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Sep 18, 2020 17 tweets 6 min read Read on X
E não é que o tal jogo de posição funciona? Só que não foi o do Flamengo, foi o do Independiente Del Valle. Miguel Angel Ramirez mostrou como a metodologia posicional funciona quando praticada em sua excelência. Vamos de fio do baile que o Fla sofreu ontem.
O Del Valle veio em sua plataforma de jogo padrão, o 4-3-3. Pellerano é o principal articulador na saída de bola, fazendo a saída de 3 no meio dos zagueiros e Faravelli e Caicedo ocupam o entrelinhas adversário, buscando dar opção e criar linhas de passe.
Domè veio com os mesmos 11 iniciais utilizados no jogo contra o Fluminense, mas estruturados numa plataforma tática diferente. Abriu mão do 4-2-3-1 e veio no 4-1-4-1, com Arão entre as linhas e Gabigol como único atacante.
No papel, a ideia até que fazia sentido, já que Arão se ocuparia de defender o espaço entrelinhas, que é um dos pontos fortes desse time equatoriano. Além disso, Gabigol se encarregou de marcar individualmente Pellerano, impedindo o principal construtor do time a jogar.
Com Pellerano “fora de combate”, o Fla subia a marcação nos zagueiros quando os mesmos portavam a bola. Gérson subia no zagueiro central e Diego no quarto-zagueiro.
Só que tudo isso era feito com intensidade muito baixa e os espaços no meio apareciam com frequência. Os jogadores do Fla pareciam sempre estar atrasados. Arão não conseguia compensar os espaços e sobravam adversários livres no entrelinhas.
Mesmo sem seu principal construtor na saída, o IDV soube sair jogando com seus zagueiros e usar o “homem-livre” nesses espaços. Arão se via muitas vezes em desvantagem numérica no meio-campo.
O domínio do Del Valle no jogo era evidente. Os equatorianos dominavam todos os aspectos do jogo: bola, espaço e tempo. Ditavam o ritmo como queiram. O domínio minimizou as ações ofensivas a ponto de nem sabermos qual era a estratégia de Domè para atacar.
E após tanto martelar no 1T, o IDV abre o placar justamente numa dessas jogadas em que sobem a marcação pressão, forçam o chutão, recuperam a bola, povoam o entrelinhas e com 2 passes mais um corta-luz deixam a linha defensiva do Fla completamente perdida.
O Fla volta para o 2T esboçando algum tipo de reação. Domè entra com BH e muda o esquema para o 4-2-3-1. O 4-1-4-1 ao se defender se desfaz e o Fla opta pela marcação pressão e até consegue manter a bola no campo de ataque e criar uma chance clara de gol nos primeiros 5 minutos.
Só que quando essa marcação pressão é feita de forma desordenada e com a linha defensiva baixa, vira um convite ao desespero. Principalmente contra um time tão bom como o IDV, que sabe aproveitar tão bem os espaços. O buraco entre a linha de pressão e a de defesa era evidente.
Pellerano não sofria mais marcação individual e começou a ditar o ritmo do jogo. Se no 1T ele tocou bem menos na bola do que o normal, no segundo a construção passava por ele o tempo inteiro. E com a construção ainda mais limpa e fluida, o Del Valle abriu 3x0.
O Flamengo volta a perder o controle mental e se desorganizar taticamente na partida após sofrer gol. O time que já se defendia mal mesmo com uma estratégia definida, fica sem estratégia alguma e parecia já pedir para o jogo acabar com 10’ do 2T.
Mesmo assim, a pressão alta continuava. Os buracos, idem. O time que já deixava muitos espaços, após 1 hora correndo na altitude passou a se abrir ainda mais. A recomposição defensiva era uma bagunça e o Del Valle chegava como queria. O 5x0 ficou barato.
Domènec terá muito trabalho para recuperar esse time para o importante jogo na próxima terça-feira válido também pela Libertadores contra o Barcelona de Guayaquil. Muito além do aspecto tático, o Flamengo sai machucado psicologicamente.
Muitos dirão que foi um jogo para esquecer. Pois para Domènec deve ser um jogo para se lembrar. Dormir em cima, remoer e analisar mil vezes para identificar todos os erros cometidos e corrigi-los. As fragilidades do time não podem ser tão expostas como ontem.
O trabalho de 2 anos de Miguel deu um baile no trabalho de 1 mês e meio de Domènec. Os modelos de jogo são muito parecidos, mas as execuções estão em níveis bem diferentes. Tempo de trabalho importa e muito. Principalmente quando há sintonia entre comissão técnica e jogadores.

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