Impessoalidade na Ciência

Esta da foto é Cecilia Payne-Gaposchkin, uma titã da astronomia do início do século XX, protagonista de uma daquelas "revoluções científicas" que os kuhnianos chamam de "mudança de paradigmas", ao usar espectroscopia para determinar a composição do Sol
Em resumo, ela era uma jovem inteligente e ousada que, com esforço, conseguiu estudar em Cambridge. Pra surpresa de ninguém, Cambridge NÃO concedeu títulos à aluna (e pesquisadora brilhante), porque ela tinha bacurinha, não piu-piu entre as pernas. Década de 1920.
O pessoal de Harvard soube disso e disse "hey, ma'm, come closer: do you wanna work with us?", e reconheceu o primeiro PhD feminino (chuuuuuuuupa Cambridge, que só foi conceder título de graduação às mulheres em 1948) — vê, na época REALMENTE era complicado ser mulher na Academia
Mas sabe como ela, Curie, Margareth Hamilton e outras pioneiras PERSUADIRAM as Instituições a tratarem igualmente mulheres e homens? Mostrando que o sexo do cientista é INDIFERENTE para o seu trabalho, e que todo mundo saía perdendo ao fechar as portas só por causa da xana...
Ciência é objetiva. O que importa de fato é o trabalho realizado e como ele foi realizado, em quais condições, sob quais controles, usando quais equipamentos e como os dados foram analisados. Se o pessoal envolvido é XX ou XY, branco ou preto, NÃO IMPORTA.
O trabalho magnífico de Cecilia Payne NÃO É notável porque ela tem bacurinha, não piu-piu. É um puta trabalho bem-feito, inovador, coerente, robusto. Descreve bastante bem as evidências empíricas de então. É OBJETIVAMENTE um ótimo trabalho.
E é burrice que pessoas capazes de produzir tão boa ciência fossem impedidas de estudar e trabalhar na Academia. Daí o TABU idiota caiu.

Sabe o que Cecilia pensaria se lessem seu trabalho sem que notassem que ela era mulher?

"que ótimo!", porque ela ser mulher é IRRELEVANTE !
É muito curioso que agora, justo quando mulheres NÃO TÊM dificuldade alguma no acesso à Academia (e já prevalecem por lá !!!), haja movimentos que se dizem feministas e que ficam de mi-mi-mi acerca do absurdo e falso "apagamento" (ou invisibilização) da mulher na ciência!
Sabe o que é isso? Falta do que fazer!

Explicando: há MENOS DE CEM ANOS havia muito a ser feito: Harvard não concedia títulos às mulheres até 1923 (viu, não tem 100 anos). Cambridge, até 1948.

Mudar isso não foi fácil. Mas, para o benefício da sociedade, isso foi mudado.
Vitória !!! E que ótima vitória, porque agora quem tem interesse e talento não tem impedimentos legais ou institucionais para adentrar na Academia e tentar sucesso por lá.

E toda a sociedade ganha, e ganha muito, com isso.
Para as pessoas normais que participaram desta conquista, fim da guerra. O interesse delas era fazer ciência, o ativismo era passageiro, era mera questão de necessidade. E de uma necessidade REAL.

Como queriam fazer ciência, conseguiram o que queriam e foram FAZER CIÊNCIA.
As pessoas sãs abandonaram o movimento. Só ficaram as pessoas mais amalucadas e com interesses combativos, cujo objetivo é "a luta em si". As pessoas sãs estão fazendo ciência.

Daí, sem ter PELO QUE lutar, INVENTAM MODA.
E boa parte desta invenção de moda é uma reação à IMPESSOALIDADE da ciência. No dia-a-dia as instituições científicas não querem saber do seu sexo, sexualidade, cor da pele, personalidade, música preferida, etc... é um mundo frio, metódico, burocrático e impessoal.
Um paper tem dezenas de autores. Quando muito, um deles será lembrado daqui 30 anos... e de cada centena que ainda for lembrado daqui 30 anos, um terá uma biografia publicada... É trabalho duro cujo destino é o esquecimento (como todo outro trabalho).
Há um pessoal que deseja demais que seus detalhes biográficos sejam expostos ao público. Em tempos nos quais Justin Bieber lança biografia antes de ter pelo no saco, acontece de haver muita gente assim... E gente que está mais interessada em auto-promoção do que em ciência...
... tende a ser atraída pelos movimentos que já não tem mais causa para existir. E sem causas concretas, inventam moda.

Daí essa de "apagamento" e "invisibilidade" da mulher no mundo científico (onde numericamente já são maioria), justamente porque a ciência sadia é IMPESSOAL.
Sendo impessoais, as instituições Acadêmicas e científicas não querem saber do seu sexo (ou cor de pele, sexualidade, etc), porque isso é IRRELEVANTE para seu trabalho — e só seria relevante em uma futura biografia, que muito provavelmente interessa a NINGUÉM.
Mas as instituições Acadêmicas e científicas foram administrativamente assaltadas por estes ativistas egocêntricos e narcisistas, que repudiam a NECESSÁRIA impessoalidade da Academia e da Ciência

Estas pessoas erodem as conquistas dos PIONEIROS, mulheres, negros, homossexuais...
... que muito fizeram para promover IMPESSOALIDADE e MERITOCRACIA nas Instituições, de modo que QUALQUER PESSOA interessada e capaz seria avaliada não segundo detalhes biográficos, mas de acordo com a QUALIDADE DE SEU TRABALHO.
E toda a sociedade se beneficiou desta enorme conquista, da imposição de impessoalidade e meritocracia nas Instituições Acadêmicas e científicas. Conquista que sequer tem 100 anos, e que os ativistas já tanto fizeram pra destruir seu legado.

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