Eu posso te falar a verdade. Mas você não está preparado para a verdade.
Em 2010, ninguém queria parecer oposição a Lula. Em 2016, Dilma caiu por um processo de impeachment. Em outras palavras, não conseguiu manter ao lado dela nem um mísero terço do Congresso.
Noto que muitas narrativas petistas imperaram. Mas elas não retratam o que vi nesse intervalo de 6 anos. Porque os partidos de oposição só embarcaram no impeachment quando as ruas já estavam lotadas (e por isso foram vaiados). Dilma caiu por uma rebelião da própria base.
E essa base se rebelou pois havia sido costurada por Lula. Mas viu Dilma convocar Kassab para, numa tentativa de recriar o PL, desidratar o PMDB como já havia desidratado o DEM. É quando o centrão se reorganiza, e isso mais adiante faria de Eduardo Cunha presidente da Câmara.
Nessa briga, Lula e Dilma ficam em lados opostos. E ficam por muito tempo. Ao ponto de Lula, desesperado com o avanço da Lava Jato, exigir a mudança do comando da PF, e Dilma simplesmente se negar a fazer o que Bolsonaro fez agora em 2020.
Não falo isso porque acho. Falo isso porque ouvi e li Mônica Moura, Marta Suplicy e Delcídio do Amaral falaram em on sobre o que rolava nos bastidores.
Aquele encontro de Marcelo Odebrecht com Dilma no México não é um alerta de amigo. É uma ameaça do aliado que bancou o "volta, Lula". Quando cita a conta na Suíça, ele diz ter munição para usar contra Dilma caso não fosse socorrido. E usou. E de fato implodiu o governo dela.
Até a aceitação do pedido de impeachment por Cunha é evidência dessa briga. Cunha negociava direto com Dilma. Estava tudo certo: ele engavetava o impeachment, o processo dele era engavetado na comissão de ética.
Mas a bancada do PT votou contra Cunha implodindo o acordo com Dilma.
Teria votado contra a vontade de Lula? É óbvio que não.
Lula e Dilma só se reaproximam quando o processo de impeachment já tramita no Congresso, e a Lava Jato já conduz Lula coercitivamente. Mas naquela tentativa desesperada de blindá-lo com foro privilegiado na Casa Civil, coisa que Gilmar Mendes reverte de imediato.
Quando Lula defende a interferência de Bolsonaro na PF, ele pensa menos no que ele próprio fez no próprio governo, e mais no que ele queria que Dilma tivesse feito no governo dela, mas ela se negou a fazer.
A grande ironia nisso tudo é concluir que Dilma caiu porque se arriscou a forjar um pós-Lula. E isso incluía dinamitar a base fisiológica do lulismo, deixando que a Lava Jato a pegasse, juntamente com o próprio Lula.
Quanto a Lula, para se manter vivo, topa até mesmo impedir que a oposição a Bolsonaro seja oposição, coisa que faz desde 21 de maio de 2019, quando a proibiu de tocar qualquer tipo de "fora, Bolsonaro". "Coincidentemente", mesma data em que Toffoli sela um acordo com Bolsonaro.
Não digo com isso que Lula não se importa com a periferia, com as minorias, com a covid-19... Digo que ele não se importa com o meio ambiente, porque de fato nunca se importou. Quando ainda presidente, fazia piada do trabalho de Marina Silva como ministra.
Mas digo que, para Lula, a prioridade é o próprio Lula. E, para o próprio Lula, o enterro da Lava Jato, ou do combate à corrupção como um todo, é causa mais importante do que salvar Amazônia, Pantanal, educação, saúde, direitos humanos, ou tudo isso que julgamos primordial.
E nem me olhe com essa cara. Eu avisei lá em cima que você não estava preparado para a verdade. Você leu porque quis.
• • •
Missing some Tweet in this thread? You can try to
force a refresh
Dizer que o 8 de Janeiro não integrava uma tentativa de golpe de Estado é apostar na nossa burrice ou falta de memória. Ambas existem, não tenho dúvidas. Mas eu tenho alguns links salvos.
Mourão já havia explicitado o plano em 2017. Mas, em 2018, durante a campanha presidencial, em sabatina na GloboNews, foi ainda mais explícito. g1.globo.com/politica/eleic…
Para se proteger, claro, ele chama tudo de 'hipóteses'. Mas expõe as condições que entendem ele e as Forças Armadas serem necessárias para engatilhar o que, admite ele, poderia ser chamado de 'autogolpe'.
"Já decidimos que além do protagonismo econômico que temos, porque representamos 70% da economia brasileira, nós queremos – que é o que nunca tivemos – protagonismo político."
"Outras regiões do Brasil, com Estados muito menores em termos de economia e população se unem e conseguem votar e aprovar uma série de projetos em Brasília. E nós, que representamos 56% dos brasileiros, mas que sempre ficamos cada um por si, olhando só o seu quintal, perdemos."
Desde que Júlio Ettore fez uma série de vídeos no YouTube sobre como “A Tempestade ou Livro do Dias” é um álbum em que Renato Russo basicamente publica cartas de despedidas a familiares, amigos e paixões, eu botei em minha cabeça que “João Roberto” é o próprio Renato.
Não seria a primeira vez em que ele falaria de si próprio por um personagem que inventou. É curiosa, por exemplo, a história de que João de Santo Cristo seria o próprio Renato num triângulo amoroso com uma paixão da adolescência e um desafeto.
O álbum tem dois títulos porque Renato escolheu um, e os outros integrantes escolheram o outro. O escolhido por Renato parece fazer referência ao momento obscuro que vivia: A Tempestade.
Dez conselhos que costumo dar aos amigos na mesa do bar após a quinta dose…
É humanamente impossível lutar todas as batalhas que a vida te apresenta. É preciso perder por WO a maioria, e buscar a vitória apenas nas que farão mais diferença para você.
É preciso aprender a distância certa de cada pessoa. Com algumas, é possível até mesmo dividir uma vida. Com outras, falar só o indispensável.