Uma das perguntas que mais me fazem é se o lockdown funciona. As pessoas pensam como algo binário, lockdown vs tudo normal. Aí comparam países como se fosse sim ou não. Nenhum país está completamente “normal”. A intensidade das medidas varia e tem muito mais. Segue:
Por exemplo, a polêmica Suécia que muitos colocam no não lockdown. Eles tiveram acertos e erros, como todos os outros. O maior acerto foi entender que a luta é uma maratona e não 100m rasos. Em maio o PM foi claro em dizer que não estava tudo normal google.com/amp/s/www.forb…
Sugiro também a entrevista com Anders Tegnell sobre a estratégia Sueca. Destaco: “it is not going to be a short-term kind of thing, ... we’re going to have to handle for a long time into the future and we need to build up systems for doing that” ft.com/content/5cc92d…
Outros usam 🇫🇷, 🇪🇸, 🇮🇹 e 🇬🇧 como exemplos de que lock down não funciona. A questão aqui é timing, como a progressão é exponencial, 5 dias podem fazer toda a diferença, e nestes países a intervenção inicial veio tarde. Ver painel b abaixo. science.sciencemag.org/content/369/65…
Além disso, não é só distanciamento ou lockdown, tem quarentena de contatos, isolamento de casos, testes e outras medidas para tirar o vírus de circulação. A Coreia do Sul é um exemplo onde isso ajudou. sciencemag.org/news/2020/03/c…
Tem também coisas como as mascaras. Mesmo com uso por apenas parte da população, o impacto pode ser substancial. sciencedirect.com/science/articl…
Mas eu sempre respondo que é mais complexo tentar isolar cada efeito pois eles dependem da dinâmica local. Fechar igrejas pode ter impacto diferente em cidades diferentes, por exemplo. Por isso, não da para falar de lockdown sim ou não... nature.com/articles/s4158…
Ainda assim temos outros aspectos de grande influência como os superdisseminadores. A redução destes eventos é mais simples e pode ter mais efeito que outras medidas. Vide o evento recente do STF. Detalhes aqui:
Como muitos casos não transmitem para ninguém é preciso um grande número de casos para semear o virus. Isso não tem sido valorizado. O controle de viagens com fechamento de fronteiras, quarentena na chegada, testagem e questionários é essencial para controlar a semeadura do vírus
E isso não vale só para países. Uma das grandes falhas dos países continentais foi o não fechamento de fronteiras internas em Brasil, Rússia e EUA. Lembrem que a Austrália e China fecharam.
Em abril comentamos da necessidade de cordão sanitário nas cidades de SP, RJ, Manaus e São Luís. Vale a leitura da importância de fechar fronteiras como N.Y. fez nos EUA e como Austrália e China fizeram.
Neste texto fica clara a falta que uma coordenação nacional fez. Mais um espetáculo de ilustração gráfica do NYT. nytimes.com/interactive/20…
E ainda assim não é tudo. Como estamos muito integrados, até o relaxamento das medidas precisa ser coordenado. De novo, quanta falta faz uma coordenação central nos continentes (nem a Europa fez direito) ou em países continentais como Brasil ou EUA. science.sciencemag.org/content/369/65…
Por isso, quando me perguntam se lockdown funciona eu pergunto qual sua definição de lockdown e qual o cenário alternativo. Porque sim, funciona mas depende de como é feito, por quanto tempo, quais outras medidas implementadas, integração com vizinhos e estratégia de saída.
Porque como tudo na vida, para funcionar tem que ser feito direito.
E também como quase tudo na vida não tem solução mágica. Ou se tem estratégia e plano ou se perde o jogo com movimentos táticos reativos e tardios tentando apagar incêndios.
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Ao menos em SP a piora da situação da covid-19 esta ficando bastante clara. Aumento consistente nas internações chegando ao maior numero de *novas* internações desde Outubro.
Os números sao muito menores que nos piores momentos de 20 e 21, mas o que importa é a direção.
Nesta intensidade de aumento, mais de 30% em 2 semanas, o impacto pode se tornar importante.
Ano passado quando esta tendência foi identificada muitos chamaram de fake news, durou duas semanas para ficar claro o problema.
E antes que a discussão seja “agora é mais leve” estes números sao novas *internações*, não casos. Caso leve não interna.
Depois de 2 semanas temos dados da Omicron que sao menos especulativos e ja da para dizer alguma coisa.
Um pouco sobre a minha interpretacao do que importa ou nao.
A variante B.1.1.529 ou Omicron foi encontrada na africa e esta se tornando predominante por la. Ja foi identificada em varios outros paises.
O que importa: 1. Infecta / Transmite mais? 2. Mais grave / interna / morre mais? 3. "Escapa" da imunidade anterior (vacina ou natural)?
Como quantificar o impacto da COVID-19 em mortes? Vários dados tem sido utilizados, mas em demografia a expectativa de vida é um dos mais utilizados.
Estudo recente publicado no international journal of epidemiology fez uma análise em 29 países (academic.oup.com/ije/advance-ar…)
Como esperado, o impacto foi muito grande e foi muito variado entre os países.
Na ilustração abaixo a expectativa de vida ao nascer (esquerda) e aos 60 anos de idade (direita), para mulheres e homens.
Em muitos paises voltamos a expectativa de vida de antes de 2015.
Mais interessante é a mudança em 2020 quando comparada a média 2015 a 2019.
O ganho médio era de 0,2 a 0,3 por ano.
Países com bom controle da pandemia (topo da figura) mantiveram a tendência.
Os da parte inferior chegaram a perder quase 2 anos de expectativa de vida (EUA).
O padrão de aumento da mortalidade para COVID no leste europeu com a chegada do outono tem sido bastante preocupante.
O aumento é consistente em vários países da região e continua aumentando em quase todos eles.
Em alguns a mortalidade ja se compara aos piores momentos dos picos anteriores, enquanto que em outros ainda é um aumento mais comedido.
Com certeza um fator de destaque da região é que a taxa de vacinação da maioria é relativamente baixa, apesar de passar de 60% em alguns paises.
Hoje ficou com imensa vergonha do vigilância epidemiológica do estado de são paulo.
Minha paciente de 83 anos com um TEP relacionado a vacina da AZ. documentado. 1. Quase impossível notificar. Péssimo serviço. 2. O CVE acha que tem que dar a 2a dose.
É muita falta de experiência clínica expor novamente a paciente a algo que pode ter levado a um evento potencialmente fatal por incerteza do vínculo epidemiológico completo.
O PRIMEIRO PRINCÍPIO DA MEDICINA é “não faça o mal”.
Uma dose, uma paciente, por que é tão difícil?
Que puder por favor ajude a divulgar e compartilhar, quem sabe pressão social da um pouco de bom senso a esses malucos.
É óbvio que a única alternativa da paciente é ficar com vacinação incompleta aos 83 anos, ou alguém tomaria novamente algo que pode matar? @jdoriajr