.
Esse trabalho todo que culminou no resultado final que vocês viram aqui hoje não foi feito em apenas um dia.
Foram quase 20 meses de pesquisa, estudo, análise, escrita do código, mais estudo, muitas reuniões, viagens, congressos, mais análises, +códigos (muitos), até choro, rs
E tudo graças a CAPES, que é uma das principais agências financiadoras da ciência nacional
Sem ter sido financiada pela CAPES que pagou meu "salário" para trabalhar em dedicação exclusiva na minha pesquisa, eu jamais estaria fazendo ciência agora (nem nunca)
Defenda a CAPES💜
E também esqueci de enfatizar que esse trabalho está sendo feito por mim (primeira autora) e minha querida orientadora Dra Adriana Valio. Estamos no Centro de Radioastronomia e Astrofísica Mackenzie (CRAAM) e em colaboração com o grupo Sampa no IAG-USP
Muito amor por todos
Opa que criamos uma tag, compartilha com a galera aí
Primeiro vou falar do que eu vi e minhas impressões e lá no fim vou dizer o que acho que poderia ser feito (individualmente por quem quer doar) pra evitar esse tipo de situação.
A primeira coisa que ficou muito clara é a ausência do poder público.
Eu saí da casa já com a água no peito, como vocês acompanharam aqui e tbm lá no Instagram @ trambolhada.
Perdemos praticamente tudo em casa, de roupas a documentos, móveis, livros, fotos, sapatos, etc
Ideias de um refúgio pros doguinhos em caso de (vai acontecer) nova enchente?
Estamos planejando pôr uma escada que sobe pra laje da casa e fazer um telhado com um cercado de telas, pra servir de refúgio/abrigo na hora da emergência.
Algum palpite do que fazer ou não fazer?
Eu tenho algumas coisas em mente, mas né, não sou engenheira.
Sei que a casa tá OK para receber um telhado assim em cima, o pai de um amigo aqui do tt passou lá pra olhar há algumas semanas, ele é engenheiro da defesa civil e disse que tava OK construir o telhado (leve) em cima
Apesar da casa não ter estrutura reforçada (não tem amarração na laje, que se apoia só nas paredes mesmo) e por isso teria que ser um material razoavelmente leve.
Existem situações em que não adianta dizer pra alguém que "tal coisa não tem evidência científica".
Dependendo da pessoa, ela pode não entender claramente o que é "evidência", nem "científica", muito menos o combo poderoso das duas palavras juntas.
Hoje mesmo recebi um pedido por DM para indicar profissionais que trabalhassem com "visão quântica" (em relação a atendimento de saúde).
Era uma mãe querendo atendimento pra um filho com problemas psiquiátricos, possivelmente autismo.
Veja bem, é uma situação super delicada.
Não foi aqui no twitter e por isso é ok eu dar esse exemplo real.
Pelo forma como ela já veio com essa ideia pronta, direcionada a esse tipo de busca de ajuda (foi literalmente um pedido de ajuda) não adiantaria eu tacar na cara dela um "isso não tem evidência científica".
Eu sei que 2020 foi e 2021 tá sendo uma bostínea pra grande maioria das pessoas (me included).
Sabe uma coisa que me dá uma aliviada, mesmo que passageira?
Listar coisas boas que aconteceram nos últimos meses. Mesmo que seja só algo ruim que *não* aconteceu. Explico.
Uma coisa boa, por ex: não ter perdido ninguém da família.
Fazer essa lista pode ser uma coisa boba pra alguns (se vc acha bobo, apenas não faça) mas pode ajudar um pouquinho quem não tem conseguido ver muito sentido nas coisas ultimamente.
Pode ser num caderno mesmo, ou digital (eu prefiro por poder anexar arquivos que sejam visuais, fotos, prints, etc).
Esse exercício me faz bem no ato de escrever em si, mas também depois quando volto pra atualizar as "novas" coisas boas e acabo relendo tudo que já estava lá.